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"Notas sobre um escândalo" foi baseado no romance "Notes on a scandal", de Zöe Heller, publicado em 2003 e lançado aqui com o título "Anotações sobre um escândalo". O filme (veja o trailer), que estréia este fim de semana em São Paulo e no Rio de Janeiro, é uma ótima adaptação, que conseguiu captar com perfeição e sensibilidade o espírito cáustico e irônico do livro. Além disso, é uma história que, transposta para a tela grande, recebeu um tratamento luxuoso, sem a ostentação que o termo pode sugerir. O luxo, nesse caso, vem representado pela segura direção de Richard Eyre ("Íris"), pelo roteiro enxuto e de diálogos inteligentes de Patrick Marber ("Closer – Perto demais"), trilha sonora de Philip Glass ("As horas"), fotografia de Chris Menges (vencedor do Oscar por "A missão" e "Gritos do silêncio") e, principalmente, pela atuação de Judi Dench (Oscar por "Shakespeare apaixonado") e Cate Blanchett (Oscar por "O aviador").

Por esse filme, Judi Dench foi mais uma vez indicada ao Oscar como melhor atriz e, Cate Blanchett, como melhor atriz coadjuvante. Elas perderam para Helen Mirren ("A rainha") e Jennifer Hudson ("Dreamgirls – Em busca de um sonho"), respectivamente, o que de nenhuma forma ofusca o desempenho simplesmente brilhante. Era de se esperar, considerando-se que, juntas, contabilizam nove indicações ao prêmio mais cobiçado do cinema.

Em "Notas sobre um escândalo", Barbara Cavett (Judi Dench) é uma velha professora de uma escola pública decadente, de onde sairão "futuros pedreiros e encanadores". Solteirona e solitária, sua única companhia e amiga fiel é Portia, sua gata. A chegada de Sheba Hart (Cate Blanchett), a nova e bela professora de artes, irá causar grande impacto nas estruturas do pequeno mundo de Bárbara, com uma abrangência que ultrapassará os limites dos muros escolares de maneira incontrolável e definitiva. O envolvimento de Sheba – casada com Richard Hart (Bill Nighy, excelente) e mãe de dois filhos – com um de seus alunos de 15 anos, Steven Connoly (Andrew Simpson), será o estopim de mudanças significativas na vida de todos ao redor. Entretanto, a pedofilia – o escândalo do título – nunca é tratada de forma apelativa ou sensacionalista.

À medida que o relacionamento entre as duas se desenvolve, Barbara escreve em seu diário tudo o que acontece. E também o que ela acha que acontece. Através de sua visão, e de suas anotações, a história é contada, sempre fugindo do lugar comum em sua abordagem. A trama se desenrola sem impor julgamentos nem o conforto do moralismo, deixando o espectador livre para formar opinião, em um filme cujas questões éticas levantadas poderiam resultar em um desastre. Felizmente, não é o que acontece. Pelo contrário.

"Notas sobre um escândalo" é um estudo sobre obsessão, paixão, e sobre como pode ser fácil perder o controle rumo à autodestruição. Através do mais fino humor britânico, mostra o quão aflitiva é a dor solitária do indivíduo das grandes cidades, dadas sua incapacidade de se fazer notar dentre milhares de pessoas e sua desesperada busca por afeição.

É uma história de amor, de juventude perdida, de inveja, manipulação e dor. Através de uma direção ágil e de muita câmera na mão, "Notas sobre um escândalo" faz o espectador mergulhar no redemoinho emocional ao qual Barbara e Sheba sucumbem. Sem direito a colete salva-vidas.

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