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Parece uma competição às avessas: quem vai gravar a pior música da Copa? A contar pelo grande número de concorrentes, a disputa será acirrada desta vez. Do ministro Gilberto Gil ao pornográfico Latino, artistas de todas a vertentes compuseram temas de exaltação à seleção, na esperança de que suas pérolas futebolísticas caiam no gosto do povão. Até os evangélicos entraram na briga, com a coletânea gospel Brasil com Cristo – Batendo um Bolão, composta de temas como "O Gol de Emanuel" e "Pedala Crente" (acreditem, isso não é uma piada).

Precavido, o grupo de forró-mauricinho Falamansa gravou duas de uma vez, "Hoje É Dia de Copa" e "Mistura de Raça". As músicas fazem parte de um CD virtual lançado pela gravadora Deckdisc, que vende cada uma das dez faixas por R$ 1,99 (as do Falamansa são mais baratas, custam R$ 0,99). O disco ainda traz nomes como Revelação, Tchakabum e DuSouto, este último presente com "Ié Mãe Jah". Você compraria pela internet uma canção com esse título?

Implicância à parte, outra companhia atenta à Copa é a EMI, responsável pelo álbum Hexa Brasil!. O CD conta com 13 faixas (em homenagem ao número da sorte do roupeiro, digo, auxiliar técnico Zagalo) de Margareth Menezes, Cheiro de Amor, Latino, Harmonia do Samba, Frank Aguiar e Olodum, entre outros. Daniela Mercury também está no disco, mas sua música não tem nada de futebol na letra. Ainda assim, "Levada Brasileira", uma das mais tocadas no último Carnaval, é considerada um dos prováveis hits do torneio.

O que não seria nenhuma novidade. Afinal, o penta de 2002 também foi embalado por duas canções que também passavam longe de qualquer referência esportiva. "Festa", de Ivete Sagalo, e "Deixa a Vida Me Levar", de Zeca Pagodinho, foram adotadas pelos próprios jogadores da seleção e, depois, pela massa de torcedores. E ninguém sentiu falta dos temas de ocasião...

Falando neles, nada supera "Balé de Berlim", de Gilberto Gil. O "ministrartista" conseguiu a façanha de compor a música mais fraca de sua carreira (leia trecho ao lado). Se os forrozeiros do Falamansa escreveram um tema ruim, isso é compreensível. Mas Gil, com tantos serviço prestados à MPB, não poderia se dar ao mesmo luxo.

A canção começa evocando a figura folclórica do Saci – alguma semelhança entre o moleque de uma perna só e o atrapalhado zagueiro Cris? Em seguida, rima milhões com pulmões, Berlim com Senhor do Bonfim e nação com irmão. Sofrível. E o que dizer dos versos que o ministro encontrou para driblar o estigma futebolístico de "ópio de povo"? "O Carnaval não mata a fome/ Nem mata a sede o São João/ Mas nem só de pão vive o homem/ Por isso viva a seleção", diz a canção, gravada em dupla com Zeca Pagodinho.

Se servir de consolo, a música oficial da Copa também não é lá essas coisas. Escolhida pela FIFA, "Time of Our Lives" é uma balada melosa assinada pelo sueco Jorgen Elodsson, que já escreveu sucessos de Britney Spears e Westlife. E o pior: a gravação ficou a cargo do Il Divo, um grupo pop-operístico cafona como um penteado bolo-de-noiva. Vai um sambinha aí?

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