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Montagem curitibana é destacada

Diante de 208 opções do Fringe, mostra paralela do FTC, é surpreendente que boa parte dos críticos tenha escolhido o espetáculo curitibano Os Leões, estréia na direção da iluminadora Nadja Naíra, como uma das melhores peças da mostra paralela.

"Há uma harmonia entre gestos e palavras fundamental para reproduzir na cena a idéia de um tempo cíclico e não-linear, que se repete em espiral. É excelente a atuação de Alexandre Nero e Diego Fortes", escreveu Beth Néspoli, no Estado de São Paulo de 26 de março.

O espetáculo é parte da mostra Novos Repertórios, que reuniu trabalhos de quatro grupos da cidade que têm comum a realização de um trabalho artístico contínuo, com ênfase na pesquisa e produção teatral.

A última sessão da peça ocorre hoje, às 21 horas, no TEUNI – Teatro Experimental da UFPR (Praça Santos Andrade – prédio histórico da UFPR). Ingressos a R$ 14 e R$ 7 (meia).

Com as últimas apresentações de peças do Fringe à meia-noite de hoje, chega ao fim o Festival de Teatro de Curitiba. O balanço parece ter sido positivo a julgar pela freqüência do público, que lotou praticamente todas as apresentações dos 21 espetáculos da Mostra Oficial, forçando, inclusive, a criação de algumas sessões extras.

E pela intensidade dos aplausos ao fechar de algumas cortinas, também elegeu favoritos. O que não significa que a crítica especializada tenha a mesma opinião.

Gosto popular e de crítica coincidem em, ao menos, dois espetáculos. A grande unanimidade é indiscutivelmente o musical carioca Besouro Cordão-de-Ouro, dirigido por João das Neves, sobre a vida do ilustre capoeirista baiano que dá nome à montagem. Antes mesmo de início da mostra, no dia 22 de março, já não havia mais ingressos para assistir as duas apresentações do espetáculo na Casa Vermelha.

"Se o objetivo do festival é experimentar, Besouro foi a melhor opção pela forma como explora novas linguagens", diz a jornalista mineira Soraya Belusi, de O Tempo. Beth Néspoli, em resenha crítica publicada no Estado de São Paulo, no último dia 25, escreveu que a peça é uma espécie de síntese poética da experiência de João das Neves. "No palco está a mesma vitalidade e força musical dos famosos shows do Opinião, por ele dirigidos (...) potencializados pela extrema beleza e força da música e do texto, ambos assinados por Paulo César Pinheiro".

Em outro artigo, ela também destacou a equipe paulista responsável pela monólogo O Incrível Menino da Fotografia, que arrancou longos aplausos do público em sua primeira apresentação, no dia 28.

Dissenso

A Hora e a Vez de Augusto Matraga, produção da Sarau Agência de Cultura Brasileira, do Rio de Janeiro, encabeça a lista de espetáculos mais aplaudidos pelo público, mas que não caíram no gosto de alguns jornalistas de fora. Principalmente, dos conterrâneos de João Guimarães Rosa, autor da novela adaptada.

Para a jornalista de O Tempo, houve boa direção, cenografia e elenco, mas os méritos se diluem diante de composições musicais pobres, que desrespeitam a obra de Rosa, inclusive pelo "carioquês" de alguns atores em pleno sertão mineiro.

"É desprezível. Rosa, o restante do elenco e a encenação são apenas escada para se aproveitar do prestígio de um ator (Brichta) que hoje está com problemas de voz e corpo evidentes, que canta e toca mal", dispara Miguel Anunciação, mineiro do jornal Hoje em Dia. "Jogaram Rosa no lixo para enaltecer Brichta", cutuca o jornalista João Nunes, do Correio Popular de Campinas.

Há quem não concorde. A jornalista Luciana Romagnolli, do Caderno G, considera a montagem fiel à riqueza lírica da última novela de Sagarana. "Brichta oscila entre a dureza e a brandura, com a intensidade e a violência que cada momento da trama impõe", escreveu no dia 29.

O musical Sassaricando, que reúne mais de cem marchinhas de Carnaval, levou o público a uma espécie de catarse coletiva (houve até trenzinho nas primeiras filas). A qualidade do espetáculo é inegável. Mas, alguns críticos consideram-no uma escolha sem propósito. "Não é teatro, é um show de marchinhas. Como sugestão, serviria para abrir o festival, em uma exibição pública", diz Nunes. "Tenho a impressão de que se tentou traduzir um desejo de consumo imediato do público, mas essa não parece ser a proposta do festival", completa Belusi.

O diretor Felipe Hirsch arriscou. O público lotou o Teatro da Reitoria, ansioso para conferir Thom Pain – Lady Grey, a mais nova produção de sua companhia, a curitibana Sutil. Mas, assustou-se, diante de um exercício de linguagem difícil até para quem já está acostumado a acompanhar constantemente o teatro. A peça, de mais de duas horas, reúne dois monólogos – o primeiro, encenado pelo ator Guilherme Weber, e o segundo, por Fernanda Farah.

"Thom Pain é um exercício de minimalismo da direção, com o objetivo de causar incômodo e provocação. Weber conseguiu realizar este objetivo, mas Farah perdeu a atmosfera que ele construiu. Sua personagem era apenas lamuriante e, por isso, a segunda parte se torna chata, pedante", diz Belusi. No entanto, a crítica de O Tempo considera o espetáculo perfeitamente adequado ao desejo de ousar e experimentar do festival.

Outros espetáculos da Mostra Oficial lembrados pelo críticos foram A Refeição, dirigido por Denise Weinberg, Zona de Guerra, da Cia. Triptal de Teatro, e Os Dois Cavalheiros de Verona, do grupo Nós do Morro. No Fringe, foram destacados o espetáculo de rua mexicano Cus Cus Circo, o infantil Tuíque e a comédia surrealista Os Leões (ler quadro).

Uma sugestão comum foi quanto à coincidência de horário na programação da Mostra Oficial, sempre às 20h30, o que forçou a opção por alguns espetáculos em detrimento de outros. "De 21 espetáculos, só é possível ver no máximo dez", reclama o jornalista do Correio Popular.

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