Calou-se a viola

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Campo Grande (AE) – Morreu ontem em Campo Grande (MS) uma das maiores instrumentistas brasileiras, a violeira Helena Meirelles. Aos 81 anos, a compositora foi vítima de pneumonia crônica aguda. Seu estado de saúde era frágil desde o ano passado e estava com insuficiência respiratória que a obrigava a respirar com a ajuda de máscara de oxigênio.

Helena foi casada três vezes e teve 11 filhos, os quais deu à luz sozinha. A união com seu último marido, Constantino Machado, durou 42 anos. Conhecida como a Dama da Viola, Helena Meirelles nasceu numa sexta-feira 13 de agosto de 1924, em uma fazenda no pantanal do Mato Grosso do Sul. Analfabeta e autodidata, aprendeu a tocar aos nove anos, fascinada pelas violas caipiras. Como era proibida de tocar pelos pais, que não admitiam mulher artista na família, escondia-se para ouvir as reuniões musicais organizadas pelo avô. Tempos depois, já animava bailes, festas juninas e noitadas em bordéis freqüentados por boiadeiros como a primeira violeira da região. Compositora, cantora, violeira, empregada doméstica, passou boa parte da vida tocando em bordéis.

A artista só foi descoberta pelo grande público aos 70 anos. Em 1993, seu sobrinho enviou uma fita demo para a revista norte-americana Guitar Player. Isto lhe rendeu o prêmio Spot Light Artist. Helena é a única brasileira que está na lista das "100 mais palhetas do século" da publicação, por tocar violas de 6, 8, 10 e 12 cordas, ao lado de artistas como Eric Clapton e George Benson.

Só então gravou seu primeiro CD Helena Meirelles (1994) pela gravadora Eldorado. A partir daí, começou a lucrar com seu trabalho, até então feito por diversão. Gravou mais dois CDs, Flor de Guavira (1996) e Raiz Pantaneira (1997), também com o selo Eldorado. O último, De Volta ao Pantanal (2002), foi uma gravação pirata feita sem autorização da instrumentista.

Filmou o curta-metragem O Enigma de um Dia ao lado do ator Leonardo Villar, e em 2000 o cineasta Francisco de Paula se interessou em contar sua história. Começou a gravar Helena Meirelles, A Dama da Viola no ano seguinte. O filme estreou em 2004.

Helena Meirelles divulgou a música sertaneja por onde passou. Com sua música singular, tocava rasqueados, polca paraguaia e temas mato-grossenses. Tinha a tradição de em toda Sexta-Feira Santa fabricar suas palhetas usando chifre de boi.