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Noite que começa no teatro é como CPI: normalmente termina em pizza. O diretor curitibano Cesar Almeida pretende mudar isso com a peça que estréia hoje à noite. "Falo para os atores que nós temos que tirar a vontade do espectador de sair daqui direto para a pizzaria", comenta ele. O objetivo é fazer as pessoas pelo menos pensarem durante um tempo sobre o que assistiram. Sentirem um ligeiro desconforto, algo que os faça desconfiar de que deveriam estar fazendo alguma coisa diferente com suas vidas. O próprio nome da peça diz isso: Desassossego.

A peça é inspirada no Livro do Desassossego, que o poeta português Fernando Pessoa escreveu e creditou a um de seus heterônimos, Bernardo Soares. Heterônimos sendo os falsos poetas que Pessoa criou, cada um com um estilo diferente, para atribuir suas obras. Trata-se de um punhado de fragmentos, pequenas reflexões sobre o mundo e a vida. De um ponto de vista – para dizer pouco – angustiado. O livro, que nunca foi publicado durante a vida do autor, é considerado um clássico. Cesar Almeida diz ter conhecido o texto há cerca de oito anos. Desde então, estava resolvido a montá-lo. Agora, com o projeto aprovado na Lei de Incentivo à Cultura do município, foi em frente.

Embora seja baseada em pequenos textos que poderiam ser entendidos, no teatro, como monólogos, Almeida disse que tentou evitar a simples declamação. "Não é jogral", confirma. A peça se baseia nos textos e em uma série de coreografias. "Imagino que as pessoas vão querer ver mais de uma vez, até para entender bem o que está sendo dito, já que os textos nem sempre são simples", afirma o diretor, absolutamente entusiasmado pelo texto. Na divulgação do espetáculo, chega a dizer que o livro de Pessoa "com certeza supera de longe os textos de Shakespeare, Joyce, Baudelaire, Beckett".

Almeida, provavelmente o mais polêmico diretor de teatro da cidade, diz não ter tem por costume montar textos alheios no palco. Mas, com Fernando Pessoa, abriu uma exceção por sentir que o poeta dizia tudo o que ele queria dizer. O resultado, segundo ele, é extradramático. O que, de certo modo, é curioso, levando em consideração a fama do encenador, conhecido por sua ironia, excesso de uso de nus e abordagem de temas picantes, como homossexualismo e religião.

Segundo o diretor, o fato de a peça estar sendo montada agora, durante a baixa temporada de teatro, quando boa parte da cidade está em viagem de férias, vem das boas experiências que ele teve em janeiros passados. "É bom fazer produções nessa época, porque você quase não tem concorrência."

Serviço: Desassossego. Espaço Cultural Falec (R. Mateus Leme, 990), (41) 3352-2685. 5.ª a dom., às 21h. R$ 10 e R$ 5.

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