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Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini em Vida: “Gente é pra brilhar” | Bruno Tetto/Divulgação
Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini em Vida: “Gente é pra brilhar”| Foto: Bruno Tetto/Divulgação

O desejo, a vontade de fazer, é um dos assuntos de Vida, montagem da Companhia Brasileira de Teatro, exibida no último fim de semana na Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba.

Os quatro personagens, apresentados com os nomes dos próprios atores, são reféns da cidade; mais do que isso, do local onde estão, vivem e de onde querem sair. No entanto, parece não haver saídas, ou eles não têm olhos para ver nem mãos para inventar um trampolim que os arremesse para outro espaço-tempo.

Diante da impossibilidade de mudança, eles se organizam, montam uma banda e ensaiam para uma única apresentação.

Enquanto esperam pela grande noite, conversam, se expõem, dialogam, brigam, contam piadas, choram, e tudo isso dialoga com o que é ou pode ser a palavra que dá título à montagem.

Vida resultou de ampla pesquisa a respeito da trajetória e obra de Paulo Leminski (1944-1989). Mas, em uma situação hipotética, se o espectador não for informado de que se trata de uma peça que surgiu a partir de Leminski, não fará muita diferença.

É possível até dizer que Vida não é, necessariamente, uma peça sobre Leminski.

Rodrigo Ferrarini quando fala sem parar, tentando explicar tudo, pode lembrar quem teria sido o poeta paranaense, que era capaz de empreender discursos tão longos como os de Fidel Castro. Mas o personagem de Ferrarini também pode ser entendido como um curioso, com vontade de fazer algo, sejá lá o que for esse algo.

A cidade-prisão, em algum momento, é comparada a uma mãe, que tudo dá, pouso e comida, mas que cobra o pedágio, o aprisionamento, e essa cidade pode ser Curitiba. Mas também pode ser uma metáfora para Leminski, autor de uma obra que tende a "abduzir" leitores, que se tornam fãs, e em geral permanecem longas temporadas gravitando ao redor, e endeusando, tudo o que Leminski escreveu.

Se Najda Naira atua bem, Giovana Soar surpreende, mas a excelência é de Rodrigo Ferrarini e a genialidade, de Ranieri Gonzalez.

Ferrarini e Gonzalez declamam um trecho de um poema do poeta russo Vladímir Maiakóvski (1893-1930). Eles dizem: "Brilhar pra sempre,/ brilhar como um farol,/ brilhar com brilho eterno,/ gente é pra brilhar,/ que tudo o mais vá pro inferno/ este é o meu slogan/ e o do sol."

Em Vida, emerge a ideia de que é, sim, o desejo que tudo move, e é possível brilhar mesmo em uma urbe cinzenta, onde sempre chove e que aprisiona a tudo e a todos.

Acima de tudo, é Ranieri Gonzalez quem brilha. Pois Gonzalez foi feito para brilhar. GGGG

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