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 | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

LANÇAMENTO

Guia Politicamente Incorreto do Futebol

Leonardo Mendes Júnior e Jones Rossi. Leya, 416 págs., R$ 39. Amanhã ás 19h30 sessão de autógrafos e bate-papo com os autores nas Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigui (Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza nº. 600, Mossunguê). Entrada Gratuita.

Seja em mesas-redondas ou de bar, arquibancadas de concreto ou cadeiras padrão Fifa, não importa: o papo sobre futebol nunca mais será o mesmo. O livro "O Guia Politicamente Incorreto do Futebol", escrito pelos jornalistas curitibanos Leonardo Mendes Junior, colunista e repórter da Gazeta do Povo, e Jones Rossi, produtor da RPC TV, que será lançado nesta terça às 19h30 nas Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigui vai na contramão das "verdades" repetidas desde que a bola rolou no país.

Com um trabalho amplo de pesquisa, mitos como Friedenreich, o racismo no futebol brasileiro, o futebol-empresa são iluminados. Personagens nefastos como Zagallo e Ricardo Teixeira, redimensionados. "Queridinhos" da imprensa como a seleção de 1982 e a "Democracia corintiana", analisados sem paixão. Sobra até para o famoso canoli da Rua Javari, a iguaria italiana servida no estádio do Juventus de São Paulo tido como o último bastião do futebol romântico. "Superestimado. Aquela canoli não é grande coisa", disse Leonardo Mendes Junior.

A Gazeta do Povo conversou com a dupla de autores sobre pontos da obra que chegou para causar polêmica um mês antes da Copa do Mundo:

Gazeta - Da onde nasceu a ideia de fazer o livro?

Jones Rossi

Numa mesa de bar em que estava eu, o Leonardo Mendes e o Leandro Narloch (jornalista criador da franquia de livros Guia Politicamente incorretos) em São Paulo. Eu falei de fazer um livro da história das Copas e conversamos sobre algumas ideias. Ele ouviu e deu a impressão que tinha deixado pra lá. Passado um ano, ele nos procurou e perguntou: vocês topam fazer? Aceitamos na hora.

Leonardo Mendes Junior

Tivemos que provar que tínhamos assunto suficiente. O ponto de partida foi puxar da memória histórias do futebol que a gente ouve desde que nasceu. Disso tudo, vimos onde tinham futuros. E assim a gente foi fechando um pacote de mitos que achávamos que dava pra derrubar e outras coisas a gente viu que tinha que pesquisar. Assim, a gente fechou a escalação.

Gazeta - Porque a história do futebol é tão mal contada e tão cheia de mitos?

L: Porque é uma história basicamente oral. Vai passando de pai pra filho, de geração pra geração em mesas de bar, nas arquibancadas e as pessoas a tomam como verdade e a passam para frente. E a imprensa também entra nessa, principalmente em debates e mesas-redondas onde você tem que dar uma resposta rápida para tudo. A primeira coisa que vem na cabeça é o lugar comum e assim a coisa vai virando verdade absoluta.

Gazeta - Na pesquisa alguma informação os surpreendeu?

L: Alguns temas se apresentaram maiores que a gente imaginava. A história do Barcelona é um exemplo. A gente já sabia que não era este "clube santo" que o senso comum vende, mas a pesquisa mostrou o quanto o clube conseguiu crescer durante a ditadura franquista e o quanto ele virou um instrumento político ao fim da ditadura.

J: A maior parte da pesquisa estava documentada em livros. O caso do Zagallo (jogador e técnico tetra campeão mundial) por exemplo. Na própria biografia do João Saldanha (ex-técnico da seleção e jornalista) há depoimentos de jogadores que absolvem Zagallo de ser marionete da ditadura. Nós vimos documentários, revimos muitos jogos. Todos os do Brasil e todos os da Itália na copa de 1982, por exemplo. Um dia destes assisti a um programa de TV e um jornalista de renome afirmou que a seleção de 1982 era melhor que a de 1970. Isto depõe contra a sanidade mental do sujeito. A seleção de 82 perdeu porque merecia perder.

Gazeta - Porque algumas história e pessoas são tão romantizadas no futebol?

L: A gente por profissão respeita a paixão, mas temos que separá-la do fato. Entendo porque para várias pessoas 82 seja maravilhoso: aquela seleção de astros, o país num ambiente de abertura política. Foi um momento especial que a gente não nega nem diminui. Mas isso não faz com que ela seja maravilhosa e perfeita, porque não era. Na mesma linha, para muitas pessoas o ano de 1994 não foi uma maravilha, a seleção tetracampeã não traz as melhores lembranças, mas você não pode tratar aquela seleção como a uma campeã injusta. Não foi. Era uma seleção que tinha méritos e influenciou muito o jogo da Espanha a atual campeã mundial que tanta gente bate palma. Jogava igualzinho.

J: O Zagallo provoca na imprensa um rancor incrível. Parte dela, a que tem um viés esquerdista, trata o Zagallo como um cara ligado a ditadura e tenta desqualificá-lo. Para atingir ele, muitos acabam desqualificando a seleção. Este tipo de bobagem é perpetuada e o povo nem sabe de onde tira.

Gazeta - Vocês provam na ponta do lápis que o futebol não é esse negócio bilionário que se imagina...

J: Uma rede de supermercados que atua só no Piauí e no Maranhão, dois dos estados com o menor índice de desenvolvimento humano fatura mais por anos que os três maiores clubes do Brasil juntos. Mundialmente também. A última empresa do ranking das 500 maiores dos EUA é sozinha maior que os nove maiores clubes do mundo.

Gazeta - Outro mito que vocês atacam é o da inclusão dos negros no futebol brasileiro?

J: O que abriu o futebol para o negro não foi questão antropológica, nem benevolência. Foi a grana

L: Tem-se a ideia, que não é de todo falsa, que o modernismo no começo dos anos 1920 foi o impulso principal para reconhecer o brasileiro como ele realmente é e isto criou a centelha que acabou com o racismo no futebol brasileiro. Porém, ao razão principal foi o dinheiro. Era mau negócio. Para ter estes caras que jogavam muito bem. Para ter craques, você precisava abrir a cortina racial.

Gazeta - O que a democracia corintiana tem a ver com George Orwell?

J: Foi a mesma coisa que aconteceu com a Revolução dos Bichos (livro do escritor inglês publicado em 1945, que criticava a revolução soviética). O grupo que tomou o poder passa a mandar nos outros. Todos somos iguais, mas uns são mais iguais que os outros. Alguns jogadores tomaram o poder. E para quem não rezasse na cartilha deles tinham inclusive o pogrom , o expurgo:. Foi o caso do Rafael Camarotta (ex-goleiro do Atlético e do Coritiba entre 1982 e 1992), que era um cara de personalidade forte e foi colocado para fora da panela. Usaram a estratégia de desqualificar a pessoa e disseram que ele era racista, arrogante.

Gazeta - Vocês desfazem alguns mitos do futebol da antiga como Friedenreich e Charles Miller. As figuras reais são mais interessantes que as lendas?

L: No caso do Friedenreinch, a história dele é muito melhor que o mito. Se você for olhar para o número real de gols, ele fez menos que o túlio Maravilha. O que pode ser demérito para alguns. Mas ele era um cara boêmio, mulherengo, vestia-se como um malandro algo que os boleiros fazem até hoje. Ele era um jogador pragmático, um tanque e não o estilista romatizado que entrou para a história. Mas ainda é um grande personagem, melhor que o mito do maior artilheiro da história.

Gazeta - Atacando ídolos e instituições sagradas, vocês não temem uma reação contrária de classe dos jornalistas esportivos?

L: Democracia é isso. A gente pensou, pesquisou e escreveu. Qualquer um pode discordar. Mas a gente não escreveu para agradar ninguém. E sim para mostrar que tudo que você sempre ouviu sobre futebol não é bem assim. A ideia é botar algumas coisas em seus devidos lugares e lamentar a discussão que hoje é levada ao extremo: ou não se discute ou se parte para a ignorância. Tentamos trazer um pouco de razão para este debate.

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