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Newark, cidade natal de Philip Roth: berço suburbano | Divulgação
Newark, cidade natal de Philip Roth: berço suburbano| Foto: Divulgação

Trajetória

Saiba mais sobre a trajetória de Philip Roth

1933

Nasce, no dia 19 de março, em Newark, na Nova Jersey.

Estudo e ensino

Estudou em sua cidade natal e frequentou a Universidade de Bucknell e a Universidade de Chicago, onde completou seu mestrado e ensinou Inglês. Nas universidades de Iowa e Princeton, ensinou Escrita Criativa, e por muitos anos lecionou Literatura Comparada na Universidade da Pensilvânia.

Estreia

O primeiro livro de Roth, Adeus Columbus, de 1959, empolgou a crítica, rendeu um prêmio, o National Book Award de ficção.

Consagração

Mas Roth se tornaria, definitivamente, um escritor conhecido, principalmente com muitos leitores (além do endossamento crítico), devido a O Complexo de Portnoy, de 1969 (leia mais na página 2), que ainda hoje, depois de 30 livros publicados, é tido por muitos de seus admiradores como a sua mais complexa e perfeita obra.

1977

Recebe o Prêmio Pulitzer pelo romance Pastoral Americana.

Coleção de prêmios

Com o passar do tempo, Roth iria acumular prêmios. Em 1998, recebe a Medalha Nacional das Artes na Casa Branca e, em 2002, conquistaria a mais elevada premiação concedida pela Academia Americana de Artes e Letras, a Medalha de Ouro de Ficção. Ganhou duas vezes o Prêmio Nacional do Livro e o Prêmio do Círculo Nacional de Críticos Literários. Em 2007, ganhou o Prêmio PEN/Faulkner pela terceira vez e, ainda, o primeiro PEN/Saul Bellow.

No Brasil

Obras de Philip Roth disponíveis no Brasil, todas elas editadas pela Companhia das Letras: Adeus Columbus (Edição de bolso), O Animal Agonizante, O Avesso da Vida (Edição de Bolso), Casei com um Comunista, O Complexo de Portnoy, Complô Contra a América, Entre Nós (não-ficção), Fantasma Sai de Cena, Homem Comum, Indignação, A Marca Humana, Pastoral Americana.

O Teatro de Sabbath e Operação Shylock, anteriormente disponíveis, estão esgotados.

2009

Atualmente, Roth vive em Connecticut.

Fontes: Philip Roth Society e Companhia das Letras.

Nova York - É um dia de aula. Crianças saem em bando da Escola de Ensino Médio Weequahic e da escola de ensino fundamental ao lado numa grandiosa tarde de outubro, berrando planos e até-logos sob o céu de um azul intenso. Com olhos um pouco estrábicos, você pode ver o que Philip Roth viu décadas atrás quando era um jovem rapaz.

No romance Complô Contra a América, publicado por Roth em 2004, o bairro de Weequahic dos anos 30 e 40 é um paraíso autossuficiente, uma preservação cultural para alguns, um gueto para outros. Hoje em dia, cruzando a rua da escola em direção à Avenida Summit, se encontram casas de madeira quase idênticas de dois pisos, telhados triangulares e degraus de tijolos vermelhos, incluindo a segunda na Avenida Keer, a antiga casa de Roth. Bato a campainha e a porta se abre.

"A dona da casa não está", explica uma senhora negra, muito educada e um pouco assustada. "Volte quando ela estiver e poderá falar com ela."

E Philip Roth?

"Não sei nada dele", ela diz.

Quem pode culpá-la? Os judeus de Weequahic – os problemáticos, brigões de pés-em-dois-mundos da ficção e juventude de Roth – se foram, impulsionados por sua ascensão social e pelas rebeliões de 1967. O bairro foi poupado do pior, mas as revoltas afugentaram os comerciantes quando as lojas em outros locais da cidade foram saqueadas num ataque de fúria atávico. Os brancos, incluindo os judeus, ficaram assustados e partiram. Gradualmente os negros se tornaram a maioria. O que restou é ainda uma bairro de pessoas com esperança de mobilidade social mas a Avenida Chancellor, o coração de Weequahic, não tem mais viabilidade comercial. Vire na esquina errada, dizem alguns dos moradores, e outro tipo de comércio, furtivo e transitório, estará acontecendo.

Ao sul de Newark, atrás do aeroporto, Weequahic era um lugar almejado. Os judeus chegados recentemente economizavam nos apartamentos simples no Terceiro Distrito de Newark e depois, mudando-se para Weequahic no alto da colina, juntavam-se ao círculo mais inferior da classe média.

Hoje em dia, a cidade tem seu charme – um relativamente novo centro de artes, uma liga de beisebol de segunda divisão e o incomparável banquete carnívoro do Ironbound –, mas a Newark dos livros de Roth não é mais que a memória compartilhada por todos que viveram lá um dia.

"Em alguns lugares nas cercanias do bairro, ainda é possível ver como era antes", Roth disse numa entrevista. "Mas à medida que entro na cidade, vejo apenas um deserto. Só muito vagamente se percebe o que costumava ser."

Newark serviu de pano de fundo para muitos dos livros de Roth – Complexo de Portnoy, Pastoral Americana, Casei Com Um Comunista – e ele diz que essa evocação é mais do que um jogo de memória.

"É parte integrante e indissociável do livro", afirma. "Eu quero que esses lugares pareçam verdadeiros e quero ser o mais preciso que puder ao apresentar o cenário social." (Numa de suas fotos para a divulgação de seus livros, o autor aparece diante do mapa de Newark.)

Na ficção, o efeito é, com frequência, sobrenatural, devido ao quanto a cidade e o bairro de Weequahic mudaram. Alguém que refaça os passos do jovem protagonista de Complô Contra a América não precisa se esforçar muito para ouvir os ecos. O Orfanato de São Pedro, um prédio da igreja católica que ocupava quase quatro quadras num bairro judeu, não existe mais. Mas, descendo a Avenida Gold­smith perto do antigo orfanato, quase se ouve Alvin, o primo mal­­vado de Phil, cantando os números num jogo de dados.

Pegue à direita na Rua Hobson e surge na mente uma cena do livro em que um investigador do FBI interroga Phil sobre o primo. Pare na cerca do terreno do velho orfanato e você quase pode ver os cavalos que pastavam ali.

Elliot B. Sudler, um farmacêutico aposentado, lembra dos Roth e dos cavalos. Certa vez, num ato de ousadia, ele pulou a cerca e montou em um dos cavalos. "Não conseguia descer", ele recorda. "Fiquei em cima daquele cavalo por uns 15 minutos antes de conseguir descer."

Num dos momentos cruciais do livro, o jovem Roth entra naquelas dependências dos cavalos no escuro e paga caro por isso.

Sudler estava alguns anos mais adiantado que Roth na escola de ensino médio de Weequahic, mas se lembra bem dele. "Ele era um sonhador, do tipo pálido", afirma Sudler. "Não se guiava pelo fatos mas sempre parecia saber o que ia acontecer."

Bem no alto, na Avenida Chan­­celor, fica a escola fundamental em cuja Associação de Pais a mãe de Roth trabalhava e a escola secundária que atendia a comunidade. Num sábado recente, Joe Komp, o zelador da escola secundária, está esperando uns times chegarem ao campo. Ele abre a porta da escola e revela uma maravilha de art déco, construída em 1932 (pelo Programa de Traba­­lha­dores De­­sempregados durante a Grande Depressão), com mu­­rais, mármore e piso de cerâmica. Uma placa homenageando os homens que morreram na Segunda Guerra Mundial – homens com sobrenomes como Pollack and Greenberg – confirma que o romance de Roth é um horrível vôo de imaginação.

A escola ficou famosa pelo excelente time de basquete e intenso programa de bolsa de estudos. No anuário de sua escola, A Lenda, Philip Roth, 16 anos, é descrito como "um garoto de muita inteligência, combinada com discernimento e bom senso". Ele é o mais famoso, mas entre os ex-alunos há executivos, juízes, doutores e rabinos.

Jack Kirsten, juiz aposentado, vive agora em Short Hills, Nova Jersey. Era vizinho dos Roth quando eles se mudaram para Leslie Street em 1942, depois que o proprietário aumentou o aluguel em Summit.

"Quando eu li O Complexo de Portnoy, tudo me era familiar", conta o juiz Kirsten. "Eu dei o livro para minha mãe e ela disse: ‘Não posso entender por que um bom menino judeu escreve um livro sujo desses’. Philip escreveu uma carta para ela explicando que seu latido é pior que sua mordida."

Depois que os pais de Roth se mudaram para Elisabeth, ele passeava de carro pelo bairro em várias visitas, além de voltar outras vezes para observar enquanto escrevia Complô Contra a América.

Roth disse que o bairro não é mais integrado como costumava ser, pois trechos da Autoestrada 78 e Garden State Parkway dividem as ruas. "O bairro foi destruído pelas rodovias como todo o resto", afirmou.

No alto em Summit, as recordações permanecem. Em Complô Contra a América, Phil vê seu bairro com novos olhos depois da chuva, o que o leva a fazer uma promessa que não consegue manter: "Tingida pela luz clara depois da tormenta, a Avenida Summit estava tão brilhante quanto um bichinho de estimação, meu próprio, sedoso, pulsante bichinho de estimação, lavada por cortinas de água e agora estendida em todo comprimento para refestelar-se em êxtase. Nada jamais me faria deixar isso aqui."

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