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Narrativas ocupam o lugar da filha desaparecida | Elenize Dezgeniski/Divulgação
Narrativas ocupam o lugar da filha desaparecida| Foto: Elenize Dezgeniski/Divulgação

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Obscura Fuga da Menina Apertando sobre o Peito um Lenço de Renda

Teatro Novelas Curitibanas (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1.222, São Francisco), (41) 3321-3358. Quinta-feira a domingo, às 20 horas, até 16 de março. Entrada franca. Classificação indicativa: 12 anos. Sujeito à lotação.

Um casal em choque com o desaparecimento da filha elabora, sob forte tensão, narrativas que ocupem o lugar agora ausente. Obscura Fuga da Menina Apertando sobre o Peito um Lenço de Renda, espetáculo da CiaSenhas em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas até 16 de março, apresenta uma intensa relação entre esses dois personagens, talvez num dos vínculos mais fortes já vistos em nossos palcos.

Não por acaso, os atores Luiz Bertazzo e Greice Barros dão-se as mãos antes do início de seu diálogo que parecerá eterno, e lágrimas não são raras ao longo da peça.

Ele interpreta a mãe, ela o pai, mas estão com roupas trocadas e não simulam a voz do outro sexo, de forma que o espectador leva um tempo a se situar. O desconforto é ampliado pela frequência com que os atores encaram a plateia, previamente instalada em cadeiras antigas ao redor e no centro do cenário. Apesar da ótima sacada dos assentos com rodinha, pouca gente se move para acompanhar a cena, que acontece em círculos.

Enquanto relembram da vida com a filha em casa, pai e mãe selecionam as formas como desejam falar sobre o assunto no futuro, numa alusão não apenas à construção da memória, mas também ao tênue limite entre vida e teatro. Essa relação se exacerba quando eles se sentam à mesa para simular um café da manhã "como antigamente".

"Vamos dizer que ela amava mais a mãe", diz o pai. "Não, vamos lembrar que ela amava os dois", prefere a mãe, lisonjeada. Cada nova sugestão é mantida só até ser abalada por uma nova colocação, num crescendo de tensão que termina de forma apoteótica, ao melhor estilo Nelson Rodrigues.

Antes disso, o surgimento de três novos personagens (vividos por Ciliane Vendruscolo, Kenni Roger e Rafael di Lari) acrescenta à trama traços de mistério e humor, o que alivia um pouco a pressão do ambiente.

Por outro lado, a realista sonoplastia escondida em sons de passarinho e barulhos de vizinhança pode, de repente, gritar ruídos que afastam qualquer semelhança com a realidade.

Enquanto se desenrola aquele "dia difícil", a luz delicadamente é baixada em janelas que delimitam os cômodos da casa.

Tudo o que sabemos vem dos relatos desses cinco seres que não estão ali, definitivamente, para nos deixar à vontade.

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