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O astro Lázaro Ramos

Não é apenas em Hollywood que atores negros conquistam espaço a olhos vivos. No Brasil, onde afrodescendentes sempre encontraram (e ainda enfrentam) dificuldades para brilhar e mostrar talento, o baiano Lázaro Ramos é hoje um dos nomes mais cotados e requisitados tanto pelo cinema quanto pela televisão.

Revelado na montagem teatral A Máquina, de João Falcão, Lázaro fez uma transição espetacular para as telas. Seu primeiro grande papel foi como o protagonista marginal de Madame Satã (foto), elogiado longa-metragem de estréia do cearense Karim Aïnouz (de O Céu de Suely). O ator dá um verdadeiro show de interpretação. Em seguida vieram atuações marcantes em O Homem Que Copiava, de Jorge Furtado, Cidade Baixa, de Sérgio Machado, e Cafundó, dirigido por Paulo Betti e Clóvis Bueno.

Na televisão, Lázaro brilhou ano passado como o macunaímico Foguinho, que, meio sem querer, se tornou o personagem principal e mais popular da novela Cobras e Lagartos, ao lado de sua mulher, Taís Araújo, outra estrela negra ascendente nas telinhas e telonas nacionais.

"Prefiro fazer o papel de empregada doméstica a ser uma." A frase, atribuída à atriz Hattie McDaniel, embora prosaica, resume bem o que significava ser negra em Hollywood nos primórdios do cinema. Primeira afrodescendente a ser indicada e vencer um Oscar na história, a inesquecível Mammy, criada de Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) no clássico ...E o Vento Levou (1939), também quebrou outro tabu: nunca uma mulher de cor havia comparecido à cerimônia da Academia na qualidade de convidada – e não como serviçal. Até chegar lá, contudo, Hattie trilhou um longo caminho, cheio de percalços.

Quando ...E o Vento Levou teve sua première em Atlanta (Geórgia), onde boa parte de sua trama se passa, Hattie não compareceu à festa. Embora tenha sido convidada pelo diretor Victor Fleming, a atriz preferiu ficar em casa. Sabia que sua presença não seria bem vista em uma cidade sulista, onde ainda vigia a segregação racial e eventos do gênero estavam reservados à população branca. Clark Gable, o galã do filme, ameaçou não comparecer, mas Hattie o convenceu que seria um erro boicotar a pré-estréia.

Passados quase 70 anos desde o triunfo de ...E o Vento Levou e de Hattie, a situação dos atores negros em Hollywood ainda não está em pé de igualdade com os brancos – assim como na própria sociedade norte-americana. Vários obstáculos, contudo, já foram superados.

Apenas nesta década, três atores afrodescendentes venceram o Oscar nas categorias principais. Em 2002, numa cerimônia hoje considerada histórica, Denzel Washington, por Dia de Treinamento, e Halle Berry, em reconhecimento por sua atuação em A Última Ceia, ganharam estatuetas de melhor ator e atriz. Halle foi a primeira negra em toda a história do prêmio a conseguir esse feito. Antes, apenas Hattie McDaniel e Whoopi Goldberg, por Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), haviam levado a melhor na categoria de coadjuvante. Washington, melhor coadjuvante em 1989 por Tempo de Glória, quebrou um jejum que já durava 38 anos, desde que Sidney Poitier foi o primeiro negro a vencer o Oscar de melhor ator em 1964, por Uma Voz nas Sombras.

Cinco de 20

O ano de 2007 também deve ser lembrado como um marco na trajetória da comunidade afro-americana dentro da indústria de cinema. Nada menos do que um quarto dos atores que disputam as categorias principais e coadjuvantes neste ano são negros. E com grandes chances de vitória em três delas.

No papel do ditador africano Idi Amin Dada, em O Último Rei da Escócia, Forest Whitaker é franco favorito como melhor ator. Venceu praticamente todos os prêmios da crítica, além do Globo de Ouro, do SAG (Sindicato dos Atores) e do Bafta (da Academia Britânica de Cinema). Mais conhecido pelo grande público por suas participações em papéis secundários, porém marcantes, em produções de sucesso como Traídos pelo Desejo, de Neil Jordan, e O Quarto do Pânico, dirigido por David Fincher, Whitaker tem uma longa e sólida carreira. Entre seus trabalhos mais importantes, está sua impressionante intepretação como o saxofonista e monstro sagrado do jazz Charlie Parker, em Bird, de Clint Eastwood, pelo qual venceu o Festival de Cannes, e Ghost Dog, de Jim Jarmush.

Além de Whitaker, quem disputa pela segunda vez o Oscar de melhor ator é o astro Will Smith, um dos atores mais populares de Hollywood. Sua atuação sincera e contida no drama Em Busca da Felicidade, enorme sucesso de bilheteria internacional, o colocou em praticamente todas as listas melhores atuações do ano. No filme, ele vive o papel de um pai descasado que se vê desempregado, sem-teto e com um filho para criar. Uma particularidade em relação a Smith: sua popularidade é considerada crosscultural, ou seja, transcende grupos étnicos. Todo mundo gosta dele e assiste a seus filmes, o que lhe permite ter um dos maiores salários da atualidade.

Virada

Outra categoria que tem dois negros entre os cinco indicados é a de melhor ator coadjuvante. Em sua segunda indicação (a primeira foi pelo drama dos Sonhos), Djimon Hounsou, natural do Benin, é, possivelmente, o ator africano mais importante de todos os tempos. Ele disputa o prêmio da Academia por seu brilhante trabalho no thriller político Diamante de Sangue, que também rendeu uma nominação de melhor ator a Leonardo DiCaprio. No filme, Hounsou é um agricultor de Serra Leoa que vê sua família ser esfacelada por uma Guerra Civil cuja causa está intimamente ligada ao tráfico ilegal de diamantes.

O trabalho de Hounsou é espetacular, vigoroso, comovente e de uma dignidade ímpar. Mereceria, sem dúvidas, ser reconhecido pelo Oscar não fosse a presença na disputa cde Eddie Murphy, outro astro do cinema norte-americano.

Ex-integrante do elenco do programa humorístico televisivo Saturday Night Live, Murphy foi elevado à categoria de campeão de bilheterias na década de 80, graças ao sucesso de comédias como 24 Horas, Trocando as Bolas e, sobretudo, da série Um Tira da Pesada, na qual vive o papel de um atrapalhado e carismático policial nova-iorquino transferido para Beverly Hills.

Há anos em uma espécie de limbo, acumulando fracassos, a carreira de Murphy deu uma reviravolta neste ano por conta de sua ótima atuação no musical Dreamgirls – Em Busca de um Sonho. Vencedor do Globo de Ouro e do SAG, o comediante mostra sua veia dramática como o talentoso e autodestrutivo Curtis Taylor Jr., um cantor que mistura características de James Brown e Marvin Gaye.

Nasce uma estrela

Única mulher no seleto grupo de atores negros que disputam o Oscar 2007, a também cantora Jennifer Hudson vive hoje uma espécie de versão moderna da história de Cinderela. É irônico pensar que Jennifer Hudson, a jovem estrela de 25 anos, considerada favorita ao Oscar de coadjuvante por sua atuação em Dreamgirls, enfrentou dificuldades semelhantes às encaradas por sua personagem, a temperamental Effie White. Uma das finalistas da terceira temporada do programa American Idol (exibido no Brasil pelo canal Sony), Jennifer ouviu do implacável jurado (e produtor) britânico Simon Cowell que não tinha futuro no mundo da música pop e acabou sendo eliminada da competição. Nada como um dia atrás do outro.

Jennifer Hudson não apenas sai consagrada de Dreamgirls como também acaba de assinar um contrato com o todo-poderoso produtor Clive Davis, o mesmo que descobriu Whitney Houston e Alicia Keys. Tão logo a campanha do Oscar se encerre, Jennifer entra em estúdio para gravar seu primeiro CD, já contando com composições do primeiro time do R&B e pop americanos.

Hattie McDaniel, morta em 1952, aos 57 anos, de câncer de mama, abriu portas para gerações de atores que vieram depois dela. Como Jennifer Hudson, também cantava: foi a primeira voz negra a cantar nas rádios americanas, em 1915. Estaria feliz da vida ao ver como o estado de coisas mudou para sua gente.

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