
São Paulo - Uma grande artista nascia há cem anos (comemorados ontem), em Portugal: Maria do Carmo Miranda da Cunha, ou apenas Carmen Miranda, uma das cantoras mais brasileiras, apesar do "acidente geográfico".
Carioca desde os 18 meses de vida, Carmen cresceu em meio a artistas, na pensão de seus pais, no Rio de Janeiro. Começou sua carreira meteórica em 1928. Em 1929, gravou seu primeiro disco e foi reconhecida pelos estrangeiros que aportaram por aqui.
"Desde o momento em que estreou, em fins de 1929, até sua partida para os Estados Unidos, em 1939, fez tudo o que era possível fazer no show business brasileiro: foi a maior cantora de samba, de Carnaval, do rádio, do disco, do cinema e do cassino", avalia o jornalista Ruy Castro, autor de Carmen Uma Biografia.
Nos EUA, ela virou estrela. "Carmen seria capaz de vencer cantando até em uma língua que ninguém entendia, como o português, o que ela fazia em todos os seus filmes de Hollywood", lembra.
Pouco antes da partida para os EUA, Carmen praticamente reinventou a carreira, no filme Banana-da-Terra, de Wallace Downey, rodado em 1938. Após Ary Barroso cobrar caro por suas músicas, ficou decidido que Carmen gravaria um compositor barato.
"O Braguinha e o Mário Lago lembraram que havia um jovem baiano que tinha uma música que falava da Bahia. Era meu avô Dorival Caymmi. Ele fez uma gravação de O Que É Que a Baiana Tem? e foi à casa da Carmen, na Urca, onde cantou sua música, e ela gostou muito dele", conta a neta de Caymmi, Stella Caymmi, autora de Dorival Caymmi O Mar e o Tempo.
A baiana estilizada por Carmen se impregnou à sua imagem. "Quando ela tentava se livrar do traje exótico, não conseguia. Ela ficou escrava da caricatura da baiana", afirma Stella. Castro tem outra opinião.
"O que seria essa imagem caricata da baiana? Você acha que ela devia se fantasiar de Rui Barbosa, Castro Alves ou de algum baiano intelectual? Não, nada disso nunca a incomodou. O que angustiava Carmen era que seus filmes não fossem melhores, mais bem escritos", diz.
Carmen morreu aos 46 anos, de ataque cardíaco, em Los Angeles, em 5 de agosto de 1955. Seu enterro, no Rio, foi acompanhado por milhares. "Ela propiciava fantasia às pessoas, com um repertório que primava pela qualidade e alegria", afirma Stella. Para Castro, o Brasil ainda precisa descobri-la. "Por enquanto, o Brasil só quer saber da artista internacional que ela se tornou a partir de 1939. Espero que, com as comemorações do seu centenário, os brasileiros descubram a grande cantora brasileira."



