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Martinho quis manter a estrutura original das canções gravadas em 1969 | Pierre Vicarini/Divulgação
Martinho quis manter a estrutura original das canções gravadas em 1969| Foto: Pierre Vicarini/Divulgação
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CD

4.5 Atual

Martinho da Vila. Sony Music. R$ 24,90. Samba.

Quando se diz que Martinho da Vila foi o principal responsável pela revitalização e popularização do samba tradicional quando cantou "Menina Moça" no Festival de Música da Record, em 1967, o sambista de Duas Barras (RJ) faz que não é com ele.

ÁUDIO: Ouça trechos da entrevista com Martinho da Vila

"É, todo mundo fala", diz Martinho, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Mas não gosto de ficar falando isso. Deixa assim. Gosto que as pessoas falem. Mas, eu mesmo, não."

A modéstia não impediu, no entanto, que a ideia de regravar o seu primeiro LP para comemorar os 45 anos de sua estreia nacional se tornasse algo maior que apenas uma celebração pessoal, como planejava. "Eu gravei aqueles primeiros discos em condições técnicas muito simples", diz. "Sempre pensei: tem umas músicas que, se tivessem um outro tratamento, seriam mais interessantes."

Quando a gravadora que edita suas músicas soube da ideia acabou convencendo o sambista a fazer um disco para valer, com direito a produção e arranjos de Rildo Hora e a dezenas de músicos e cantores de primeira. "Virou um grande projeto", conta.A regravação, no entanto, não caminhou no sentido de fazer mudanças profundas no registro do repertório – que se tornou o primeiro disco de samba com grandes vendagens em muitos anos. "Quando [Martinho] chegou, ninguém pensou que o samba alcançaria as paradas de sucesso", conta Rildo Hora, que começava sua icônica carreira de produtor e maestro do samba naquela época. "Ele foi o único artista de samba que entrou com força duradoura para fazer frente ao iê-iê-iê, mas sem radicalismos, nem nada. E conseguiu um êxito impressionante. É um divisor de frequência das quatro últimas décadas."

Martinho, que gosta de rever a própria discografia, há tempos não ouvia o debute de 1969, e redescobriu coisas interessantes. "Foi uma surpresa. E falei, ‘temos de ser bem fiéis a isso aí’", conta. "Músicas que a gente ouve de uma mesma forma o tempo inteiro, quando muda, ninguém gosta muito. [A ideia da regravação] é fazer a mesma coisa, só que atualizada, sem mudar muito o roteiro."

Assim, a canção "Grande Amor", por exemplo, originalmente gravada com violão e cavaquinho, em 4.5 Atual ganha flauta, realejo (gaita) e violoncelo na regravação. "Hoje ela está bem vestida. E sem mudar muito a origem dela, a forma, a essência", explica Martinho.

"A gente respeitou bastante a estrutura do disco", explica Hora. "Parti para uma coisa muito próxima, fazendo as introduções originais, mas com harmonias novas – simples, porém, um pouco dos dias de hoje."

Sem a limitação de espaço do LP, Martinho escolheu as faixas bônus "Samba dos Passarinhos", "Pãozinho de Açúcar" e "Partido-Alto de Roda", que tinha vontade de regravar. "São desconhecidas, então tem um lado inédito aí", diz. E, claro, "Menina Moça", o marco dos 45 anos, que é colocada como a abertura do disco, em que Martinho narra a chegada do até então marginal partido-alto a São Paulo e à tevê aberta, "no tempo dos festivais".

"À medida em que fui trabalhando com as músicas, ia pensando no tempo, nas pessoas daquela época, naqueles sambas-enredo, que eram outra fase da escola de samba", conta Martinho. "Tudo isso vai passando, como um filme na cabeça."

Lançamentos

Jovens nomes em busca dos valores tradicionais

Martinho da Vila não está só ao lançar um olhar retrospectivo para o samba. Novos nomes do gênero, que sempre esteve às voltas com questões de tradição e legitimidade, também vêm olhando para os "cânones", apesar de suas roupagens mais evidentemente produzidas e de seus vernizes francamente comerciais.

É a opinião de Rildo Hora, uma espécia de "Midas" do samba, que produziu o recém-chegado às lojas Não É Força, É Jeito, de Gustavo Lins – jovem cantor e compositor carioca que começou a carreira mais ligado ao rótulo do pagode romântico.

"Há 40 anos, eu seguia rigidamente o nacionalismo nas artes. Com o tempo, isso se modificou. Continuo sendo nacionalista, porém aberto. Era bobagem aquela coisa fechada, como se a gente fizesse um gueto", explica Hora, que, a pedido da reportagem, comentou sobre mais dois jovens sambistas cujos CDs foram lançados recentemente (confira abaixo), e que parecem ter em comum com Lins a identificação com o pagode romântico – subgênero repudiado por ter incorporado a música pop ao samba nos anos 1990.

"A música romântica sempre foi campeã de vendas em todas as épocas", diz Hora. "Do lance do viés romântico que vem com os meninos de hoje, o que acho um pouco discutível é a questão da qualidade do texto. Porque, melodicamente, temos coisas bem interessantes no movimento dessa garotada aí."

Hora chama a atenção para as melodias de Lins, que evolui em direção aos "grandes valores de Cartola, Martinho e Dorival Caymmi", para as boas músicas de Adriano Ribeiro [que recentemente lançou Batucada] gravadas pelo Fundo de Quintal, e para as performances talentosas do badalado Mumuzinho, que acaba de lançar Dom de Sonhar com o aval de Dudu Nobre, Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho.

"Tá todo mundo fazendo aliança. Quem é mais antigo fazendo parcerias com jovens. No meu caso, como produtor, estou me aproximando, tentando fazer a cabeça deles um pouco. E, de uma certa forma, eles também fazem a minha."

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