• Carregando...
Cenário de Nômades  cria vida na metade do espetáculo – que, em Curitiba, ocupou o Guairão. | Divulgação
Cenário de Nômades cria vida na metade do espetáculo – que, em Curitiba, ocupou o Guairão.| Foto: Divulgação

O Brasil será representado na República Tcheca por trabalhos de Curitiba durante um importante evento de design ligado à encenação. De 18 a 28 de junho, a 13ª Quadrienal de Praga terá uma mostra com 30 criadores brasileiros, além da participação de outros 50 países, todos voltados para pensar e repensar os aspectos visuais e sonoros das artes cênicas.

  • Esta Criançaocupa a lateral do palco, numa mudança de perspectiva pensada por Fernando Marés. Foto: Divulgação
  • Instalação de Nadja Naira homenageia a lâmpada incandescente. Foto: Divulgação

Duas montagens com participação da Companhia Brasileira de Teatro, de Marcio Abreu, serão tema no estande brasileiro. O curioso é que cada expositor recebeu uma esfera metálica de 30 centímetros de diâmetro para lá dentro inserir seu trabalho. Cada profissional recebe uma dessas bolas “mágicas” para mostrar, como quiser, um “pensamento” relacionado à criação selecionada. O visitante da mostra enxerga tudo isso através de um orifício.

Nômades, apresentada no último Festival de Teatro, foi repensada de forma brilhante, com o perdão do trocadilho, por Nadja Naira. O espetáculo coloca em cena as estrelas globais Andrea Beltrão, Mariana Lima e Malu Galli. Em meio às paredes negras da “caixa preta” do teatro e do texto que contempla o horror da morte, elas trazem uma vitalidade contagiante. E o cenário, lá pelas tantas, cria vida e se revolta.

Essa criação foi relida por Nadja, que é a iluminadora do espetáculo, pelo prisma de seu relacionamento com um ser inanimado. “Uma grande amiga, uma atriz brilhante, morreu! A lâmpada incandescente, a estrela que transformava tudo, está morta!” Esse é o princípio por trás da microinstalação que ela fará no espaço interno de sua esfera.

Burocracia

A praga da burocracia virou tema para uma maquete que aborda as relações do homem com seu entorno, usando muitas caixas, papel e o frio metal. O material de alunos da FAP também irá a Praga.

Pensando no enredo da peça, em que três amigas lamentam a morte de uma integrante do grupo, enquanto filosofam, cantam, brigam e amadurecem, Nadja quis homenagear a antiga lâmpada tradicional, que hoje foi substituída nos cenários de teatro por questões ambientais. Iluminadora experiente, ela trabalhou muito com essa “amiga”, mas hoje a opção é a lâmpada fluorescente ou o led – que ela coloca na esfera para “iluminar” a velharia, deitada sobre um tapete vermelho.

Palco lateral

Caminho diferente escolheu Fernando Marés, que fez o cenário de Nômades e também de Esta Criança, primeiro espetáculo da Brasileira estrelando Renata Sorrah. O texto do francês Joël Pommerat foi encenado “de viés”, usando uma metade do lateral do palco e explorando sua profundidade. “Deslocamos a maneira tradicional de ver o teatro, que é frontal, numa espécie de provocação”, explica Marés.

Para apresentar esse cenário em Praga ele escolheu uma frase singela que poderá ser lida pelo visitante através de um olho mágico instalado na esfera. “A arte não esgota a imagem”, sustenta o criador, que mora em Florianópolis. Para ele, a sentença diz muito sobre o teatro e a ideia de representação da realidade nas artes.

“O convite é um reconhecimento, já que sou um cenógrafo que atua partindo de uma margem, da província curitibana. Essa experiência busca os sintomas do nosso ‘fora do eixo’ com o mundo grande, alargado e que se reflete em Praga. Essa é a nossa singularidade e o diálogo permanece vivo por isso.”

Alunos

Os dois artistas irão a Praga expor seus trabalhos e participar do evento. “Será uma oportunidade de me atualizar”, espera Nadja.

Outra iluminadora da cidade, Nádia Luciani, levará igualmente uma esfera com uma proposta sua. Seu trabalho faz um “resumo visual” do conceito da montagem da peça “O Inoportuno”, de Harold Pinter, com direção de Enio Carvalho e atuação de Rafael Camargo, Zeca Cenovicz e Dimas Bueno, realizada em 2013 em Curitiba. “Procurei colocar dentro da esfera o universo lúdico do espetáculo através de elementos representativos da cenografia e da luz, além de algumas imagens da peça escolhidas por apresentarem diferentes momentos do projeto de iluminação”, contou Nádia à reportagem. O resultado lembra um cenário em miniatura.

Na obra, a estética expressionista procura fazer alusão à passagem do tempo, porém sem lembrar uma narrativa linear ou cronológica. Inclui ainda a representação de janelas, combinando luzes de vários ângulos e cores.

Trabalhos acadêmicos de cenografia realizados pela UTFPR e Faculdade de Artes do Paraná (FAP) também serão expostos em Praga numa mostra estudantil da qual participam alunos de todo o país.

Saiba mais no site do evento.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]