"Pode ligar amanhã, depois das 13 horas. Ele estará no trânsito, mas disse que para o carro e fala com você numa boa", explicou o assessor de imprensa da editora Lazuli, pela qual Jotabê Medeiros lança o livro O Bisbilhoteiro das Galáxias. A disponibilidade do jornalista, somada a um punhado de sorte e à insistência digna de um paparazzo profissional, foram os ingredientes da obra, que relembra, sem filtros, os momentos em que esteve ao lado de bambas da música, como Bob Dylan, Jack White, Roberto Carlos e Morrissey.
O livro tem cara de diário. São 50 os encontros retratados, com fotos não profissionais e isso é bom e textos sem as amarras editoriais incontornáveis com as quais Jotabê, atualmente crítico e repórter do jornal O Estado de S. Paulo, convive há mais de 25 anos.
Os artistas são classificados em três tipos: os que Jotabê admira muito (Bob Dylan, Roberto Carlos, Iggy Pop, Patti Smith); os que considera representativos da cultura pop (Suicidal Tendencies, Fatboy Slim, MGMT); e os que lhe arrebataram imediatamente, como Carolina Chocolate Drops e Band of Horses. Os encontros aconteceram em diversos festivais de música pelo mundo e alguns deles, como a topada com um Bob Dylan de touquinha em Copacabana em 2012, são quase inacreditáveis. "Para ser bem sincero, acho que é sorte, confluência dos astros. Mas tem o outro lado: já fiz vigília na porta de hotéis, dirigi alopradamente no trânsito atrás do Mick Jagger. Às vezes não dá em nada. Mas às vezes dá", diz o jornalista, formado na Universidade de Londrina (UEL), que também bateu ponto na Folha de S.Paulo, Veja São Paulo e na tevê CNT Gazeta.
Voltando ao Dylan: todo mundo viu a foto do norte-americano, que fez careta para a câmera de Jotabê. Mas poucos sabem que o jornalista, no rápido papo, indicou um restaurante para o trovador. "Ali na rua de trás tem uma cantina italiana daquelas clássicas, sabe aquelas que parecem frequentadas pela máfia? Muito boa mesmo. Dylan se interessou", escreve.
Em 2007, outro portal se abre: Iggy Pop surge de chinelos e meias, no saguão do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. "Meus colegas deram conta de que era verdade, e cercaram Iggy, fazendo um arrastão de tietagem explícita. Esperei que todos se fossem e ia fazer menção de pedir uma foto. Mas ele antecipou com um gesto como se dissesse: É claro, meu chapa."
Chris Martin, não
Mas, entre tantos, quem seria um bom parceiro para uma cerveja em um fim de tarde? E quem não seria? "Sempre encontro o Manu Chao em São Paulo. Conversamos sobre tudo, ele é ótimo, o último artista de esquerda, não dependente da indústria", conta Jotabê. Já com o Coldplay, bem... "Se chamasse o Chris Martin para uma cerveja, ele ia ficar falando sobre o nível de lúpulo ou sei lá o quê. É um cara clichezudo e chato."
Jotabê não tem ídolos "falhei nesse quesito" , mas um dos que poderia ocupar esse papel é seu conterrâneo Zé Ramalho, que também dá as caras no livro. "Se me convidasse, até chá de cogumelo tomaria com ele", brinca.
Fato perceptível na intensa produção do jornalista e que permeia toda a obra é a visão que tem de arte e da cultura, de forma geral. Como jornalista cultural, não se limita a falar sobre produto, mas sim sobre o mundo que o cerca. "O artista quer dialogar e não vive só de idolatria. O melhor diálogo é com alguém que está preparado, mas existe sim um analfabetismo funcional e até cultural."
Graças à máquina fotográfica, sempre a tiracolo, Jotabê tem material para um segundo volume, no mesmo formato, a ser lançado em breve.
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