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Rodrigo Santoro faz questão de continuar atuando em produções brasileiras, embora invista em projetos internacionais | Anne Christine Poujoulat/AFP
Rodrigo Santoro faz questão de continuar atuando em produções brasileiras, embora invista em projetos internacionais| Foto: Anne Christine Poujoulat/AFP
  • Em I Love You, Phillip Morris, Santoro
  • Fidel (Demian Bichir) e Raúl (Rodrigo Santoro): revolucionários em Che

Em outubro de 2008, Rodrigo Santoro abriu uma brecha entre os lançamentos de dois de seus mais recentes trabalhos fora do país, o argentino Leonera e o norte-americano Che (ambos ainda inéditos em Curitiba), para gravar sua participação na minissérie Som e Fúria. A produção, que tem direção do também internacional Fernando Meirelles, vai ao ar em julho na Rede Globo e retrata os bastidores do teatro, focando em duas companhias paulistas que estão montando textos de William Shakespeare.

Em meio a um elenco com mais de 120 atores, a chegada ao set de Santoro foi, de longe, a que mais gerou comentários – e olha que foram apenas três dias de gravação. Seu personagem tem apenas oito cenas, mais do que suficientes para que se espalhassem boatos de que o ator fluminense (natural da cidade de Petrópolis) estaria sendo pago a peso de ouro por sua participação. Tudo mentira, garante Santoro em entrevista concedida por telefone à Gazeta do Povo, de seu apartamento no Rio de Janeiro.

O que levou Santoro, "nosso homem em Hollywood", a aceitar o convite para trabalhar com Meirelles, indicado ao Oscar de melhor direção por Cidade de Deus, foi a chance de participar de uma comédia rasgada, um gênero nada corriqueiro em sua carreira. A parceria já havia se ensaiado há muitos anos, quando o diretor paulista quis adaptar, em 1994, Mar Morto, clássico de Jorge Amado, para a televisão. Mas o projeto ficou na gaveta.

Em Som e Fúria, Santoro contracena apenas com Dan Stulbach, que em breve será visto ao lado de Tony Ramos nos cinemas na adaptação da peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, sob a direção de Daniel Filho. Ele será Sanjay, um personagem cheio de mistérios.

Menino do Rio

Santoro, apesar da agenda cheia, dentro e fora do Brasil, está no Rio por tempo indeterminado. Curtindo a vida, o céu e o mar – surfar é uma de suas paixões. Ele conta à reportagem da Gazeta que jamais pensou em sair de vez do país, tanto que faz questão de continuar trabalhando em produções nacionais. Além de Som e Fúria, ele está em Reis e Ratos, de Mauro Lima (do sucesso Meu Nome Não É Johnny), ao lado de Selton Mello e Cauã Raymond. A trama se passa nos anos 60 e gira em torno de uma quadrilha de assaltantes trapalhões.

"Eu amo trabalhar no Brasil. Meu lugar é aqui. Por mais que faça trabalhos no cinema e na televisão fora, minha casa continua sendo o Rio. Aqui eu me reenergizo e não abro mão de atuar em português", diz o ator.

A questão do idioma, aliás, é inevitável. Nos últimos anos, Santoro, que completa 34 anos em agosto, vem atuando (com desenvoltura) em inglês com frequência. E em projetos com perfis bastante díspares: do blockbuster de ação Panteras Detonando ao independente Cinturão Vermelho, filme sobre os bastidores da luta-livre assinado pelo cult David Mamet, passando pela comédia romântica Simplesmente Amor e pelo seriado Lost.

Desafio linguístico maior, no entanto, foi aprender a falar espanhol com sotaque cubano para encarnar o jovem Raúl Castro(irmão de Fidel e atual presidente de Cuba) em Che, cinebiografia de Che Guevara, totalmente falada em castelhano, dividida em dois episódios e dirigida pelo norte-americano Steven Soderbergh (de Traffic).

"Eu não falava espanhol, mas queria demais fazer o filme. Quando consegui o papel, me mandei para Cuba, onde estudei a língua com um professor que me ajudou a burilar o acento local até que eu estivesse no ponto", conta Santoro, único brasileiro num set dominado por hispânicos, do protagonista, o porto-riquenho Benicio del Toro, a coadjuvantes, como a colombiana Catalina Sandino Moreno (de Maria Cheia de Graça) e o mexicano Demian Bichir, que vive Fidel Castro.

A língua de Cervantes também lhe foi útil em Leonera, mais recente longa-metragem do diretor argentino Pablo Trapero, no qual Santoro tem o papel de um homem bissexual em conflito.

Gay

Mas, ao contrário de muitos atores em Hollywood que fogem como o diabo da cruz de personagens gays ou de orientação sexual ambígua, Rodrigo Santoro, como Leonera atesta, não se preocupa nem um pouco com isso. "Se é um personagem interessante, que me desafie, em um projeto no qual eu acredito, faço mesmo."

Foi assim no campeão de bilheterias Carandiru, de Hector Babenco, que lhe presenteou com o travesti Lady Diana. E, mais recentemente, com o ainda inédito I Love You, Phillip Morris, de Glenn Ficarra e John Requa.

Entre a comédia e o drama, a produção causou furor no último Festival de Sundance, lotando sessões atrás de sessões. Todos, afinal, queriam ver como Jim Carrey se saiu como Steven Russell, um policial casado, cristão e cumpridor de seus deveres que, depois de um acidente de carro, se descobre gay, abandona a família e começa uma nova vida que, eventualmente, o leva à prisão, onde se apaixona por outro detento, Phillip Morris (Ewan McGregor).

Na trama, cheia de reviravoltas, Santoro vive o primeiro namorado do protagonista em sua "nova fase", um jovem de origem latina, voluntarioso e cheio de vontades, muitas deles bastante caras, que acabam fazendo de Steven, pouco a pouco, um estelionatário profissional. "Adorei fazer o filme, que foi muito bem recebido pela crítica e pelo público. É um daqueles casos em que tudo dá certo. Há projetos dos quais eu participei em que os atores, o diretor e o roteiro eram bons, mas o resultado final, não. Com esse, foi o contrário."

Apesar de toda essa repercussão positiva, contudo, I Love You, Phillip Morris, já vendido para o mercado europeu, segue sem distribuição garantida nos Estados Unidos, por ser considerado um pouco picante demais para o paladar puritano norte-americano médio. Coisas de Hollywood.

De longe, Santoro só pensa em uma coisa: pegar onda.

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