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Um autorretrato de Poty, em litografia e sem data, é parte da série Retratos | Ivonaldo Alexnadre/Gazeta do Povo
Um autorretrato de Poty, em litografia e sem data, é parte da série Retratos| Foto: Ivonaldo Alexnadre/Gazeta do Povo

Contemporânea

A carne como metáfora

O vermelho se destaca nas telas do argentino Carlos Alonso (1929, Mendoza), que o MON exibe a partir de amanhã, na mostra Carlos Alonso – Hay que Comer, com abertura hoje, às 19 horas, para convidados. A cor intensa remete à carne humana e bovina, elemento que unifica as 50 obras provenientes da Fundación Alon para as Artes, escolhidas pelo curador e amigo do artista, o engenheiro e colecionador Jacobo Fiterman. A memória e os reflexos políticos e particulares vivenciados durante o período ditatorial na Argentina são os temas presentes nas pinturas, desenhos, gravuras e colagens produzidos entre 1965 e 1984.

Após viajar por Madri, Barcelona e Paris, em 1954, Carlos Alonso imprimiu em sua produção a forte influência recebida de Toulouse-Lautrec e, especialmente, de Picasso, até compreender que era preciso encontrar um caminho próprio. Em 1971, aderiu ao movimento chamado Novo Realismo italiano, "uma arte politizada", que dialogava com seus próprios ideais artísticos.

Depois da morte da esposa, Célia Neves Lazzarotto, em 1985, o gravurista Napoleon Potiguara Lazzarotto (1924-1998), o Poty, doou boa parte de seu acervo de cerca de 3,8 mil itens ao Museu de Arte Metropolitana (Muma), no Portão. Além de suas próprias obras, a coleção reunida pelo ca­­sal ao longo de décadas de vida em comum contém obras de no­­mes importantes da arte nacional e internacional como Pance­­t­­ti, Guignard, Di Cavalcanti, Dja­nira, Candido Portinari, Bur­­le Marx, Carybé, Oswaldo Goel­­di e até Picasso. Com o espaço municipal há anos fechado para reforma, os cerca de 3,8 mil itens doados em testamento – sendo 2.541 livros e 1.219 obras de arte e objetos como santos, cerâmica popular e mobiliário –estão espalhados pelos departamentos da Fun­­da­­ção Cultural de Curitiba. A Casa da Memória, por exemplo, abriga os livros e as obras de arte fi­­cam guardadas na reserva técnica do Muma.

De tempos em tempos, po­­rém, a FCC promove mostras do acervo. A maior delas reúne, até 22 de novembro, 97 gravuras de Poty no Museu Oscar Niemeyer (MON), em uma parceria do ór­­gão municipal com o governo do estado do Paraná. É uma oportunidade rara de ver algumas das melhores gravuras deste artista que universalizou Curitiba nos inúmeros murais e painéis que espalhou pela cidade.

Gravuras Poty reúne gravuras de várias séries como, por exemplo, Circo, Mangue, Matadouro, Bahia, Mor­­te, Ilustrações e Animais. Os retratos feitos na década de 1940 incluem artistas como o amigo Pancetti e Lívio Abramo, a mãe e o avô do artista (1949), todos em gravura em metal, além de um autorretrato em litografia.

Entre 1946 e 1948, Poty fez ilustrações para a revista paranaense Joaquim, editada por Dalton Trevisan, para jornais e publicações paulistas, cariocas e para obras de escritores consagrados, como Guimarães Rosa, Dinah Silveira de Queiroz, Jorge Ama­­do, Euclides da Cunha e José de Alencar. A mostra destaca estudos que ele fez para O Grande Sertão: Veredas, de Gui­­marães Rosa, em que parece re­­tratar "o demônio na rua no meio do redemoinho".

Mas há também gravura em metal, litogravuras e xilogravuras de santos, prostitutas, animais, paisagens da Bahia e das cidades pernambucanas Recife e Olinda e pessoas comuns em es­­paços do cotidiano como a barbearia, um vagão de trem noturno, o bonde, a sapataria, a fundição. Algumas gravuras são esboços dos murais que Poty começou a fazer com mais frequência nos anos 1950, sempre retratando fatos cívicos e aspectos da vida nacional.

Dentre eles, destacam-se o pai­­nel de madeira da casa do Brasil, em Paris; o Monumento Comemorativo ao Primeiro Cen­­tenário da Emancipação Política do Paraná, em concreto, no Palácio Iguaçu; o painel em concreto Evolução das Artes Cênicas e a Cortina Corta-Fogo do Teatro Guaíra; o painel De­­senvol­vi­mento de Curitiba, na Praça 29 de Março; o Mo­­numento ao Tropeiro, na Lapa, exe­­cutada em mosaico por Fran­­­­cisco Giglio; e os murais internos do Memorial Latino-Ame­­ricano, em São Paulo, en­­tre outros.

Trajetória

Quando frequentava o Vagão do Armistício, restaurante instalado no quintal da casa da família Lazzarotto, no bairro Capanema, o interventor Manoel Ribas conheceu o talento do jovem Po­­ty, e o presenteou com uma bolsa para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, ele se matriculou no Liceu de Artes e Ofícios para aprender gravura em metal com Carlos Oswald. Mais tarde, como bolsista da École de Beaux Arts (Escola de Be­­las Artes), em Paris, estudou litografia e viajou pela França, Es­­panha e Itália, absorvendo influências europeias. De volta ao Bra­­sil, o já consagrado gravurista organizou um Curso de Gravura em Curitiba, São Paulo, Salvador e Recife, como forma de divulgar e aperfeiçoar a técnica. Par­­ti­­cipou das três primeiras Bienais de Arte Moderna de São Paulo, de 1951 a 1955.

Serviço: Gravuras Poty, no Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas). Até 22 de novembro.

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