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O diretor de Black Swan, o norte-americano Darren Aronofsky, e seus astros, Natalie Portman e Vincent Cassel: poucos aplausos e algumas vaias | Vincenzo Pinto/AFP
O diretor de Black Swan, o norte-americano Darren Aronofsky, e seus astros, Natalie Portman e Vincent Cassel: poucos aplausos e algumas vaias| Foto: Vincenzo Pinto/AFP

Veneza - Desilusão entre os jornalistas após a projeção de Black Swan, longa-metragem de Darren Aronofsky que abriu ontem oficialmente o 67.º Festival de Veneza. Ao fim da projeção, tímidos aplausos e considerável dose de vaias desqualificaram o drama como um possível candidato a prêmios. Por outro lado, não se pode afirmar que foi um início inteiramente frio, já que a bailarina, interpretada por Natalie Portman, está no centro de duas ousadas cenas semiexplícitas de sexo, uma sozinha e a outra com sua rival na busca pela glória no palco.

Depois de anos à espera da grande chance, a jovem e ingênua bailarina Nina (Natalie) consegue o lugar da "velha" Beth (Winona Ryder) para o papel de rainha no célebre balé O Lago dos Cisnes, em arrojada concepção do diretor da companhia nova-iorquina, Thomas Leroy (Vincent Cassel).

Cínico, ele faz de tudo para despertar o lado obscuro da moça, que deverá encarnar simultaneamente o inocente Cisne Branco e o maléfico Cisne Negro. Inclusive joga com o sexo reprimido e a sombra de uma rival, a novata mas esperta e desinibida Lily (Mila Kunis). A suave e levemente perturbada Nina aos poucos vai descendo todos os degraus em direção ao inferno do autoconhecimento, mas também da própria insanidade.

Black Swan é sobre repressão – Nina é castrada pela mãe superprotetora, uma recauchutada Barbara Hershey – e também a respeito de obsessão, ou sobre a figura do duplo. Ainda se pode falar em processo da criação artística obtido sob torturante pressão, isto é, a crueldade da ribalta. E quem quiser ir mais longe chegará a uma releitura nada convencional, muito livre mesmo, do mito de Pigmalião.

O argumento é, de início, intrigante, o elenco tem apelo popular, a narrativa não deverá aborrecer o espectador – há doses equivalentes de melodrama, thriller psicológico, horror, trash e erotismo. Mas Aronofsky calcula mal o peso de sua direção, e termina por entregar um filme excessivo, instável, que exaure pelo esquematismo, pelo cálculo, pela frieza e pela previsibilidade.

Paralelo

Na entrevista coletiva logo após a sessão para a imprensa, o diretor Aronofsky abriu a conversa, traçando um paralelo entre Black Swan e seu trabalho anterior sobre luta livre, O Lutador, que em 2008 ganhou o Leão de Ouro de melhor filme. Para ele, "eram dois projetos com várias semelhanças, já que, no fundo, o balé clássico e a luta livre tinham muitos pontos em comum: em ambos, o corpo é utilizado de modo extremo, e o estado físico é permanentemente exaltado. Tanto num como em outro, acho que isto auxilia a entender a história".

O diretor afirmou ser um privilégio e uma honra abrir a mostra veneziana, a mais antiga e prestigiosa do mundo, mas disse que não repetiria jamais o acelerado processo de pós-produção: "Foi uma intensa luta contra o tempo deixar o filme pronto para a inauguração de ontem, dias e dias sem dormir, horas e mais horas de trabalho intenso".

Ao seu lado, Natalie Portman recordou a longa gestação do projeto: "Darren e eu falamos pela primeira vez sobre o filme em 2002, sete anos antes das filmagens. Como a história estava pronta, pude trabalhar longamente meu personagem. Passei seis meses me preparando fisicamente, tive todas as lições de dança e coreografia de que precisava, e intensifiquei o treinamento pessoal até chegar a um ponto decididamente extremo", disse ela.

"Não foi fácil chegar ao interior desse mundo do balé, de início todos consideravam nosso olhar muito suspeito. A dança é um ambiente fechado, com hierarquia muita clara. Mas tudo se tornou bem mais fácil quando começamos a receber a aprovação de vários coreógrafos importantes durante as pesquisas e depois nas filmagens", disse Aronofsky.

O diretor explicou por que escolheu O Lago dos Cisnes: "Me agradava muito a ideia do duplo, o branco e o negro, o bem e o mal, tudo muito estilizado. Foi ótimo assistir a diversas produções do balé em várias partes do mundo, inclusive uma na Rússia com final feliz..."

Para encerrar, alguém pergunta se, ao final, no filme como no balé, o triunfo do cisne negro é um ponto de vista negativo sobre a humanidade em geral e sobre o mundo em particular. "Não sei, talvez", concluiu Aronofsky.

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