O título pode passar uma idéia errada. Porque Comédia do Poder não parece preocupado em fazer rir. Se faz, é mais por nervosismo do que por piadas ou gags. O novo filme de Claude Chabrol tem Isabelle Huppert como protagonista parceria que se tornou uma marca na carreira de ambos. Juntos, fizeram pelo menos meia dúzia de longas-metragens.
Neste filme de 2006, que sai agora em DVD, Isabelle interpreta Jeanne Charmant-Killman, uma juíza disposta a punir um figurão de uma corporação, Michel Humeau (François Berléand). A suspeita é de que ele recebe e gasta mais dinheiro do que declara, resultado, provavelmente, de desvios e outras atividades ilícitas.
O detalhe é que Jeanne só consegue pegar Humeau porque Jacques Sibaud (Patrick Bruel) o denuncia. Afinal, parece que é sempre assim: as falcatruas aparecem quando alguém envolvido no esquema acha que não está ganhando o suficiente e resolve falar. Não por acaso, Sibaud assume o cargo de Humeau quando este é afastado.
Embora seja bastante sagaz para averiguar as denúncias que recebe e tenha um talento notório para conduzir inquéritos, a juíza tem também um lado muito ingênuo. De início, ela ignora os interesses de sua fonte, Sibaud, e não faz idéia dos poderosos que operam acima dele. São sujeitos que discutem o futuro de Jeanne como se fizessem um movimento previsível de peão em um jogo de xadrez.
Eles decidem se e quando dar a ela uma "promoção", afastando-a do caso. Ao longo da história, ela entende que faz parte de um esquema muito maior do que imaginava, mas não hesita em dar de ombros e seguir com sua vida depois de levar alguns sustos.
A certa altura, durante as investigações, ela entra numa conversa com um sujeito suspeito que se mostra incapaz de dar uma resposta direta e satisfatória. Tudo o que o homem diz e repete funciona como um resumo da visão que Chabrol passa das grandes corporações em Comédia do Poder (e alguém pode tentar criar um paralelo com o governo brasileiro): pouco importa de onde o dinheiro vem ou para onde ele vai, basta que ele circule porque o dinheiro é o óleo que faz as engrenagens da "máquina" funcionarem de acordo. GGG
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