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Literatura

Biografia revela o lado B de Luiz Carlos Prestes

Embora controverso, livro de historiador reconstrói trajetória do Cavaleiro da Esperança de maneira curiosa

Episódios delicados da vida de Luiz Carlos Prestes (1898-1990) foram revelados em nova biografia | Acervo UH/Folhapress
Episódios delicados da vida de Luiz Carlos Prestes (1898-1990) foram revelados em nova biografia (Foto: Acervo UH/Folhapress)
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Luiz Carlos Prestes nunca se contentou em ser um espectador dos acontecimentos de seu tempo. Nascido em Porto Alegre em 1898, deixou de lado a estabilidade de um cargo de engenheiro nas Forças Armadas para entrar na política. Idealista e motivado pela busca de justiça social, tornou-se um dos maiores protagonistas da área no Brasil do século 20.

Digna de uma exploração profunda, a história do Claro Capitão – como era chamado pelo poeta chileno Pablo Neruda – foi esmiuçada pelo historiador carioca Daniel Aarão Reis na biografia Luís Carlos Prestes: Um Revolucionário Entre Dois Mundos, lançada em novembro do ano passado pela Companhia das Letras (a grafia "Luís" é adotada no lugar da original, "Luiz", por questões editoriais).

Ainda que esta não seja a primeira obra dedicada à vida de Prestes – o escritor Jorge Amado também escreveu sobre a vida dele, em 1941 –, o trabalho de Reis chega onde nenhuma outra chegou, até então.

Une depoimentos a uma extensa pesquisa histórica e bibliográfica para produzir um livro que contempla em mais de 500 páginas toda a trajetória de vida – boa parte dela no exílio – e combate do Cavaleiro da Esperança, embora muito dos fatos relatados tenham recebido críticas da família de Prestes, pelo que chamam de "falta de evidências documentais".

Os detalhes do livro começam a ganhar força com a guerrilha travada pelo biografado e seus companheiros pelo interior do país, no movimento que ficou conhecido nacionalmente como Coluna Prestes. O texto pouco fala sobre a infância do Claro Capitão, que nasceu no Rio Grande do Sul, mas mudou-se, ainda pequeno, para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira nas Forças Armadas.

A marcha, originada por uma série de descontentamentos em relação ao governo, é o pontapé inicial da trajetória de militância de Prestes, e, consequentemente, é o que começa a dar mais ânimo à obra de Reis.

Nenhum ato ou envolvimento social e político do Cavaleiro da Esperança é deixado de fora: conversão ao comunismo, exílios, prisão, disputas políticas, embates pela revolução e postura partidária – alguns fatos são notavelmente mais destacados que outros. Não há muitas alusões, por exemplo, ao avesso da lenda da Coluna Prestes que, ao mesmo tempo em que lutava pela liberdade de um povo considerado oprimido, deixou rastros de miséria, abusos e mortes.

Isto não é o suficiente, no entanto, para acusar o autor de analisar a trajetória de Prestes de forma unilateral. Ao contrário, durante toda a obra, notam-se críticas – não apenas relatos – de Reis sobre fatos da vida de Prestes e sua família, alguns bem delicados. O que é justo, afinal.

É o caso da "delação" da paternidade das duas irmãs mais novas do biografado, Lúcia e Lígia, que foram concebidas em um casamento informal de sua mãe, após a morte do marido, numa época em que as viúvas, como o próprio autor diz "estavam condenadas ao celibato". A família sempre manteve as duas meninas como filhas legítimas de Antônio, pai de Prestes.

Também chamam a atenção as observações do autor sobre as próprias posturas políticas do capitão. Não são raras as vezes em que se encontram no livro críticas e indagações sobre o modo de agir de Prestes. Sobre a derrota dos esquerdistas frente ao avanço das tropas que instauraram a ditadura miliar, em 1964, Reis escreve: "Uma derrota catastrófica e desmoralizante para as esquerdas, para os comunistas e para Prestes em particular".

O comunismo, aliás, assume uma posição paralela na obra. Após estudar profundamente a doutrina marxista em seu primeiro exílio, na Bolívia, Prestes adere ao pensamento e torna-se membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual foi líder máximo por quase cinco décadas. Esta vida dedicada ao partido é a brecha para que Rei desenvolva também, em segundo plano, a história do comunismo no Brasil.

Sem intimidade

Se por um lado a lenda prestista é muito bem trabalhada na obra de Reis, por outro o autor peca por falta de detalhes psicológicos de seu personagem.

Ao leitor, não ficam dúvidas de como era o Prestes político, mas não há indícios suficientes para reconstruir certa intimidade do biografado. Mesmo sua relação com Olga Benário, com quem teve Anita Prestes, não rende mais que duas páginas, no muito.

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