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"Vocês todos têm razão: ninguém agüenta mais ouvir Caetano Veloso falando de tudo". A frase saiu da boca do cantor em um vídeo apresentado na noite desta terça-feira (11), antes de Caetano começar a conversar com jornalistas sobre o lançamento de "Multishow ao vivo - Cê", CD e DVD gravados em junho, na Fundição Progresso, cujo conteúdo será exibido pelo canal a cabo, no dia 9 de outubro, às 22h15m.

- Aquilo não é opinião minha - disparou o cantor.

Nos shows da turnê "Cê", a mais rock'n'roll da carreira de Caetano Veloso, o músico costuma brincar com a frase, plagiada da lista de comentários do blog do colunista do Globo Online Jorge Bastos Moreno, que publicou uma entrevista polêmica do baiano, estimulando a discussão entre os leitores. Na coletiva de imprensa, Caetano falou... de tudo, pra variar. E, desta vez, um pouco mais sobre política, religião e sexualidade, temas que, direta ou indiretamente, estão no repertório do seu novo trabalho.

- As pessoas nunca entendem o que quer dizer a letra quando canto "Amor mais que discreto", ninguém nota que é gay. Até agora, não senti nenhum preconceito. "Gay" é uma palavra americana que quer dizer "alegre". Mas, hoje, ninguém mais pode dizer que uma coisa é gay, porque um grupo neonazista skinhead pode aparecer. Antigamente, o cara fazia uma arma com o dedo e um barulho com a boca para simular o disparo, só para humilhar. Não sei se é certo a pessoa ser gay, só sei que é uma possibilidade. Parece que os jovens não têm mais motivação para ser libertários. Uma menina transar com o namorado e os pais saberem, na minha época, era impensável. Eu dizia que era sueco, porque na Suécia isso acontecia. Lá, era o que chamávamos de amor livre - divagou Caetano.

"Amor mais que discreto" é a única música inédita do disco. Junto com ela estão "Rocks" e "Odeio", do "Cê", e as clássicas "Sampa", "Desde que o samba é samba" e "London London", entre outras. Do disco "Transa" (1972), o baiano trouxe para o repertório do show - e do CD/DVD - "Nine out of ten" e "You don't know me".

- Esse pessoal jovem parece que gosta do "Transa". Li, numa entrevista, o pessoal da banda inglesa Magic Numbers dizer que achava os arranjos de "Transa" interessantes - explicou.

De acordo com Caetano, "Fora da Ordem" surgiu como possibilidade depois que Max de Castro o convidou para cantá-la (numa canja) em seu show e ele teve que confessar ao músico que não sabia a letra.

- O Max de Castro pediu para a banda tocar e eu não me lembrei. Prometi a ele que cantaria no primeiro show que fizesse. Quando ensaiamos, senti que ela era muito atual. O arranjo ficou do ca... - disse o músico, repetindo a frase do guitarrista e produtor Pedro Sá e completando: - E aconteceu isso com "Como dois e dois" também.

Para a crise no mercado fonográfico, Caetano Veloso deu de ombros. Também não se mostrou preocupado com o risco de o projeto "Multishow ao vivo - Cê" parecer precoce, afinal, o disco de estúdio ainda está em voga e sua turnê sequer chegou ao fim - o músico ainda toca na Europa e em diversas cidades dos Estados Unidos nos próximos meses.

- No fundo, o artista não liga para nada disso. A empresa pode acabar, pode se transformar em outra coisa... Os organizadores do marketing do Multishow e da Universal tem seu "tempismo", como se diz em italiano, adequado. Se está dando para fazer, eu faço. Voltei da turnê hispano-americana e vou para a européia depois daqui - disse Caetano, que no domingo ainda aproveita a passagem pela Bahia para assistir à missa de comemoração dos 100 anos de sua mãe, dona Canô.

O músico aproveitou o momento para exaltar mais uma vez Roberto Mangabeira (ministro-chefe da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo), alfinetar o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, e apoiar Lobão, que entrou na TV Senado usando uma camiseta com a frase "Peidei, mas não fui eu" estampada:

- Há anos venho falando de Mangabeira e a imprensa resiste em citar que eu falei. Eu gosto do Mangabeira porque ele não quer que o brasileiro seja pequeno e quer um projeto para a esquerda. Lula é ótima figura histórica, mas agora fica defendendo esse "Renan Collor de Mello Calheiros"... Sou mais o Lobão, com a camisa "Peidei, mas não fui eu".

Para finalizar, comemorou a decisão da justiça de condenar a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) em São Paulo a devolver uma doação de R$ 2 mil feita pelo motorista Luciano Rodrigo Spadacio, um fiel convencido a entregar o que tinha à instituição, com a promessa de que sua situação financeira melhoraria.

- Eles asseguraram que o cara ia ficar rico e prosperar. Ele não ficou e processou a Igreja. "Chega de falsas promessas" é a nossa mensagem - afirmou Caetano, plagiando o nome do disco do Canastra, banda da qual seu baterista, Marcelo Callado, faz parte.

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