• Carregando...
Figuras solitárias são uma marca das imagens reunidas no livro e na exposição de Nego Miranda | Fotos: Nego Miranda/Divulgação
Figuras solitárias são uma marca das imagens reunidas no livro e na exposição de Nego Miranda| Foto: Fotos: Nego Miranda/Divulgação

Bibliografia

Confira quais foram os títulos que serviram de inspiração para as imagens do livro

A Eterna Solidão do Vampiro

234 Ministórias

33 Contos Escolhidos

Abismo de Rosas

A Guerra Conjugal

Crimes de Paixão

Dinorá

Mistérios de Curitiba

Novelas Nada Exemplares

O Rei da Terra

Pão e Sangue

Rita Ritinha Ritona

O Pássaro de Cinco Asas

  • Cenário recorrente na obra de Dalton Trevisan, o Passeio Público é mostrado de modo ameaçador

Diante de cenas do cotidiano em vários locais de Curitiba, Nego Miranda e Letícia Magalhães lembravam da ficção de Dalton Tre­­visan. "Lá do Passeio Público, o brado retumbante do leão, esquecido pelo último circo", escreveu o contista em Crimes de Paixão.

"Curitiba é o grande personagem na obra do Dalton", diz o fotógrafo Miranda. Em conversas com a enteada Letícia, professora do Colégio Sion, sondaram a possibilidade de fazer um livro de fotografias sobre a cidade de acordo com a obra de Trevisan.

Leitores do autor de Violetas e Pavões, os dois se dispuseram a seguir os passos do Vampiro, re­­tratando uma Curitiba que pouco tem a ver com cartões-postais. Ti­­veram o projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, no valor de R$ 84 mil, e o resultado da empreitada virou livro e exposição, de nome A Eterna Solidão do Vampiro (confira o serviço).

A mostra com 30 fotografias, legendadas por trechos de contos de Trevisan, abre hoje à noite na Casa Andrade Muricy. No evento, será feito o lançamento do volume com 64 imagens, capa dura e papel cuchê, que deve ser vendido na própria galeria e, mais tarde, nas Livrarias Curitiba e, claro, na Livraria do Chain (uma espécie de escritório de Trevisan, onde Miranda deixou o projeto do livro para a aprovação do escritor).

Aos 64 anos, o fotógrafo realizou vários trabalhos documentais, viajando pelo estado para registrar imagens ligadas à produção de erva-mate ou à arquitetura de madeira. Ao fazer imagens inspiradas pela obra de Dalton Trevisan, Miranda pela primeira vez teria de criar tanto quanto observar.

Ele compara ao processo à adaptação de um livro para o cinema. Existe um texto de base, mas é preciso imaginar um universo visual para o que está escrito. "É um risco", diz. No caso das fotografias de A Eterna Solidão do Vampiro, elas traduzem descrições breves descrições de Curitiba, falas de personagens ou afirmações violentas de um narrador nada condescendente. Como em: "Curitiba é uma boa cidade se você for a pedra solta na rua, o galho seco de árvore, a pena de pardal soprada ao vento" (234 Ministórias). Ou ainda: "Bom dia, Curitiba – ó vaca mugidora que pasta os lírios do campo e semeia fumegantes bolos verdes de sonho" (Crimes de Paixão).

Apesar de terem usado 12 livros de referência, Miranda e Letícia repassaram quase toda a obra do Vampiro. No processo, imagens levavam a trechos de contos e vice-versa. As pesquisas iconográfica e literária se influenciaram mutuamente. Em alguns casos, bons textos não rendiam boas fotos (como a da chamada "Ponte Petra", na Rua João Negrão, perto da Rodoviária), mas certas fotos eram inevitáveis (como as da Praça Tiradentes e da Rua Riachuelo).

No livro, um dos temas recorrentes é o Passeio Público – um cenário sempre presente nos contos de Trevisan. A fotografia na capa do livro mostra a silhueta de alguém caminhando pelo passeio, emoldurado pelas árvores. A imagem é em preto e branco, feita com uma exposição longa somada a um movimento sutil da câmera. O efeito é sombrio, turvo e parece retratar um pesadelo.

Para Letícia, autora também da apresentação do livro, uma das imagens mais marcantes é a da estátua de uma criança, feita no Cemitério Municipal, para um trecho tirado do livro A Guerra Conjugal, que diz "A menina, culpada diante do pai, só dormia de luz acesa, a escuridão cheia de diabinhos".

A maioria das fotos – todas flagrantes, nenhuma encenada – foi feita à noite, ao amanhecer, ou ao entardecer, usando técnicas variadas que vão da máquina digital ao infravermelho. Há neblina, sombras e trevas. Seguindo o rastro de um vampiro, não poderia ser diferente.

Miranda não conhece Trevisan e o mais perto que chegou dele neste projeto foi ao fotografar um bordel nas redondezas da Rua Ubaldino do Amaral, próximo da casa do escritor. O fotógrafo não pensou em fotografar o autor. "Cercá-lo, como fazem por aí, é uma invasão", diz.

Serviço

A Eterna Solidão do Vampiro (a exposição). Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915), (41) 3321-4798. Abertura hoje, às 18h30. 3ª a 6ª das 10 às 19h, sáb. dom. e fer. das 10 às 16h. Até 13 de junho.

A Eterna Solidão do Vampiro (o livro), de Nego Miranda. Edição do autor, 160 págs., R$ 70 (à venda na Casa Andrade Muricy).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]