
Pedro Almodóvar faz parte daquele grupo de cineastas capazes de despertar amor e ódio nas mesmas proporções. É o preço a pagar por quem tem talento suficiente para imprimir uma marca pessoal em seus trabalhos. “Julieta”, novo filme do diretor espanhol, chega aos cinemas brasileiros abalado por críticas negativas e desempenho fraco nas bilheterias. O mais curioso é que a produção tem tudo para decepcionar os fãs ardorosos e, quem sabe, agradar os detratores.
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Extravagante é uma palavra que se aplica bem à obra de Almodóvar. Seus filmes têm tramas altamente dramáticas, estética kitsch, personagens caricatos, às vezes passando perto, outras descambando para o exagero. É a assinatura do cineasta, que nessa pegada consegue fazer obras-primas como “Tudo Sobre Minha Mãe” e escabrosidades como “Os Amantes Passageiros”, seu filme anterior. “Julieta” não tem quase nada disso. É, em muito tempo, o filme mais sóbrio do cineasta.
A história é baseada em três contos da escritora canadense Alice Munro, vencedora do Nobel de Literatura de 2013. Suas obras são, em grande parte, protagonizadas por mulheres que vivem um cotidiano de rotina até que são abaladas por acontecimentos que as jogam para fora da zona de conforto. Talvez, o principal ponto de encontro entre as narrativas dela e de Almodóvar.
A protagonista que dá título ao filme é vivida por duas atrizes: Adriana Ugarte quando jovem e Emma Suárez, mais velha. É Emma quem abre a narrativa, mostrando uma mulher prestes a deixar Madri com o namorado rumo a Portugal. De repente, Julieta encontra uma jovem e ficamos sabendo que ela tem uma filha, a qual não vê há 12 anos. A partir de então, Almodóvar começa a desvendar o que levou a esse hiato.
Muitos dos temas recorrentes nas obras do diretor estão presentes: mulheres fortes, sexo, traição, morte, maternidade... mas sem o tom transgressor característico. Almodóvar optou por uma narrativa mais centrada, que até esbarra no melodrama, mas insiste em manter os dois pés no chão. O que pode ser motivo tanto de comemoração quanto de frustração. Vai do gosto do espectador.



