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É aquela velha história: "Você pode deixar a guerra, mas a guerra não deixa você". O ditado pode ser batido, mas continua fazendo todo o sentido. Principalmente para os milhares de militares americanos que neste momento estão de guarda em algum lugar do Iraque. Isso talvez explique por que um filme tão crítico como Soldado Anômimo tenha feito sucesso nos EUA, onde qualquer objeção quanto à política internacional corre o risco de ser taxada de "atitude antipatriótica".

Em cartaz a partir de hoje em Curitiba, o novo filme do diretor britânico Sam Mendes (Beleza Americana) mostra a guerra do ponto de vista de um grupo de fuzileiros navais destacados para a "primeira" Guerra do Golfo (1991). Garotos de 18 a 20 anos, enviados para uma terra desconhecida para defender não se sabe bem o quê. Alguns até questionam os motivos pelos quais estão ali, mas não há muito a fazer: apenas servir e sobreviver.

Ao humanizar seus personagens – e não transformar o filme em um panfleto anti-bélico –, Mendes cria um equilíbrio de forças. O espectador vê a guerra com olhos críticos, irônicos até, porém não deixa de se solidarizar com os jovens combatentes. Daí o êxito comercial de Soldado Anônimo também entre o público americano mais conservador: de alguma forma, são seus filhos, amigos e parentes que estão representados na tela.

Baseado no livro de memórias do ex-soldado Anthony "Swooff" Swofford (um dos best sellers de 2003 nos EUA), o longa tem como protagonista o próprio autor, interpretado por Jake Gyllenhaal (O Dia Depois de Amanhã). Filho de um veterano do Vietnã e sem perspectivas em sua cidade-natal, Swoof se alistou por pura falta de opção, assim como a grande maioria de seus colegas. E enquanto a guerra não vem, ele encara uma dura rotina de treinamento, comandada pelo Sargento Sykes (Jamie Foxx, vencedor do Oscar por Ray, perfeito na pele do militar durão, porém compreensivo).

Acontece que, mesmo com as tropas ianques já instaladas no Golfo, a hora do conflito propriamente dito nunca chega – para desespero dos soldados, afoitos para colocar em prática seus conhecimentos e, de lambuja, matar meia dúzia de iraquianos. Aliás, a palestra-show em que o coronel Kazinski (Chris Cooper, ganhador do Oscar por Adaptação) incita seus comandados a "detonar" os inimigos é uma das seqüências mais sarcásticas (e brilhantes) do filme.

Outro momento marcante é a exibição de Apocalypse Now para os recrutas. Ainda em solo americano, o batalhão assiste ao clássico de 1979 para se "inspirar" para o combate. Torcendo pelos personagens compatriotas aos gritos, como se estivessem acompanhando uma partida de futebol, os jovens fuzileiros nem se dão conta de que o filme de Francis Ford Coppola é uma denúncia dos horrores e da irracionalidade da guerra. Outras referências ao gênero aparecem ao longo da produção, direta ou indiretamente: Nascido para Matar, Três Reis, Tigerland, O Franco Atirador.

Quando o conflito começa para valer, a logística da chamada "guerra limpa", ou "inteligente", coloca uma pá de cal na empolgação dos recrutas. Afinal, um exército que dispõe de equipamentos de alta tecnologia não precisa lutar tête-à-tête. Mata de longe, fria e calculadamente. Terminada a guerra, os soldados voltam para suas vidinhas comuns sem dar um tiro sequer. Mas nunca mais serão os mesmos, como bem diz o velho ditado.

GGGG

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