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Nós, estudantes de Licenciatura em Música da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, visamos por meio desta carta tornar público nosso posicionamento com relação ao Exame Nacional de Desempenho do Estudante (ENADE).

Primeiramente, partimos da concepção de que o ENADE não pode ser pensado de forma isolada, mas deve ser inserido no contexto de políticas educacionais de que faz parte. Observamos hoje diversas medidas que, ao invés de garantir uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos, precarizam e privatizam cada vez mais a educação de nosso país.

No ensino superior essas medidas vêm sendo aprovadas na forma de programas, leis, medidas provisórias e decretos-lei, dentre os quais podemos destacar o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior).

Dentro do SINAES podemos destacar vários pontos problemáticos. Ele fere o princípio de autonomia das instituições das escolas ao determinar de fora os critérios para a auto-avaliação das instituições de ensino superior. Além disso, parte de uma lógica de ranqueamento das Instituições de ensino superior que não resolve em nada os problemas delas, mas acaba premiando aquelas que se saem melhor na avaliação: um contra-senso visto que aquelas que foram pior, evidentemente, precisam de maiores investimentos. Observamos, ainda, um completo desrespeito às regionalidades e às diferentes habilitações, havendo uma prova só para todos os cursos de música do país. Nós bem sabemos das particularidades dos cursos. Basta olhar para as diferentes faculdades que temos somente em Curitiba: FAP, EMBAP e UFPR têm focos bastante diferentes no que se refere ao estudo da música. Além disso, como avaliar com uma mesma prova cursos de bacharelado, licenciatura?

Cabe ainda questionar em que medida perguntas com uma única resposta certa, centradas em aspectos bastante pontuais do universo musical, podem servir de critério para avaliar um curso de Licenciatura em Música. Apesar de sabermos ser necessário que um professor de música saiba responder de forma correta uma questão teórica, não consideramos que somente isso seja suficiente. Vemos como muito importante, para além disso, uma discussão acerca de um âmbito mais complexo que é o desenvolvimento da musicalidade junto a nossos alunos.

Essas colocações não querem de modo algum dizer que não queremos ser avaliados. Achamos a avaliação mais do que importante, um elemento essencial para que se produza conhecimento de qualidade com referência para a sociedade. Contudo, não é isso que o ENADE e o SINAES propõe. Queremos uma avaliação de verdade, que seja construída em conjunto por professores, estudantes e funcionários e que leve em conta as especificidades de cada região e curso, visando a construção de uma educação pública, gratuita, de qualidade e para todos!

Por esses motivos acima expostos, optamos por boicotar o ENADE, demonstrando nossa insatisfação com o atual modelo de avaliação do ensino superior, e ansiando por construir algo diferente.

Por uma avaliação de verdade.

Boicote ao ENADE!

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