Atores mirins crescem e se mantêm em cena

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"Como vocês cresceram!" Essa é uma das clássicas frases ouvidas por quem visita um parente distante, que não vê há bastante tempo. A mesma afirmação, porém, também é feita ao observar o elenco de uma novela e perceber que atores, até então acostumados a fazer papeis infantis, cresceram e deixaram para trás aqueles rostinhos que, só de aparecer em cena, já provocavam comoção.

Afinal de contas, quem não se emocionava com os olhares de Salete, a garotinha de Mulheres Apaixonadas (2003) interpretada por Bruna Marquezine? E quem não tinha o sonho de se tornar paquita ao ver a adolescente Bianca Rinaldi, hoje no ar em Ribeirão do Tempo(Record), ao lado da Rainha dos Baixinhos no Xou da Xuxa?

O tempo passou, e o telespectador aprendeu a observar o crescimento – físico e profissional – de uma série de artistas, que, embora sejam muito jovens, já ostentam uma longa bagagem no currículo.

Veterana

Juliana Baroni, 32 anos, foi uma dos que começaram cedo na profissão. Aos 11 anos, a garota de Limeira (a 151 km da capital) viu a sua vida mudar completamente. Com essa idade, ela se tornou paquita, um dos postos mais cobiçados pelas meninas brasileiras nas décadas de 1980 e 1990.

De acordo com a atriz, na época, os programas de Xuxa alcançavam audiências altas, semelhantes às das novelas. "Foi uma loucura! Da noite para o dia, eu me tornei famosa. A cidade parou ao saber que uma menina de Limeira havia se tornado paquita. Ao visitar o meu colégio, os professores choravam. Eu via aquilo e não entendia direito. Ficava assustada, pois queria ser tratada normalmente", diz Juliana.

Diferentemente de outras colegas de palco, Juliana, ao sair do programa de Xuxa, em 1995, emplacou uma série de trabalhos em novelas, como em Cara e Coroa (1995) e em Malhação (1998), da Rede Globo. No ano passado, deu vida à ex-primeira-dama Marisa Letícia no filme Lula, o Filho do Brasil. Atualmente, está em Ribeirão doTempo, trama da Record. "Minha família me ajudou a manter os pés no chão. Sempre tive consciência da montanha-russa que é essa profissão", diz a atriz, que, sem titubear, afirma que pulou a fase da adolescência. "Tive uma responsabilidade que ninguém da minha idade tinha."

Fim da infância

Aos 15 anos e trabalhando desde 1999, Bruna Marquezine pontua outra diferença em relação às meninas que estudam com ela. "Queira ou não, a gente amadurece mais rápido. Desde pequena, eu tenho de ir a compromissos profissionais e de decorar textos. Por isso, o tal do amadurecimento acaba acontecendo naturalmente", diz a atriz, atualmente no ar como a Te­­re­­zinha, de Araguaia (Globo). "Eu considero que esse papel será o meu último como criança. A partir de agora, vão me chamar para interpretar adolescentes", avalia.

Bruna se tornou conhecida ao dar vida à pequena Salete, em Mulheres Apaixonadas (2003), e fez muitos telespectadores chorarem ao prever a morte de sua mãe, interpretada por Vanessa Gerbelli. "Quando se é criança em uma no­­vela, você é a queridinha do elenco, qualquer coisa que você faça é bem-vista. Conquista o público graças ao rosto angelical. Tudo começa a mudar quando você vai envelhecendo."

Não à toa, ela sabe que, a partir de agora, o seu reconhecimento – e também a garantia de um papel em projetos futuros – só virá por meio de ótimos desempenhos. Pensando nisso, Thiago Oliveira, 22 anos, chegou à conclusão de que, uma vez mais velho, é preciso se dedicar mais. "Até os 17 anos, eu meio que empurrava com a barriga a profissão de ator. Não pensava em compor um personagem, porque nem era muito exigido. Agora, não. Como meu corpo e minha voz se alteraram, é preciso dar uma cara diferente para cada personagem que pego", analisa. "É engraçado crescer pela televisão. Tenho fãs da minha idade e também mais velhos", diz Bruna. "Nem preciso de um álbum de fotografias. Basta procurar os meus vídeos no YouTube para ver como eu cresci", completa Thiago.

Para quem não se lembra, ele deu vida a Amin Rachid, filho de Mohamed Rachid (Antonio Calloni) e Latifa (Letícia Sabatella), na novela O Clone (2001), atualmente no ar em Vale a Pena Ver de Novo, da Globo.

Precoce

David Lucas, 15 anos, o Lipe de Ti Ti Ti (Globo), trabalha desde 2004. Sabe de sua responsabilidade e tem a consciência de que precisa encarar o trabalho com profissionalismo. Mesmo assim, procura não ter um comportamento muito diferente do dos meninos de sua idade. "Sou moleque, mas sei a hora de levar o trabalho a sério", diz.

Em sua segunda novela – a primeira foi Caminho das Índias(2009) –, Cadu Paschoal, o Pedro, de Araguaia (Globo), do alto de seus 13 anos, aconselha: "Quem quer atuar precisa saber que tem a hora de gravar, de estudar o texto e que, às vezes, pode precisar fazer isso em vez de uma viagem nas férias, por exemplo".

Exemplos de quem fez bem a transição

Bruna, Oliveira, Lucas e Pascoal seguem a cartilha trilhada por uma série de outros atores e atrizes. Aos 5 anos, Gloria Pires estreava na televisão, na trama A Pequena Órfã (1968). Pegando um trabalho atrás do outro, ela viveria, em 1988, a antológica vilã de Vale Tudo, Maria de Fátima.

Atualmente, a atriz está no elenco de Insensato Coração, em que dá vida a mais uma personagem de caráter duvidoso. Outros exemplos são Fernanda Souza e Jonatas Faro, descobertos na novela infantil Chiquititas (1997), do SBT, quando ainda eram crianças. Hoje, ela pode ser vista em Ti Ti Ti, na pele da amalucada Thaísa. Já ele aparecerá em Insensato Coração, da Globo, como Rafa Cortez, um rapaz estudioso e praticante de wakeboard.

A evolução de Deborah Secco como mulher e atriz, considerada uma das celebridades mais sexy do país, também pôde ser acompanhada pela televisão. De moleca adolescente em Confissões de Adolescente (1994), passando pela lolita de Laços de Família (2000), Deborah se tornou um mulherão a partir de Celebridade (2003). Seu bom trabalho fez com que se tornasse protagonista dos folhetins América (2005) e Pé na Jaca (2006). Atualmente, está no ar em Insensato Coração como Natalie Lamour, que faz de tudo para recuperar a fama conquistada em um reality show. E mais: em fevereiro, Dé­­borah protagonizará Bruna Surfistinha, um dos filmes nacionais mais esperados do ano. Para não se perder No meio artístico, é comum ouvir relatos de atores e atrizes que, quando crianças, encantaram plateias e telespectadores e, quando adolescentes ou adultos, saem de cena. Esquecidos, deixam de ser famosos e acabam se envolvendo com álcool ou drogas. No Brasil, isso é raro.

Nos EUA, por outro lado, tornou-se comum. Macaulay Culkin e Lindsay Lohan, entre outros, tiveram suas fotos estampadas em páginas policiais devido ao vício em drogas. "A adolescência é uma fase de mudança mesmo. Talvez seja por isso que os trabalhos diminuem", finaliza, esperta, Bruna.