
Jia Zhangke, um Homem de Fenyang, de Walter Salles, selecionado para a Panorama Documenta na 65ª edição do Festival de Berlim, foi mostrado na última terça-feira numa sessão totalmente lotada. Desde a véspera, os ingressos já estavam esgotados.
O documentário é o resultado de filmagens realizadas no norte da China , onde Jia Zhangke nasceu e realizou seus primeiros longas-metragens. O filme retrata a vida e o processo criativo do cineasta, e é centrado na estreita relação entre memória e cinema.
No filme, o próprio Zhangke convida a equipe de Um Homem de Fenyang a conhecer a sua história, suas fontes de inspiração e os personagens de seus filmes. Ele retorna aos locais onde viveu e rodou Xiao Wu, Plataforma, O Mundo, 24 City, Em Busca da Vida e Um Toque de Pecado.
A Gazeta do Povo participou de uma minicoletiva que Salles concedeu a um grupo de cinco jornalistas brasileiros. Salles lembrou que foi justamente há 17 anos, na própria Berlinale , que ele teve contato com a obra de Zhangke.
"O primeiro filme de Jia, Xiao Wu, estreou em Berlim em 1998, mesmo ano em que Central do Brasil competiu no Festival e ganhou o Urso de Ouro. Cada novo filme dele reforça a sensação de que ele se tornou o cineasta chinês que melhor traduz o nosso tempo. É dessa percepção que surge Um Homem de Fenyang", disse Salles, que desde o primeiro momento ficou impactado pela obra do diretor.
"Fiquei extremamente sensibilizado pela maneira como as lembranças pessoais dele se transformam em memória coletiva. Em Busca da Vida, por exemplo, é um marco do cinema. Ele propõe um reflexo do tempo no qual ele está vivendo. Jia registra alguma coisa que está em mutação naquele momento. O tempo se torna um personagem do filme", destacou Salles contando que a ideia do documentário aconteceu na Mostra de São Paulo em 2007.
"O projeto inicial data daí, mas nós só filmamos no período de 2013 a 2014. Quando a gente conversou, eu disse que gostaria de trabalhar a memória do cinema dele em camadas diversas. Mas na medida em que a gente foi filmando, ele acrescentou outras coisas como a relação com o pai, ou seja, a memória também afetiva", contou o diretor, que não encontrou dificuldades em Fenyang para fazer o filme.
"Quando a gente faz um documentário, somos constantemente confrontados com o inesperado, mas Jia abraçou o filme de tal forma que tornou tudo mais fácil", afirmou Salles, expressando o sentimento do que mudou após ele ter realizado o filme.
"Foi uma experiência marcante não apenas para mim, mas para toda a equipe. Acho que o filme caracteriza tanto o diretor quanto a obra que ele construiu" concluiu, ressaltando que a extrema sensibilidade e também a simplicidade de Zhangke foram fundamentais para a sintonia que foi criada nas filmagens.
"Como diz o próprio Jia nós não somos estrangeiros, nós participamos do mesmo mundo que é o mundo do cinema assim estar de volta a Berlim com um documentário sobre ele é uma honra", resumiu o diretor brasileiro que está aqui participando também do importante programa Berlinale Talents.
Jia Zhangke, um Homem de Fenyang, já tem convites para vários festivais, entre outros, Istanbul e Guadalajara e previsão de estreia no Brasil no final de abril.




