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 | Daniel Moretti/Divulgação
| Foto: Daniel Moretti/Divulgação
  • Kurt Cobain deu conselhos a ex-Mutante- Dias antes da apresentação que o Nirvana faria no Morumbi, em São Paulo, em janeiro de 1993, o músico Bill Bartell apresentou o som dos Mutantes para Kurt Cobain, que gostou do que ouviu e se interessou pela banda. Kurt queria um encontro, mas Baptista estava em Minas Gerais. O líder do Nirvana, então, usou um papel de carta do hotel onde estava hospedado para escrever um bilhete, a ser entregue via Bill Bartell.[|**|]

Brrrraaaaatssssssssshhhhhsaazzzz. Que barulho é esse aí?, pergunta o repórter, quase aos gritos. "É a televisão, me desculpe", responde ao telefone Arnaldo Baptista, de seu sítio em Juiz de Fora (MG). "Estou vendo James Bond, aquele com o Pierce Brosnan. Mas acho que prefiro o com o Sean Connery", diz o músico, depois de baixar o volume da tevê. "Agora sim."

Fundador da banda Os Mutantes, que virou de ponta-cabeça a música brasileira a partir da década de 1960, o músico se reinventou algumas vezes, experimentou outros mundos, escapou da morte em 1982 – quando se jogou da janela de um hospital psiquiátrico – e influenciou gente como Kurt Cobain, líder do Nirvana, que lhe escreveu um bilhetinho em 1993.

Uma das atrações do Psicodália 2015 – que acontece durante o carnaval em Rio Negrinho (SC) –, o ex-Mutante conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. Com ideias borbulhantes e jeitão de criança, Arnaldo Baptista é um doce – sem trocadilhos.

Conhece o Psicodália?

Há algum tempo eles entraram em contato para que eu tocasse lá. Mas naquela época o pessoal não tinha o que precisava, em relação a equipamento, hotel etc. Dessa vez deu tudo certinho. Vai ser um prazer tocar lá. Psicodelia na Tropicália. Psicocália!

O que pretende para o show?

Vai ser de acordo com o que eu sentir. Do Lóki [álbum lançado em 1974] vai ter alguma coisa. Algumas do Singin' Alone [disco de 1982], aí vou vendo. Toco Bob Dylan e Elton John também. O negócio é sentir o que todo mundo está sentindo.

E Mutantes?

Sim. Sabe, às vezes entro numas coisas de lembrar aquilo que gosto de tocar. "Ando Meio Desligado", por exemplo. Essa vai ter.

É só o senhor e o piano?

Seremos só eu e o piano e o teclado.

Do que sente saudades daquela época com Os Mutantes?

Da felicidade em tudo o que a gente fazia. De trocar experiências que pouca gente possuía. Tudo ia acontecendo: íamos colocando a voz, o rock ia surgindo. E aí um teremin, uma distorção. Foi assim, com alegria.

Acha que Os Mutantes conseguiram traduzir aqueles anos loucos, o fim dos anos 1960?

Estávamos adiantados para aquela época. "O que estamos fazendo com uma música que é mais do que a do Yes?" Usamos a psicodelia recheada de futuro e brasilidade, pode crer.

Como era a relação da banda com drogas?

Possuímos uma máquina, que é o cérebro. Às vezes ela funciona melhor com STP [anfetamina alucinógena sintetizada em 1963]. Nesse sentido, as drogas serviram para ajudar. Ela também funcionou para a felicidade. Alcançava uma pessoa pelo ego. Como se o nosso conjunto fosse um ser vivente com sete pares de mãos. Mas a legalização no Uruguai, por exemplo, não esperava. Se me dissessem há alguns anos que poderia ser psicodélico sem ser preso, não acreditaria.

O mundo está melhor hoje?

Quando pensava num contrabaixo Gibson, pensava naquelas que via na revistinha ou naqueles LPs importados. Hoje em dia, desço a rua e tem um contrabaixo Gibson na loja. Melhorou muito o acesso. Tenho impressão de que me sinto melhor hoje. Posso até me aventurar a falar mal de teatros em que tocavam Jimi Hendrix e Janis Joplin sem me incomodar.

Antes não podia?

Uma vez toquei lá onde eles tocaram e xinguei o retorno, porque era muito ruim.

O senhor quase tentou desistir da vida. Foi no começo de 1982. Arrepende-se?

Para aprender a voar, tem que aprender a cair. Minha almofada foi a Lucinha, que dá o amparo que necessito nessas épocas. Mas tenho um lado de "desconfiamento." A Lucinha me falou que 2015, segundo os astrólogos, vai ser um ano em que muita coisa boa vai acontecer. Não acredito muito.

Começou estranho, né?

Pode crer. Mas talvez fique mais estranho. Pode ser que no futuro a gente entre em contato com ETs e discos voadores.

O documentário Lóki (2009) ajudou a fazer com que Arnaldo Baptista fosse mais compreendido?

Tenho um amigo americano que veio de [moto] Harley Davidson para o Brasil. Se mostrasse o filme, ele acharia careta. Mas aqui, sinto que foi importante, me deixou presente nas pessoas. Foi bom que tenham conhecido uma parte da minha infância, minha casa , essas coisas.

O que faz no tempo livre aí no sítio?

Estudo, pinto. Estou lendo A Física do Impossível [Michio Kaku]. É sobre um cara que trabalha na Nasa. Ele foi contra as físicas de Einstein e de Newton. E de quem entendesse que não era possível viajar na velocidade da luz. Mas eu já vi um disco voador.

Como foi?

Eu estava em Juiz de Fora, na minha casa. A Lucinha estava numa costureira, vendo roupas, e o céu estava lá em cima. De repente, vi. A Lucinha viu também. É uma coisa linda. Ele fazia elipses incríveis. Tinha um eliminador de inércia. Penso o seguinte: a humanidade, para conseguir ultrapassar e velocidade da luz, tem de aprender a lidar com os grávitons, coisas que atraem carne, não o eletroímã, que atrai metal. Os grávitons levitariam os planetas. Tentei construir um giroscópio em casa, para tentar manipular os grávitons, mas não consegui.

O que ouve hoje? Algum artista te chama a atenção?

Elton John. Yes. E Emerson, Lake and Palmer. Ainda sou maravilhado com a técnica do Emerson no teclado. Também ouço clássicos da rapsódia húngara. Para dar a continuidade ao entender amplo da música. Porque às vezes aparecem pessoas que não eram previstas. Como Hendrix. Foi com ele que começou essa história de reclamar de música alta.

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