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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

A pergunta que todo mundo faz

Qual é o seu beatle preferido?

Por ter escrito The Beatles – A Biografia (Larousse) e, com ela, realizado a proeza de contar histórias novas – e com estilo – sobre o quarteto de Liverpool, o jornalista Bob Spitz virou um especialista no assunto.

Sempre que alguém tem chance, pergunta qual era o seu beatle favorito antes de fazer o livro e se ele continuou sendo o mesmo depois de concluí-lo. E então?

"Essa é um boa pergunta e eu a ouço bastante", diz Spitz. A resposta é elaborada e começa com Paul McCartney, seu primeiro beatle preferido. "Para mim, ele era um maestro e inventou o baixo no rock", explica. Daí descobriu que Paul era um sujeito detestável e de trato difícil. Passou a admirar John Lennon. "Complexo, escreveu grandes músicas, mas era incrivelmente confuso. Então prestei atenção no George (Harrison)."

Para Spitz, foi o que mais cresceu dentro da banda. "Porque acabei me entediando com George, cheguei enfim a esse grande músico que é Ringo Starr. Todos o adoravam. Era o único que não brigava com ninguém e ele é hoje o meu favorito", diz.

Agora, Spitz trabalha na biografia de Julia Child (1912-2004), conhecida como a mulher que ensinou o povo americano a cozinhar. Ano passado, ela foi interpretada no cinema por Meryl Streep na comédia Julie & Julia. (IBN)

Serviço

Conheça a receita que Bob Spitz mais ama no blog Livros.

Era o fim do mundo para Bob Spitz. Seu casamento terminara num processo difícil de separação, estava apaixonado por uma mulher complicada com quem não conseguia se conectar e havia concluído um projeto de mais de oito anos de duração que desembocou na publicação da extensa e elogiada The Beatles – A Biografia (Larousse do Brasil).

Para piorar, tinha completado 50 anos e sentia o hálito da crise que acompanha a idade. "Caos" é a palavra que usou para definir o momento que vivia ao conversar com a Gazeta do Povo, por telefone, de sua casa no estado de Con­­necticut, nos Estados Unidos.

Incapaz de administrar os problemas que se enfileiravam, Spitz abraçou a única certeza que tinha na vida: era apaixonado por comida. A ideia de viajar à Europa para aprender a cozinhar surgiu de re­­pente, com a força que as ideias repentinas costumam ter (até você ter tempo de analisá-las mais friamente, pesar prós e contras e desmontá-las). Na volta do périplo, escreveu Aprendiz de Cozinheiro, lançado há pouco pela Zahar, uma mistura saborosa de diário de viagem, memórias e livro de receitas.

O jornalista norte-americano agiu rápido e, quando se pegou ponderando os absurdos de largar tudo por uma temporada em cursos de gastronomia na Itália e na França, ele estava no avião que o levava a Lyon. "Queria aprender mais sobre comida e entender os mistérios do ato de cozinhar e de como nos relacionamos ao redor de uma mesa", explica. Passou quatro meses e meio viajando – já com o livro em mente –, passou por cursos estabelecidos e outros que estavam começando. "Eu queria construir um roteiro que qualquer pessoa com tempo e algum dinheiro pudesse fazer", explica. Descartou então as escolas que exigiam currículo, experiência ou conhecimentos prévios e mandou para o beleléu qualquer atitude esnobe em relação à comida.

Spitz sabia escrever sobre música e admite que sofreu para colocar no papel a paixão por gastronomia. "Foi muito difícil. Com­­pletamente diferente de e­­s­­crever sobre rock-and-roll. Minha paixão por gastronomia era algo que tinha no coração e na cabeça, mas não na ponta da língua", diz.

Para ele, produzir textos sobre música e sobre os Beatles era um pouco escrever sobre si mesmo. "Sempre tive uma conexão muito forte com os Beatles", diz. "O mundo caótico e tumultuado do rock era também o meu mundo."

Spitz diz que é possível reconhecer o biógrafo do quarteto inglês em Aprendiz de Cozinheiro exatamente na "paixão" com que trata dos temas que o interessam.

Antes de sair para a Europa, era um cozinheiro autodidata e atrapalhado que levava um dia inteiro para preparar um jantar para quatro pessoas. E ainda servia os pratos com itens cozidos demais ou de menos, muito ou pouco temperados. Ele era capaz de encontrar pro­­blemas em tudo o que fazia.

Spitz compara o ambiente intenso de uma cozinha de restaurante aos bastidores de um espetáculo de rock. "O que aprendi de mais importante não foi como cozinhar, mas como ser muito calmo na cozinha, muito metódico, esquemático", diz.

Procurou aplicar a lição à própria vida, deixou o caos para trás e "colocou a cabeça no lugar" (palavras dele) para poder lidar com os problemas. O mesmo jantar que levava dez horas preparando, passou a fazer em três. E as dificuldades pararam de assombrá-lo.

Serviço

Aprendiz de Cozinheiro, de Bob Spitz. Tradução de Roberto Franco Valente. Zahar, 360 págs., R$ 39.

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