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O cineasta carioca Domingos de Oliveira causou algum desconforto na última edição do Festival de Cinema de Gramado, realizado em agosto. Para uma platéia de artistas ansiosa por conseguir mais verbas públicas para seus projetos, ele apresentou o manifesto Baixo Orçamento e Alto Astral. O BOAA, como foi apelidado, fala de uma produção de cinema de baixo custo no Brasil, com um conjunto de sugestões criadas por Oliveira a partir de suas próprias experiências.

Uma delas é o longa Feminices, a primeira produção BOAA, gravada em apenas oito dias, com câmeras digitais e utilizando amigos no elenco. O filme será exibido amanhã, às 21 horas, no Cine Plaza, dentro da mostra de longas-metragens do 9.º Festival de Cinema Vídeo e Dcine de Curitiba.

Entre as propostas do BOAA, está a organização de um Ministério da Arte, mais (porém menores) subsídios para novos talentos e a organização das equipes de produção em cooperativas. "É uma história que a gente já conhece, de cineastas que perdem o seu tempo artístico esperando incentivos e verbas do governo. Essas idéias permitem que o pessoal comece a fazer filmes, porque o Brasil precisa de mais bons filmes. A arte é como uma locomotiva que move a cultura. Não teria existido Cinema Novo se não tivéssemos Terra em Transe", propõe o cineasta, citando o clássico de Glauber Rocha, lançado em 1966, o mesmo ano em que o próprio Oliveira começou a carreira no cinema com Todas as Mulheres do Mundo.

Também dramaturgo e roteirista – trabalhou como consultor de roteiro de 2 Filhos de Francisco –, Oliveira defende que a produção artística se adapte às condições econômicas.

Feminices é sobre quatro atrizes na faixa dos 40 anos que tentam escrever uma peça de teatro chamada Confissões das Mulheres de 40. A narrativa cobre uma tarde de trabalho das personagens, que têm sua rotina atormentada pelas procupações com a idade, amigos e filhos. O argumento foi extraído da peça homônima de Clarice Niskier, encenada por Oliveira nos palcos do Rio de Janeiro durante 2003. O diretor diz que o filme funciona como uma investigação do comportamento feminino, das coisas que as mulheres fazem entre elas.

Intercalando a ação, foram inseridos depoimentos dos atores e amigos do diretor, que discorrem sobre o assunto. "Entrevistei as atrizes como personagens, e depois apenas como mulheres. Isso foi se misturando até criar uma ficção, com um aspecto de documentário. Por isso, digo que esse filme é um ‘quase-documentário’", explica. A produção não foi beneficiada pelas leis de incentivo. Oliveira gastou, do bolso, R$ 15 mil. No total, as despesas acumuladas e outros acertos somaram R$ 600 mil.

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