• Carregando...

Interessa a Domingos Pellegrini explorar os pequenos momentos da vida. Numa frequência menos agitada, quase bucólica, ele se mostra como um cronista que se coloca deliberadamente para fora do eixo urbano, vulgo contra a velocidade de tudo. Seu existencialismo é direcionado aos pequenos filmes cotidianos e pinta uma vida quase à moda antiga. Em "Pequenices", terceiro livro da série Gazeta do Povo Literatura Paranaense, o autor londrinense divide seu repertório de impressões sobre as miudezas: há espaço para cebolas, mandiocas, milho, os problemas da manteiga congelada, a forma pessoal de ler o jornal do dia, até ficamos sabendo de sua cirurgia de fimose.

Dotado de singeleza quase excessiva, a obra soa, talvez de propósito, um tanto fora do tempo contemporâneo. O destaque da coletânea fica por conta da comovente crônica com ares de conto "Três Reis", a narrativa do encontro de lixeiros com um "material" diferenciado:

"[...] Diante de um casarão, que sempre bota muito lixo na rua, há uma pilha de sacos e eles vão pegar, mas, quando o primeiro pega o saco de cima da pilha, param os três diante de um nenê chorando, ali no meio dos sacos preto, como num berço de plástico. Cada um olha os outros, para ver se também estão vendo isso, e agacham juntos como se tivessem ensaiado. É um nenê."

De sua chácara, o contador de causos reage à vida e realiza um convite informal à leitura ou a um café qualquer hora dessa. Cronistas são assim. GGG

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]