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Renan (ao centro) e Guilherme Cerqueira (à direita) no pódio de "Carom 3D" | Divulgação
Renan (ao centro) e Guilherme Cerqueira (à direita) no pódio de "Carom 3D"| Foto: Divulgação

Rio de Janeiro – Na programação nacional da 8.ª edição do riocenacontemporânea, o festival internacional de teatro que acontece na cidade do Rio de Janeiro de 5 a 14 de outubro, dois medalhões do teatro brasileiro atraem as atenções. Zé Celso e Antônio Araújo apresentam suas montagens mais recentes, que, pela ousadia de forma e conteúdo, já garantiram seu lugar na história teatral.

O controverso líder do Teatro Oficina traz pela primeira vez ao Rio toda a saga de Os Sertões – série em cinco episódios baseada no livro de Euclides da Cunha. Já Araújo e sua companhia, o Teatro da Vertigem, participam com BR3, na Baía de Guanabara, por onde uma balsa levará o público a assistir à encenação que se passa em barcos.

Os espetáculos dos dois diretores são os "projetos especiais" do riocenacontemporânea, mas há outros destaques na grade da programação do evento, principalmente entre as montagens internacionais.

A mais surpreendente das atrações estrangeiras até o momento veio da Inglaterra, pelas mãos do diretor Tim Crouch – um dos principais nomes da nova cena inglesa. An Oak Tree apresenta uma proposta inusitada. São dois atores no palco: o próprio Crouch e um segundo, um convidado diferente a cada apresentação. Rodrigo Nogueira (ator e autor de Tempo.Depois, destaque da programação do Festival Internacional de São José do Rio Preto) e o global Guilherme Leme foram os escolhidos.

O primeiro encontro entre ator e diretor só acontece uma hora antes do espetáculo. O ator entra em cena desinformado, desconhecendo o texto e o que lhe espera – o que se converte em certa inocência ao atuar. O texto, aliás, é em inglês, e a distância idiomática intensifica esse estranhamento. O jogo montado em cena contrasta a desorientação do segundo ator ao controle quase absoluto de Crouch sobre toda a encenação. O diretor escreveu o texto e conhece-o profundamente, tem experiência naquele papel e, sobretudo, é ele quem dá as cartas. Crouch só não tem controle sobre as reações do convidado, o que torna todo esse jogo mais intrigante.

O acordo que estabelece com os espectadores é explícito: são a platéia – bêbada – do show de hipnotismo que seu personagem apresenta. Nogueira ou Leme também sai da platéia, voluntaria-se para ser hipnotizado – por ordem de Crouch ouvida por todo o público – e sobe ao palco, onde recebe todas as instruções de marcação e do que deve dizer, inclusive o texto impresso, às vistas da platéia. Um jogo de meta-teatro, exposição do processo e dos bastidores, em que a interpretação do ator (estudada, calculada, pensada) é descartada.

Nos vãos de todo o cuidado com a forma, An Oak Tree é um drama sobre perda e remorso. O pai está naquela platéia porque o hipnotizador matou sua filha por acidente. O confronto dos dois acontece de maneira sensível, sofrida e lírica. O hipnotizador tenta digerir a culpa que sente por meio das sugestões que dá a seus voluntários. O pai abstrai: crê ter transformado um carvalho que encontrou no local do acidente na filha morta.

Com nuances bem menos delicadas, a montagem brasileira Por uma Vida 1 Pouco Menos Ordinária (que recentemente esteve em Curitiba) abordou tema semelhante: morte e remorso. A peça foi escrita por Daniela Pereira de Carvalho, autora que já venceu o Shell e é um dos destaques da nova geração de dramaturgos brasileiros. Dirigidos por Gilberto Gawronski, Liliana Castro e Eduardo Moscovis vivem irmãos abatidos pela mediocridade da vida, entregues aos vícios e à falta de perspectiva, que, sem querer, se envolvem num crime ao lado do amigo policial (Joelson Medeiros).

A montagem tem alguns problemas, a começar pelo texto excessivamente auto-explicativo – mesmo depois de a platéia rir de uma piada, ela ainda é explicada. O cenário traz metáforas visuais eficientes, como castelos de areia que, a certa altura, são desfeitos, mas aprisiona a movimentação dos três atores. As interpretações exaltadas não estão interiorizadas pelos atores. Liliane Castro é exemplar: faz sua personagem sofredora, revoltada e frustrada com o olhar perdido no nada e sem manifestar no corpo seu drama. O resultado é mais verborrágico que contundente.

A repórter viajou a convite da organização do festival.

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