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Carmen nunca se incomodou em encarnar uma “imagem caricata” de baiana | Reprodução
Carmen nunca se incomodou em encarnar uma “imagem caricata” de baiana| Foto: Reprodução

Na tela

Leia mais sobre carreira de Carmen Miranda no cinema:

> Dos seis filmes que Carmen Miranda fez no Brasil, o mais memorável é Alô, Alô Carnaval (1936), de Adhemar Gonzaga, no qual contracena com a irmã, Aurora. Carmen e Aurora, de fraque e cartola estilizados, interpretando "Cantores do Rádio", música de João de Barro e Lamartine Babo, é a imagem que ficou.

> O resto de sua filmografia é norte-americana, a começar por Serenata Tropical (1940) até o último, Morrendo de Medo, de 1953, num total de 14 produções.

> Nos EUA, Carmen flutuou à mercê dos interesses da indústria. Em seu primeiro filme se alinhou à então política da boa vizinhança, representando não apenas o Brasil mas todo o continente sul-americano, com o qual os Estados Unidos deveriam permanecer aliados durante a Segunda Guerra, guerra que já acontecia na Europa. Por isso ela interpretava um "South American Way", canção de Jimmy McHugh, e não um hipotético "Brazilian Way".

> Em Entre a Loura e a Morena se encontra a sequência surrealista (involuntariamente) do número musical "The Lady with the Tutti-Frutti Hat", profusão de frutas em inacreditável cenário kitsch.

> O fato de Carmen ter sido renegada no Brasil ("abandonou-nos e divulgou imagem ridícula de nós"), mas ter provocado comoção quando o corpo foi repatriado e enterrado no Rio, em 1955, indica que estamos diante de um signo de alta ambiguidade. Quem tentou entendê-lo foi a diretora Helena Solberg em seu documentário Carmen Miranda – Bananas Is My Business.

São Paulo - Uma grande artista nascia há cem anos (comemorados ontem), em Portugal: Maria do Carmo Miranda da Cunha, ou apenas Carmen Miranda, uma das cantoras mais brasileiras, apesar do "acidente geográfico".

Carioca desde os 18 meses de vida, Carmen cresceu em meio a artistas, na pensão de seus pais, no Rio de Janeiro. Começou sua carreira meteórica em 1928. Em 1929, gravou seu primeiro disco e foi reconhecida pelos estrangeiros que aportaram por aqui.

"Desde o momento em que estreou, em fins de 1929, até sua partida para os Estados Unidos, em 1939, fez tudo o que era possível fazer no show business brasileiro: foi a maior cantora de samba, de Carnaval, do rádio, do disco, do cinema e do cassino", avalia o jornalista Ruy Castro, autor de Carmen – Uma Biografia.

Nos EUA, ela virou estrela. "Carmen seria capaz de vencer cantando até em uma língua que ninguém entendia, como o português, o que ela fazia em todos os seus filmes de Hollywood", lembra.

Pouco antes da partida para os EUA, Carmen praticamente reinventou a carreira, no filme Banana-da-Terra, de Wallace Downey, rodado em 1938. Após Ary Barroso cobrar caro por suas músicas, ficou decidido que Carmen gravaria um compositor barato.

"O Braguinha e o Mário Lago lembraram que havia um jovem baiano que tinha uma música que falava da Bahia. Era meu avô Dorival Caymmi. Ele fez uma gravação de ‘O Que É Que a Baiana Tem?’ e foi à casa da Carmen, na Urca, onde cantou sua música, e ela gostou muito dele", conta a neta de Caymmi, Stella Caymmi, autora de Dorival Caymmi – O Mar e o Tempo.

A baiana estilizada por Carmen se impregnou à sua imagem. "Quando ela tentava se livrar do traje exótico, não conseguia. Ela ficou escrava da caricatura da baiana", afirma Stella. Castro tem outra opinião.

"O que seria essa imagem ‘caricata’ da baiana? Você acha que ela devia se fantasiar de Rui Barbosa, Castro Alves ou de algum baiano intelectual? Não, nada disso nunca a incomodou. O que angustiava Carmen era que seus filmes não fossem melhores, mais bem escritos", diz.

Carmen morreu aos 46 anos, de ataque cardíaco, em Los Angeles, em 5 de agosto de 1955. Seu enterro, no Rio, foi acompanhado por milhares. "Ela propiciava fantasia às pessoas, com um repertório que primava pela qualidade e alegria", afirma Stella. Para Castro, o Brasil ainda precisa descobri-la. "Por enquanto, o Brasil só quer saber da artista internacional que ela se tornou a partir de 1939. Espero que, com as comemorações do seu centenário, os brasileiros descubram a grande cantora brasileira."

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