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Visuais

Cenas do cotidiano por Poty

Mostra no MON exibe 97 gravuras do imenso acervo que o artista paranaense doou para a prefeitura de Curitiba

Um autorretrato de Poty, em litografia e sem data, é parte da série Retratos | Ivonaldo Alexnadre/Gazeta do Povo
Um autorretrato de Poty, em litografia e sem data, é parte da série Retratos (Foto: Ivonaldo Alexnadre/Gazeta do Povo)

Depois da morte da esposa, Célia Neves Lazzarotto, em 1985, o gravurista Napoleon Potiguara Lazzarotto (1924-1998), o Poty, doou boa parte de seu acervo de cerca de 3,8 mil itens ao Museu de Arte Metropolitana (Muma), no Portão. Além de suas próprias obras, a coleção reunida pelo ca­­sal ao longo de décadas de vida em comum contém obras de no­­mes importantes da arte nacional e internacional como Pance­­t­­ti, Guignard, Di Cavalcanti, Dja­nira, Candido Portinari, Bur­­le Marx, Carybé, Oswaldo Goel­­di e até Picasso. Com o espaço municipal há anos fechado para reforma, os cerca de 3,8 mil itens doados em testamento – sendo 2.541 livros e 1.219 obras de arte e objetos como santos, cerâmica popular e mobiliário –estão espalhados pelos departamentos da Fun­­da­­ção Cultural de Curitiba. A Casa da Memória, por exemplo, abriga os livros e as obras de arte fi­­cam guardadas na reserva técnica do Muma.

De tempos em tempos, po­­rém, a FCC promove mostras do acervo. A maior delas reúne, até 22 de novembro, 97 gravuras de Poty no Museu Oscar Niemeyer (MON), em uma parceria do ór­­gão municipal com o governo do estado do Paraná. É uma oportunidade rara de ver algumas das melhores gravuras deste artista que universalizou Curitiba nos inúmeros murais e painéis que espalhou pela cidade.

Gravuras Poty reúne gravuras de várias séries como, por exemplo, Circo, Mangue, Matadouro, Bahia, Mor­­te, Ilustrações e Animais. Os retratos feitos na década de 1940 incluem artistas como o amigo Pancetti e Lívio Abramo, a mãe e o avô do artista (1949), todos em gravura em metal, além de um autorretrato em litografia.

Entre 1946 e 1948, Poty fez ilustrações para a revista paranaense Joaquim, editada por Dalton Trevisan, para jornais e publicações paulistas, cariocas e para obras de escritores consagrados, como Guimarães Rosa, Dinah Silveira de Queiroz, Jorge Ama­­do, Euclides da Cunha e José de Alencar. A mostra destaca estudos que ele fez para O Grande Sertão: Veredas, de Gui­­marães Rosa, em que parece re­­tratar "o demônio na rua no meio do redemoinho".

Mas há também gravura em metal, litogravuras e xilogravuras de santos, prostitutas, animais, paisagens da Bahia e das cidades pernambucanas Recife e Olinda e pessoas comuns em es­­paços do cotidiano como a barbearia, um vagão de trem noturno, o bonde, a sapataria, a fundição. Algumas gravuras são esboços dos murais que Poty começou a fazer com mais frequência nos anos 1950, sempre retratando fatos cívicos e aspectos da vida nacional.

Dentre eles, destacam-se o pai­­nel de madeira da casa do Brasil, em Paris; o Monumento Comemorativo ao Primeiro Cen­­tenário da Emancipação Política do Paraná, em concreto, no Palácio Iguaçu; o painel em concreto Evolução das Artes Cênicas e a Cortina Corta-Fogo do Teatro Guaíra; o painel De­­senvol­vi­mento de Curitiba, na Praça 29 de Março; o Mo­­numento ao Tropeiro, na Lapa, exe­­cutada em mosaico por Fran­­­­cisco Giglio; e os murais internos do Memorial Latino-Ame­­ricano, em São Paulo, en­­tre outros.

Trajetória

Quando frequentava o Vagão do Armistício, restaurante instalado no quintal da casa da família Lazzarotto, no bairro Capanema, o interventor Manoel Ribas conheceu o talento do jovem Po­­ty, e o presenteou com uma bolsa para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, ele se matriculou no Liceu de Artes e Ofícios para aprender gravura em metal com Carlos Oswald. Mais tarde, como bolsista da École de Beaux Arts (Escola de Be­­las Artes), em Paris, estudou litografia e viajou pela França, Es­­panha e Itália, absorvendo influências europeias. De volta ao Bra­­sil, o já consagrado gravurista organizou um Curso de Gravura em Curitiba, São Paulo, Salvador e Recife, como forma de divulgar e aperfeiçoar a técnica. Par­­ti­­cipou das três primeiras Bienais de Arte Moderna de São Paulo, de 1951 a 1955.

Serviço: Gravuras Poty, no Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas). Até 22 de novembro.

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