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Ao olhar as fotografias desta página, o leitor logo terá a ilusão de ver móveis e estruturas como os de qualquer casa. Mas uma observação mais atenta do assoalho, por exemplo, permite identificar que é grafite e pó de canela que lhe dão o aspecto empoeirado. No capacho, o engano é maior. Trata-se, de fato, de tachas de metal oxidado pregadas sobre uma base de borracha.

Este é o hiper-realismo que o artista plástico Luiz Carlos Brugnera apresenta a partir de hoje, às 19h, na sua exposição individual homônima no Memorial de Curitiba. O artista participa, no mesmo local, da mostra coletiva Seleções da Arte Contemporânea Brasileira.

As obras tridimensionais (esculturas e instalações) reunidas na exposição foram criadas em torno do tema da casa conceitual, que vem sendo desenvolvido pelo artista desde 1998. As peças prescindem de função, como uma escadaria de espuma infinita que não pode ser galgada. "É uma casa inventiva, não-utilitária", define o criador.

A exposição será a primeira oportunidade de as partes desmembradas da moradia se encontrarem num mesmo espaço. "Estou apresentando o assoalho para o azulejo, o azulejo para a escadaria...", brinca Brugnera. O artista interrompeu o trabalho sobre a casa conceitual em 2004, mas planeja voltar ao tema e já definiu até os nomes das próximas obras que produzirá: "Sacada da Minha Filha", "Fonte" e "Cerca Viva".

Lápis e borracha

O virtuosimo evidente no trabalho de Brugnera é a conquista pessoal de um artista autodidata, que começou a se dedicar às artes visuais aos 27 anos. Antes, todo o contato do gaúcho (residente em Cascavel) com as artes limitava-se aos desenhos feitos na escola à lápis e borracha. Mesmo esses haviam sido abandonados há mais de uma década, quando, depois de deixar a carreira de jogador de futebol por causa de uma lesão no joelho, e cansado da profissão de publicitário, Brugnera aventurou-se pelo desenho novamente. Não teve dúvidas em resgatar o grafite, material que utilizava nos trabalhos da juventude.

Para reverter o ingresso "tardio" no ofício, Brugnera inscreveu-se em salões de arte, tornando-se logo merecedor de diversas premiações, entre elas, no Salão Nacional de Artes Plásticas de Belo Horizonte, no Salão da Bahia, na Bienal de São Paulo, em quatro edições do Salão Paranaense de Artes Plásticas e no projeto Rumos Itaú Cultural Artes Visuais.

A obra bidimensional, em grafite sobre papel, correspondeu à fase em que o artista concebia a arte como o belo e compreensível. Brugnera rompeu com o papel e com essa concepção, interessado desde então "naquilo que traga estranheza e na dualidade entre pensamento do artista e a real captação do leitor da obra". Foi quando passou a criar as peças tridimensionais da casa conceitual e da série "Varais". Atualmente, seu trabalho se volta para a customização de motocicletas, influenciado pela mitologia nórdica.

"Faço a roupagem gráfica a partir da literatura da mitologia nórdica, transformando as motos em deuses", conta. Brugnera reconhece que não é especialista no assunto, mas sempre teve especial interesse pela mitologia do norte europeu. "Esse imaginário visual vem desde pequeno, em sonhos e visões", diz. A série "Motos" pôde ser vista em uma mostra individual do artista no Museu Oscar Niemeyer, no ano passado.

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Serviço: Brugnera. Abertura hoje, às 19 horas. Memorial de Curitiba – Salão Paraná (R. Claudino dos Santos, 79), (41) 3223-8424. Terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas; sábado e domingo, das 9 às 15 horas. Até 19 de agosto.

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