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Ray Bradbury: escritor, morto no ano passado, imaginou um futuro que ia de 1999 a 2026 | Divulgação
Ray Bradbury: escritor, morto no ano passado, imaginou um futuro que ia de 1999 a 2026| Foto: Divulgação

Biografia

Autor misturou política à fantasia futurista

Nascido no estado de Illinois em 1920, de ascendência sueca, o escritor Ray Bradbury é um dos grandes nomes da literatura de ficção científica mundial. Em seus mais de trinta livros, o escritor caminhou da poesia ao horror e consolidou-se como uma referência na ficção científica, com narrativas com forte e crítico conteúdo político. Também escreveu roteiros de cinema e peças de teatro.

Alguns de seus livros se tornaram clássicos absolutos, como As Crônicas Marcianas (leia trecho ao lado) e Algo Sinistro Vem por Aí, sobre um grupo de meninos que enfrentam seus medos representados por monstros de um parque de diversões itinerante. Outro destaque é Farenheit 451, escrito em 1953. Bradbury conta a história de um tempo em que os bombeiros se convertem em mantenedores da ordem social e incendeiam livros ou qualquer publicação que transmita informações.

Em lugar de prateleiras, as paredes das casas possuem telas gigantes que exibem cenas de outras famílias, com as quais podem conversar. O livro, adaptado para o cinema em 1966 pelo cineasta francês François Truffaut, é uma metáfora crítica de regimes políticos opressores e anteviu transformações sociais simbolizadas hoje pelos reality shows.

O autor morreu no ano passado, em Los Angeles, de causas não divulgadas.

"… Nós terrestres, temos um enorme talento para arruinar coisas grandes e belas. A única razão pela qual não instalamos barracas de cachorro-quente no templo egípcio de Karnack foi porque estava fora da estrada ou não oferecia grande oportunidade comercial. E o Egito é uma pequena parte da Terra."

Trecho de As Crônicas Marcianas.

  • A Cidade Inteira Dorme e Outros Contos Ray Bradbury. Tradução de Deisa Chaves. Biblioteca Azul/ Globo Livros, 192 págs., R$ 34. Contos
  • As Crônicas Marcianas Ray Bradbury. Tradução de Ana Ban. Biblioteca Azul/ Globo Livros, 296 págs., R$ 39. Contos

Ray Bradbury (1920- 2013) foi o escritor que transformou em cotidiano os piores pesadelos da humanidade com o desconhecido. Algo que se pode comprovar com o relançamento de dois de seus clássicos livros de contos de ficção científica com temas extraterrestres: As Crônicas Marcianas e A Cidade Inteira Dorme.

Nos textos de Bradbury não há armas a laser, grandes naves interplanetárias ou criaturas bizarras. Nos mundos criados pelo autor, os planetas têm a atmosfera modorrenta e obscura das cidadezinhas do meio-oeste americano. Os textos falam de donas de casa marcianas que bebem "fogo elétrico", colonizadores terráqueos que recebem comida congelada de "icebergs voadores" e um jardineiro que planta árvores em Marte, para inundar de oxigênio a atmosfera rarefeita.

Com muito bom humor, suspense e um futurismo retrô, o autor faz uma afiada crítica à sociedade americana pós-guerra. Somada a seu texto conciso e coloquial, que mistura elementos da filosofia e poesia, ela aproxima da realidade algumas das fantasias mais delirantes criadas por sua mente – e que o tempo tem conseguido mostrar como mais reais do que pensávamos.

Em uma resenha publicada no jornal literário Rascunho, o escritor Luiz Bras definiu a simplicidade cortante do autor.

"Ray Bradbury passou a vida toda convencendo a si mesmo e a seus leitores de que o mundo pode ser muito mais fascinante do que realmente é. Porém, fascinante do modo mais simples, sem recorrer à complexidade discursiva de um Faulkner ou de um Nabokov. Seus contos são janelas suaves e descomplicadas para todo tipo de país das maravilhas, do mais bizarro ao mais sublime."

Pulp fiction

Os 26 contos de As Crônicas Marcianas são ambientados em um período do "futuro", entre 1999 e 2026, e falam da estranheza recíproca que resulta do choque cultural entre terráqueos e marcianos. As narrativas foram publicadas originalmente em revistas "pulp fiction" americanas no final da década de 1950. Reunidas em livro pela primeira vez na década de 1960, podem ser lidas como um romance fragmentado ou uma sequência conceitual de contos.

Trazem em seus corpos duas facetas do espírito daquela época: a paranoia de uma possível ameaça atômica na Guerra Fria, que poderia exterminar a vida na Terra, e uma linguagem pop informada pela estética em quadrinhos e um incipiente pendor para o psicodelismo que iria explodir na década seguinte.

Bradbury imagina um futuro em que a colonização do planeta Marte, empreendida para que a Humanidade continuasse existindo, em busca de recursos naturais e empregos, é descrita como uma divertida mistura de um cotidiano curioso e uma dramática crítica da vida social e da tendência do homem a estragar as coisas de que mais precisa.

O mesmo acontece com A Cidade Inteira Dorme, em que o autor passeia entre o terror psicológico e o humor negro para criar um mundo alternativo em que a alegoria e a banalidade andam de mãos dadas.

Em um dos textos, por exemplo, um padre e um rabino discutem sobre a vinda do Messias num mundo cheio de marcianos. Em outro, uma velhinha deseja ver Deus de perto e é ludibriada por um agente de turismo, que lhe vende um bilhete para um foguete enguiçado.

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