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A primeira semana de maio marcará, na prática, o início de uma nova fase na carreira do diretor teatral Felipe Hirsch. É quando ele pretende deixar um pouco de lado as atividades da Sutil Cia. de Teatro, da qual é sócio, para se dedicar ao seu primeiro trabalho no cinema: Insolação. O filme, orçado em R$ 3,7 milhões (valor razoável para produções nacionais), será rodado em cerca de três meses nas cidades de São Paulo e Brasília. A estréia, prevista para o segundo semestre de 2007, deve ocorrer no Festival do Rio de Janeiro.

"É uma história de amor no estilo eslavo, que busca as sensações de um conto russo ou polonês", adianta Hirsch, carioca revelado artisticamente em Curitiba, onde ajudou a fundar a Sutil – responsável por espetáculos como A Vida É Cheia de Som e Fúria, Temporada de Gripe e Avenida Dropsie. Textos de Bunin, Tchecov e Pushkin, entre outros escritores do Leste Europeu, serviram de matéria-prima para o roteiro, escrito a oito mãos pelo diretor, a produtora Daniela Thomas e os norte-americanos Will Eno e Sam Lypsite.

O argumento dá conta de quatro personagens, moradores de uma cidade utópica e tropical, que se cruzam ao conhecer Andrei (Paulo Autran), uma figura ao mesmo tempo anônima e fascinante. Suas vidas sem rumo se transformam a partir desse encontro, sendo a "insolação" do título uma metáfora para o amor. Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Caio Blat e um ator a ser definido vivem o quarteto de protagonistas. O elenco ainda traz Leandra Leal, Eliane Giardini, Fernanda Farah, Mário Schoemberger e Ricardo Blat. O veterano fotógrafo Félix Monti (A História Oficial) e o "trilheiro" Antonio Pinto (Cidade de Deus) também estão no projeto.

Além de Spoladore, Farah e Schoemberger, outros paranaenses participam da produção. O realizador Murilo Hauser trabalha como segundo assistente de direção. Guilherme Weber, ator e um dos sócios da Sutil, colabora na escalação e preparação do elenco. E o grupo de rock Beijo AA Força cede uma canção para a trilha sonora. "Outros atores locais estarão no filme, ainda que isso não faça muita diferença para mim", afirma Hirsch.

Conhecido por levar elementos do cinema para o teatro, o diretor agora quer fazer o caminho inverso. "Os filmes de hoje em dia são supereditados, velozes. Quero dar mais tempo para os personagens, para que eles possam falar mais se precisarem. Para isso, é importante confiar na palavra, no ator", diz. "A idéia é reeducar, repensar e re-experimentar os sentidos", acrescenta o fã do sueco Ingmar Bergman e do brasileiro Walter Hugo Khouri.

Esse tempo "diferente" proposto no longa também se estende para a produção. De acordo com o diretor, o projeto de Insolação só foi adiante porque os produtores Roberto Amaral e Daniela Thomas respeitaram seu ritmo de trabalho e a agenda da Sutil – que este ano apresentará Avenida Dropsie nos EUA, Japão e Europa. Sobre a completa inexperiência atrás das câmeras, Hirsch afirma que não se cercou de nomes tarimbados à toa. "Mesmo assim, estou estudando feito um doido. Não me contentaria em entrar num projeto desses sem me preparar", garante.

Por fim, uma questão crucial nestes tempos de política cultural petista: o filme possui a famigerada "contrapartida social" (vínculo com a comunidade ou algo do tipo)? "Não. Também não há um esforço para ‘mostrar o Brasil’. Sou brasileiro e esse é o meu filtro, não vou muito além disso. Não quero, de jeito nenhum, me comparar ao Bergman, mas o que os filme deles mostram da Suécia? Quero contar uma história universal", conclui o diretor. A julgar pelo patrulhamento ideológico arraigado no meio do cinema nacional, vem polêmica das boas por aí.

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