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Uma Criança Abandonada à Beira do Rio: a história nos é contada pelos olhos de Hakim-ata, um senhor de 70 anos | Divulgação
Uma Criança Abandonada à Beira do Rio: a história nos é contada pelos olhos de Hakim-ata, um senhor de 70 anos| Foto: Divulgação

Fora-da-lei é drama político polêmico

Um dos filmes mais comentados – e aplaudidos pelo público – da 34.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é o drama político Fora-da-lei, coprodução franco-argelina que representa a Argélia na corrida por uma indicação ao Oscar 2010 de melhor produção estrangeira.

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São Paulo - Dentre os 467 filmes presentes na 34.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um deles veio do Uzbequistão, país vizinho à Rússia. Apenas metade da sala de 90 lugares estava ocupada para assistir a Uma Criança Abandonada à Beira do Rio, em sessão que aconteceu às 22 horas da última quinta-feira.

O filme é de Sabir Nazarmukhamedov, que está em São Paulo e conversou com a plateia antes da exibição. "Viajei por 22 horas para estar aqui. É um grande orgulho", disse o cineasta em bom russo. A tradutora se complicou um pouco quando o diretor falou sobre o Brasil. "Queria que houvesse uma coprodução cinematográfica Brasil-Uzbequistão assim como há no futebol, já que muitos brasileiros vão para o meu país por conta disso", comentou o diretor. Verdade.

Luiz Felipe Scolari, atual treinador do Palmeiras, voltou de lá há pouco e deve ter conhecido as estreitas ruazinhas de terra e as grandes montanhas que marcam o cenário de seu nono longa-metragem.

A história nos é contada pelos olhos de Hakim-ata, um senhor de 70 anos que vai todos os dias a um riacho e, enquanto contempla o que vê, relembra de sua infância e adolescência. Os diálogos são longos e não muito objetivos. As tomadas também. Os cortes demoram a acontecer, o que faz com que o ritmo do filme seja quase bocejante. Mas, se a estética de um cineasta reflete de alguma forma o país em que vive, esse foi o momento mais próximo de que já estive do Uzbequistão.

Hakim continua a viver do passado. Passa uma, duas, três vezes por um pica-pau; uma, duas, três vezes por um carvoeiro que nunca para de trabalhar. Relembra da fogueira que fazia com os amigos. E começa a ter visões.

Uma noite, Hakim e seus amigos ficam espantados ao ver que anjos estão voando pelo céu da cidade. Um deles – é possível ver a armação de metal em suas asas –, aparece na casa de seu amigo Jabbar. Sua mulher, Kumri, está grávida e desmaia ao ver a aparição. Quando ela dá a luz ao seu filho, todos percebem que este se parece muito com o anjo que lhes visitou.

A essa altura, sete pessoas já haviam deixado a sala. A senhora que estava ao meu lado dormia profundamente. Mas é mais ou menos nesse momento que surge o pequeno brilhantismo da obra. O filho de Kumri pode ser um anjo, mas é um ser desajustado que faz caretas para si mesmo ao espelho e dorme em posição fetal na varanda de casa.

É o único solteiro entre os amigos da mesma idade e procura de forma desengonçada "alguém para casar". Quer, talvez, ser como seu tio Hakim, que não quer mais beber chá porque o fez por 70 anos consecutivos. Eis uma bela metáfora.

Ainda que não muito bem definidas, o filme tem três camadas narrativas: as visões de Hakim, as lembranças de seu passado e o momento presente, que se torna um moto-perpétuo. Mas todas nos fazem refletir – é impossível não pensar em um filme como esse – sobre a velhice e a forma como nos acostumamos à rotina. À moda do Uzbequistão.

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