Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
opinião

“Bowie inventou a reinvenção”

Caio Marques: “tudo o que Bowie foi está neste último álbum” | Antônio More / Gazeta do Povo
Caio Marques: “tudo o que Bowie foi está neste último álbum” (Foto: Antônio More / Gazeta do Povo)

É notório e corrente o uso do argumento da reinvenção como critério de avaliação das coisas.

Na música pop, muitas vezes determinamos a relevância (palavrinha tosca) de um artista pela sua não repetição: não gostamos quando um artista vira “cover de si mesmo”, ou seja, repete fórmulas que ele mesmo criou para manter-se vivo, para agradar os fãs, para garantir um maior público em suas turnês. Bowie também fazia isso, só que, ao contrário, ele “inventou a reinvenção”. Essa era sua fórmula. A partir dele, o critério passou a ser usado para avaliação artística.

Antes, ninguém precisava disso.

Sua conexão com a atualidade sempre foi impressionante, mas Blackstar nos mostra muito mais do que isso: nos mostra que a “chama que arde no centro de tudo isto” é nosso olhar, nossa percepção

Passei este último fim de semana ouvindo o recém lançado disco-requiém-despedida Blackstar sem me tocar que podia ser o último.

Lembrei dos amigos, claro, afinal todos nós seguimos o cara. Quando o Edu (outro fanzaço) me pediu para escrever algo sobre sua morte fiquei animado, mas logo vi que a tarefa não seria fácil, me assombrou o fato de que todas as pessoas que eu admiro estão pensando no que falar sobre o Bowie agora – e todo mundo, logicamente, tem uma história muito melhor do que a minha. Então, não vou contar história nenhuma.

Vou apenas afirmar minha impressão de que tudo que ele foi está neste último álbum. Sua conexão com a atualidade sempre foi impressionante, mas Blackstar nos mostra muito mais do que isso: nos mostra que a “chama que arde no centro de tudo isto” é nosso olhar, nossa percepção. Ele fez disto uma constante em meio século de carreira artística. Seus olhos, um de cada cor, mudaram o jeito como nos relacionamos com o mundo, nos fizeram notar que o ‘aqui’ e o ‘agora’ estão em primeiro plano.

O que somos, o que expressamos e, no nosso caso, o que ouvimos, pode e deve mudar, sem que para isso precisemos abrir mão de nós mesmos.

Ele sempre esteve ali, Bowie sempre esteve ali.

Agora não está mais.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.