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Amanda Amaral dá consistência ao monólogo ao propor reflexões cotidianas, ainda que em meio a devaneios | Chico Nogueira/Divulgação
Amanda Amaral dá consistência ao monólogo ao propor reflexões cotidianas, ainda que em meio a devaneios| Foto: Chico Nogueira/Divulgação

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8º Andar

Casa Selvática Ações Artísticas (R. Nunes Machado, 950 – Rebouças), (41) 3321-3358. 5ª a sáb. às 19 horas. Dom. às 18 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Classificação indicativa: 14 anos. Até 19 de outubro.

Uma mulher vestida de noiva está pendurada no teto, equilibrada num caixote de quase dois metros de altura. Ela dubla "Total Eclipse of The Heart", da Bonnie Tyler, aquele ícone do brega-performático dos anos 1980, enquanto sobe uma fumaça de gelo seco. Assim começa 8º Andar, peça que a Casa Selvática Ações Artísticas apresenta até 19 de outubro. Dirigida e escrita por Roger Batista, o espetáculo é inspirado em uma tentativa real de suicídio de uma jovem chinesa em 2010. Vestida de noiva, a jovem, após o rompimento de seu relacionamento, atirou-se do sétimo andar de um edifício, mas ficou presa no parapeito da janela, o que permitiu que fosse resgatada por um policial segundos depois. "A peça tem esse nome porque foi num 8º andar que a escrevi", esclarece Batista.

No monólogo, a competente Amanda Amaral farda sua personagem de contornos tragicômicos, quase jocosos, lembrando as discussões de Albert Camus sobre a contemporaneidade e o Mito de Sísifo, o sujeito malandrão da mitologia grega condenado a executar sua penitência para sempre. "Nós buscamos, de uma maneira reflexiva, unir o humor com o trágico sem perder o caráter reflexivo das dificuldades da vida humana", diz Batista.

Ao fazer de uma condição-limite seu ponto de partida e um tipo de não-lugar, 8º Andar acerta por um lado, mas erra quando faz da confusão emocional um território para padrões irônicos duvidosos, como nas citações à Cia. do Pagode e seu clássico às avessas "Dança do Strip-Tease". Entretanto, os devaneios e a histeria conferida à noiva funcionam muito bem e contam muito sobre nossas expectativas cotidianas irrealizadas: "Nós procuramos alguém para dividir o amor por nós próprios", alega a personagem em um dos melhores momentos da peça. Em último plano, uma boa especulação sobre o fracasso (e seus ardis).

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