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Grandes redes estão de olho nos frequentadores dos shoppings centers, como a professora Renata Gardiano, que vê as livrarias como um espaço de lazer tranquilo | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Grandes redes estão de olho nos frequentadores dos shoppings centers, como a professora Renata Gardiano, que vê as livrarias como um espaço de lazer tranquilo| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Diferenças

No Brasil, redes dominam

O mercado de livros no Brasil é hoje dominado pelas redes. As empresas com uma única loja ou com atuação limitada a um município estão desaparecendo. Em Curitiba, as Livrarias Ghignone fecharam seu último ponto de venda em agosto, depois de 90 anos de atuação no mercado local. Atualmente, a única grande livraria em operação na cidade que não é ligada a uma rede é a Livraria do Chaim. A rede Curitiba, que nasceu na capital, hoje tem lojas também em Londrina, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Na Europa e nos Estados Unidos, o cenário é o oposto. As grandes redes vêm passando por um encolhimento provocado pela concorrência dos livros digitais e pela crise econômica. A gigante americana Borders, que chegou a empregar 10 mil pessoas, foi à falência em julho.

Leitores

Setor depende das escolas

O mercado editorial brasileiro tem uma peculiaridade: é rico em publicações e pobre em leitores. Em 2010, último dado disponível no país, foi publicada uma média de 210 títulos por dia útil, segundo cálculo feito pelo escritor e ex-diretor da Biblioteca Nacional Affonso Romano de Sant’Anna e publicado na última edição do jornal literário Rascunho. Por outro lado, as tiragens são muito modestas. Mesmo autores renomados lançam seus novos títulos em lotes de, no máximo, 3 mil exemplares. Segundo o documento Retrato da Leitura no Brasil, preparado pelo Instituto Pró-Livro, o índice médio de leitura, em 2007, foi de 3,7 livros por brasileiro/ano. E o mesmo estudo registrou que este índice é inflado pelas leituras recomendadas pelas escolas.

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A venda de livros é a conse-quência. Esse é quase um mantra repetido por diretores de livrarias, que admitem diversificar a oferta de produtos incluindo espaços para alimentação e espetáculos dentro das lojas para atrair novos clientes. De acordo com levantamento da Associação Nacional de Livrarias (ANL), pelo menos 49% dos estabelecimentos, no Brasil, oferecem cafeteria, lan-house ou atividades culturais frequentes, como palestras e pequenos shows. Seguindo a receita do combo "serviço, entretenimento e venda de livros", a Livraria Cultura abre uma loja no Shopping Curitiba nesta semana (leia matéria na página ao lado). O diretor-presidente do grupo paulista, Sergio Herz, apresenta a ambição nessa sua primeira empreitada paranaense: "O objetivo da empresa é tornar-se um ponto de encontro cultural, uma parte do cotidiano dos curitibanos, um local mais de entretenimento do que de vendas". Para conseguir isso, manterá uma agenda de eventos, cursos e espetáculos. "Entendemos que o projeto de fazer parte da vida de Curitiba como ponto de encontro cultural não será concretizado do dia para a noite." Por isso, Herz investirá na programação cultural para que ela seja uma característica marcante da loja desde o início.

Para o shopping, a chegada de uma livraria que já tem uma reputação entre os leitores locais – muitos já são clientes da loja virtual –, traz boas expectativas. A gerente de marketing do Curitiba, Andrea Costa, diz que "a marca é forte e pode atrair público em um raio de até 300 quilômetros".

Os concorrentes já instalados na cidade dizem acreditar na acomodação do mercado de livros após a abertura de mais uma grande loja. Cada um deles aponta suas armas. "Uma filial não tem o mesmo interesse e compromisso com a região do que uma empresa que é daqui", argumenta Marcos Pedri, diretor comercial das Livrarias Curitiba, que tem oito lojas na capital. A empresa paranaense – que deve fechar 2011 beirando os 5 milhões de livros vendidos no atacado e varejo – prevê que não terá sua fatia de mercado reduzida, mesmo com a vinda de outra rede forte. "Já passamos por isso com a chegada da Fnac [em 2003], mas nossa agenda cultural é mais completa e mantemos uma oferta de autores paranaenses e curitibanos que mais ninguém possui", diz.

Por sua vez, o gerente da Fnac, Laércio Demarchi, vê na chegada de uma grande marca como a Cultura um sinal de amadurecimento do público. "Isso significa que o curitibano gosta de comprar livros. Mas nós oferecemos um mix de produtos que é único, então temos clientes que sabem o que vão encontrar aqui", diz.

Depois de a cidade ver fecharem suas livrarias de rua, que vendiam basicamente livros, agora o momento é mesmo das redes que usam estratégias variadas para fazer o consumidor entrar e circular por seus espaços. "As livrarias têm de estar de acordo com a atualidade e oferecer produtos que vão ao encontro da vontade do público que procura livros, mas que também quer encontrar eletrônicos, artigos relacionados ao cinema ou à música, e ainda, assistir um espetáculo ou fazer um curso", comenta o vice-presidente da ANL, Arcangelo Zorzi Neto.

Mais opções

Além da Cultura, é provável que Curitiba receba uma loja de outra rede de livrarias, que será instalada no Pátio Batel, shopping center que tem previsão de inauguração em meados de 2012. Embora não haja confirmação, há rumores de contato com a Livraria da Vila, de São Paulo. "Independentemente da cidade onde estivermos, queremos ser um espaço especial, que seja considerado um polo cultural", diz Samuel Seibel, presidente da empresa, que não confirma a vinda da Vila para a capital paranaense. "Com certeza oferecer uma boa loja de livros e produtos culturais é um dos pilares para o negócio atualmente", diz a gerente de marketing do Pátio Batel, Sônia Marques.

Para recebers as lojas, os shoppings precisam fazer investimentos também. O preparo para a chegada da Livraria Cultura no Shopping Curitiba durou quase um ano. "Nós preparamos a equipe de segurança e de outros serviços, como praça de alimentação e estacionamento, para a possível demanda que a livraria pode oferecer", conta Andrea Costa.

Oásis

Cafeteria, ambiente com iluminação menos intensa e possibilidade de manusear livros e produtos. "As livrarias acabam servindo como um oásis para quem quer fugir do agito dos shoppings", aponta Pedri, diretor das Livrarias Curitiba. Esse mistura de opções oferecidas nas livrarias é aproveitada pela professora de inglês Renata Gardiano, de 36 anos. Ela conta que as filhas, que têm 4 e 7 anos, veem as visitas às livrarias como passeio. "Quando vamos aos shoppings, as livrarias são ‘parada obrigatória’", relata. Ela também costuma comprar livros para presentear, mas não tem ideia de quanto gasta com livros. "Não é um valor fixo, mas tenho uma lista de títulos para ler e aos poucos vou alimentado minha biblioteca", diz.

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