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Lília Cabral é uma mulher de meia-idade em crise na comédia Divã |
Lília Cabral é uma mulher de meia-idade em crise na comédia Divã| Foto:
  • Seltom Mello e Vanessa Giácomo em cena de Jean Charles: estreia amanhã
  • Luana Piovani e Selton Mello: amor virtual em A Mulher Invisível
  • Tony Ramos e Glória Pires trocam de sexo em Se Eu Fosse Você 2

O cinema brasileiro parece estar, mais uma vez, de bem com o público. Só no primeiro semestre deste ano, três longas-metragens nacionais figuraram entre os mais vistos no país: Se Eu Fosse Você 2 (com mais de 6 milhões de espectadores acumulados), Divã (que já passou de 1,7 milhão de pagantes) e, agora, A Mulher Invisível, que levou 1,2 milhões de pessoas às salas de exibição em menos de um mês de exibição, encabeçando a lista de campeões de bilheteria há duas semanas.

Até o dia 20 de junho, filmes nacionais haviam levado 9,5 milhões de brasileiros ao cinema, o que corresponde a uma participação no mercado de 19%. Esse impressionante número supera já com boa margem o total de espectadores registrados nos 12 meses de 2008: 9,1 milhões. E, embora Se Eu Fosse Você 2, dirigido por Daniel Filho e já disponível em DVD, responda por cerca de 60% dos espectadores deste ano, sua participação no bolo tende a diminuir. Amanhã estreia em todo o país Jean Charles, longa de Henrique Goldman que reconstitui a trajetória trágica do imigrante brasileiro que foi morto a tiros no metrô de Londres em julho de 2005, depois de ser confundido pela polícia britânica com um terrorista de origem árabe. A julgar pelas críticas positivas e pela curiosidade natural despertada pelo caso, a produção pode ser o próximo "blockbuster" nacional.

Empatia

O sucesso de Se Eu Fosse Você 2, Divã (de José Alvarenga Jr.) e A Mulher Invisível (de Cláudio Torres) pode ser um forte indício de que a produção nacional não apenas tem grande potencial comercial, levando milhões de brasileiros às salas de exibição, mas também pode sinalizar o nascimento de uma indústria cinematográfica capaz de peitar a concorrência estrangeira. Ainda é cedo para afirmar se esse é de fato o caso, ou se trata de mais um surto episódico.

De qualquer maneira, o êxito desses três filmes merece atenção. Sobretudo porque não se trata de histórias como Carandiru, Cidade de Deus e Tropa de Elite, obras que triunfaram nas bilheterias por focar em mazelas sociais do país, como a violência urbana, o tráfico de drogas e a corrupção policial. Muito pelo contrário: são comédias que retratam de forma até certo ponto lúdica a classe média brasileira e seus "dilemas", sem mergulhar em discussões mais aprofundadas. Nada muito pesado, reflexivo, crítico. De quebra, são estreladas por astros televisivos, habitués das produções da Rede Globo. E esse é um aspecto que não pode ser desprezado no país da telenovela.

Atribuir a popularidade dos filmes apenas à máquina da Globo Filmes, contudo, é uma temeridade. Até porque há vários títulos da grife que não emplacaram. Uma explicação mais lógica é que, somada à familiaridade do grande público com os elencos e com a estética algo televisiva das produções, as histórias caíram no gosto popular porque geraram, de alguma forma, identificação, empatia. As pessoas que vão ao cinema, na maior parte de classe média, provavelmente se viram retratadas na tela em tramas bem escritas e envolventes que são produtos de entretenimento, que provocam mas não perturbam. Geram bate-papo, conversa de bar, mas não discussões inflamadas, de viés sociológico.

Espaço

Segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), a presença dos filmes brasileiros nas salas de cinema tem se mantido há algum tempo numa média de 11% e agora está em curva ascendente. Apenas 20 países no mundo têm essa participação. E nenhum deles é latino-americano. Hoje em dia, o produto local tem mais visibilidade no Brasil do que na Argentina, cuja vigorosa cinematografia conta com enorme prestígio, porém não tem atraído tantos espectadores.

No fim da década de 1990 e no início dos anos 2000, eram realizados entre 20 e 30 longas brasileiros ao ano. Desde 2006, essa média saltou para 80, número considerado substancial e, infelizmente, desproporcional ao circuito de salas disponíveis para essa produção, que ainda enfrenta enormes dificuldades de distribuição e exibição.

O governo, segundo a Ancine, pretende zerar o número de cidades médias, com mais de cem mil habitantes, que não dispõem de uma sala de cinema. Setenta e três municípios se enquadram nesse caso. O Ministério da Cultura não vai abrir cinemas, mas estimular as prefeituras a partir de incentivos fiscais e também investir recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. No Brasil inteiro, existem 2.278 salas – na década de 1970, esse número girava em torno de 3 mil.

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