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 | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Raio-X

Estevan Silveira

Cineasta e produtor: "19 filmes, curitibano, dono de uma agência lotérica, nascido no Batel e vivendo atualmente no Água Verde."

Nem o frio polar que assolou Curitiba na semana passada convenceu o cineasta Estevan Silveira a deixar no armário o bermudão até as canelas. Da cintura para cima, cachecol e boné de lã. Nos pés, botas de alpinista. "É o meu estilo, não vou mudar nunca", diz.

Veja os trabalhos de Estevan Silveira como produtor e diretor

Marca registrada na indumentária que empresta um ar adolescente ao cineasta. Porém, desde a primeira vez que os créditos do filme Mulheres em Fuga o identificaram como o diretor já se vão duas décadas.

A carreira no cinema começara um ano antes, quando foi assistente de diretor do cineasta Tiomkin em dois trabalhos. "Ele é o cineasta mais marginal de Curitiba. Um cara que entende tudo de cinema e de música e me ajudou a conhecer este universo", lembra.

No ano passado, Estevan conseguiu lançar seu primeiro longa-metragem, João Baptista da Luz dos Pinhais. O filme é sobre a obra do pioneiro do cinema local João Baptista Groff.

A escolha do personagem, aliás, revela a linha sobre a qual conduz sua carreira. "Só faço trabalhos sobre a cultura curitibana e paranaense. Virou uma marca minha e não dá mais para voltar atrás", afirma.

Entre os personagens que retratou, estão Efigênia Rolim, no curta-metragem Rainha de Papel (codirigido por Tiomkin) – que, mesmo filmado em VHS, ganhou prêmios importantes.

Também foram personagens de Estevan artistas "malditos", como o poeta Batista de Pilar; o artista plástico Edilson Viriato; o músico de rua Plá; o pintor e artista plástico Tadashi Ikoma; e o ator anão Claudinho Castro, entre outros.

Além das calças, Estevan não usa o discurso clichê do cineasta intelectual. Trabalha de manhã à noite em uma lotérica da qual é sócio no centro da cidade, enquanto tenta acertar os números dos próximos projetos. No ano que vem, serão dois novos documentários.

"Um é sobre as sociedades de bocha da cidade. A cultura do entorno tem histórias maravilhosas. O outro é sobre navios que naufragaram na Baía de Paranaguá, como o Bororó e o Cormoran. E também do Solana Star, cujo conteúdo [latas cheias de maconha] veio parar nas nossas praias", diz.

Há outros projetos, como o sobre a migração das gralhas azuis e a história do instrumento de percussão cajón, que, segundo o diretor, passa por Curitiba.

Dalton

Uma terceira marca do cinema de Estevan é a proximidade com o escritor Dalton Trevisan. Além do carioca Joaquim Pedro de Andrade, que fez Guerra Conjugal (1974), Estevan é o único cineasta que teve autorização do autor para adaptar seus textos para o cinema.

"Era fascinado pela literatura dele e um dia, depois de uma peça do Ademar Guerra com os textos dele, o conheci na porta do teatro", conta. Segundo Estevan, Dalton "foi com a cara dele".

Desde então já foram três curtas-metragens, em formato digital, e dois em película, incluindo A Balada do Vampiro, codirigido por Beto Carminatti – que recebeu dois Kikitos no Festival de Gramado de 2007 –, além da animação A Gorda do Tiki Bar, em fase de pré-produção.

Groff redimido

Quando decidiu fazer um filme sobre a vida de João Baptista Groff (1897-1970), Estevan já tinha uma ideia na cabeça. "Decidi com a minha equipe que já que era para fazer um resgate da obra do João Baptista Groff, que iríamos colocar dentro do filme todo o material cinematográfico que ele deixou", revela.

Entre as entrevistas e o material de arquivo, o longa-metragem recupera os filmes mudos que o pioneiro deixou sobre a Revolução de 30 e a abertura das estradas no Norte do estado.

"É uma chance nova para conhecer o trabalho dele. É um filme para a posteridade. Daqui a 30 anos, quando se quiser saber quem foi o Groff, vai existir esse material."

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