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Dois mundos se encontram no humor do ator e diretor Jorge Fernando, 50 anos, atração de hoje no Guairão com o espetáculo Boom. De um lado, está a ironia característica da Zona Sul do Rio de Janeiro. Do outro, o escracho tipicamente suburbano. Mas, para entender melhor essa composição, é preciso conhecer um pouco da história do artista, atualmente na direção da novela Alma Gêmea.

Carioca nascido e criado no subúrbio de Del Castilho, ele ralou como um louco no teatro amador antes de conseguir destaque nos palcos da Zona Sul. Aos 19 anos, já experiente em montagens produzidas por conta própria, ganhou do pai uma quantia em dinheiro para alugar um espaço cênico num bairro nobre do Rio de Janeiro – e, assim, mostrar seu talento para a classe artística "profissional".

A peça não passou despercebida e Jorge logo se envolveu com alguns nomes de prestígio do meio teatral da época. Como os integrantes do performático grupo Dzi Croquetes, do qual ele fez parte e que marcou época unindo dança, teatro de revista e referências do universo gay. O ator/diretor ainda seria peça fundamental no surgimento do besteirol, movimento carioca dos anos 80 responsável por revelar figuras do calibre de Miguel Falabella, Mauro Rasi, Vicente Pereira, Luiz Carlos Góes e Hamilton Vaz Pereira, entre outros.

Desse acúmulo de experiências surgiu um estilo de humor acima de tudo popular, como atesta a marca de 300 mil espectadores atingida por Boom. Em cartaz há seis anos, o espetáculo nasceu de uma necessidade pessoal de Jorge Fernando, decidido a saber se ainda tinha a energia do início de carreira. E haja disposição para interpretar o médium Professor Rebelo (sobrenome de sua família) e os diversos "espíritos" incorporados por ele inesperadamente. No entra e sai de personagens, há espaço para tipos como a dançarina de cancã morta no Moulin Rouge, a portuguesa melancólica cantora de fado e um sujeito chamado Ney Luiz, que morreu dormindo.

Repleto de brechas para o improviso, Boom muda de acordo com o dia e o ambiente em que é apresentado. "Existe um roteiro básico... Que eu não sigo!", diverte-se Jorge Fernando. "Cada vez acontece uma coisa diferente, depende muito das pessoas que eu puxo para brincar", acrescenta. Sobre os números platéia, aliás, o artista jura não forçar a barra com quem não quer participar – o que representa um alívio para o público mais tímido. "Sempre pergunto se a pessoa quer brincar, não é uma coisa agressiva. Faço de um jeito que não fica grosseiro", garante.

Antes decidido a produzir uma continuação do espetáculo, anunciada com o título de Boom Boom, Jorge mudou de idéia e resolveu reformular o texto atual. "Estou começando a mexer, para não ficar mecânico. Mas a peça vai continuar com o mesmo nome, pois continua inédita em muitos lugares, como Curitiba", diz. Uma das novidades será mostrada em primeira mão na apresentação de hoje. Trata-se de um número musical em que dez pessoas da platéia subirão ao palco para cantar e dançar com o artista. Todas devidamente convidadas, é claro.

Apesar do tom de comédia rasgada, Boom também tem seu lado "sério", segundo Jorge Fernando. "O espetáculo tem uma mensagem em que eu acredito, e que está cada vez mais forte no mundo, que é a urgência de uma política espiritual", explica. "Estou falando da busca pelo ‘obrigado’, ‘dá licença’, ‘faz favor’. E o gancho da vida após a morte acaba servindo para a gente valorizar mais o nosso dia-a-dia. Enfim: é uma coisa espiritual, mas com baixaria", conclui, bem-humorado.

Serviço: Boom, com Jorge Fernando. Participação de Luciana Rigueira e Marcelo Barros. Texto de Luiz Carlos Góes. Direção de Marcus Alvisi. Hoje, às 21 horas, no Guairão (Pça. Santos Andrade, s/n.°). Ingressos a R$ 50 (platéia e 1.° balcão). Informações: (41) 3304-7900 e 3304-7982.

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