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O release da editora (Record) diz que Dorota Maslowska é "a nova voz literária da Polônia", tendo sido comparada a J. D. Salinger e Franz Kafka. William Burroughs e o filme Trainspotting também são citados na contra-capa do livro, em trecho de uma resenha de uma revista americana.

Como a jovem escritora polonesa não é conhecida Brasil, assim como a literatura da terra do papa João Paulo II, criam-se rótulos – hoje em dia tudo é imagem – para enquadrar Branco Neve, Vermelho Rússia e ajudar no lançamento do livro no país.

Mas, com os nomes acima citados, cria-se uma expectativa muito grande em relação ao texto da jovem autora – ela tem atualmente 23 anos e escreveu Branco Neve, Vermelho Rússia (obra que já foi traduzida em 15 línguas) aos 18 –, espera-se que o livro seja no mínimo surpreendente. A possibilidade de uma decepção fica bem maior e isso acaba acontecendo com um trabalho que é até muito interessante, mas não brilhante, como esperado.

Dorota descreve a juventude polonesa dos dias atuais – sem rumo no mundo globalizado e pós-queda do Muro de Berlim e do comunismo, através do personagem Andrzej Vermski, codinome Forte, que narra a história em primeira pessoa. Na verdade, o livro todo é uma viagem alucinada do protagonista, regada a muitas drogas. Ele descreve seus relacionamentos com diversas meninas, a começar pela namorada Magda, que o trocou por um amigo de turma. Seguem-se a bulímica Angela (louca vegetariana que chega a comer pedras), a nervosinha e mandona Natascha, a certinha e chata Ala, e uma certa Dorota Maloska, adolescente inteligente, mas ainda perdida na vida.

A escritora contextualiza uma Polônia que busca uma reestruturação, mas ainda é um país muito atrelado à Rússia, em relação a qual sobram questões a serem resolvidas. As diferenças entre as duas nações são acertadas, pelo lado polonês, em um inacreditável e nacionalista "Dia Sem Russo", uma divertida criação da autora, que move parte da ações de Forte – quando ele não está pensando em mulheres para george (com g minúsculo mesmo, nome dado a seu próprio orgão sexual).

Maslowska se mostra verborrágica (escreve longos parágrafos), utilizando algumas gírias e formas de expressão recentes, específicas do jovens de seus país, que devem ter dificultado um pouco a tradução de Marcelo Paiva de Souza, que se vê obrigado a fazer uma adaptação para gírias brasileiras como foderoso (fodido + poderoso, utilizada em alguns estados brasileiros). O fluxo de pensamento de Forte/Dorota funciona a mil, criando e imaginando diversas imagens e situações estranhas. As últimas 30 páginas da obra representam uma viagem insana e surreal do personagem.

Nem Salinger, muito menos Kafka. Maslowska deveria ser apresentada apenas como ela mesmo, uma jovem de talento que gera boas expectativas para sua ainda iniciante carreira na literatura.

Serviço: Branco Neve, Vermelho Rússia, de Dorota Maslowska (tradução de Marcelo Paiva de Souza. Record, 256 págs., R$ 34,90).

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