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Há casamentos profissionais que duram mais do que qualquer outra união civil. Um dos mais duradouros é o formalizado entre a atriz Catherine Deneuve o diretor André Téchiné, que já fizeram sete filmes juntos desde Hotel das Américas (1981). O mais recente deles é o drama O Homem Que Elas Amavam Demais, em cartaz em dois cinemas de Curitiba, inspirado em um caso criminal famoso na França, envolvendo uma jovem herdeira de uma rica família da Cote d’Azur, que desapareceu misteriosamente, nos anos 1970.

Deneuve interpreta Renée Le Roux, empresária do ramo dos cassinos, que inicia uma cruzada de três décadas para colocar atrás das grades o principal suspeito do crime, Maurice Agnelet (Guillaume Canet), ex-companheiro da filha e seu advogado, que tinha ligações com a máfia dos cassinos e que a levou à bancarrota.

O Homem Que Elas Amavam Demais

Filme de André Téchiné com Catherine Deneuve está em cartaz no Espaço Itaú às 14h30, 19h20, 21h40 e no Cinépolis às 13h15, 18h45.

Na entrevista a seguir, concedida durante o Festival de Veneza, a atriz de 71 anos descreve seu longo relacionamento com Téchiné e lembra outro importante diretor em sua vida, François Truffaut, cujos 30 anos de morte foram celebrados na França no ano passado.

O fato de o filme de Téchiné ser baseado em episódio e personagens reais interfere em seu trabalho de alguma forma?

No início, sim. A França inteira conhece o caso e o advogado que defende a família Le Roux. Mas depois a gente lê o roteiro e se dá conta de que se trata de uma ficção inspirada na vida daquelas pessoas, e começamos a trabalhar nele, a ensaiar e filmar aqueles diálogos que não tomam vantagem alguma da realidade. Então esquecemos rapidamente toda a ligação com o real.

Cineasta grego usa ambiente familiar para expor os absurdos do ser humano

É provável que após terminar de assistir Dente Canino (2009) – ganhador da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro – e Alpes (2011), filmes do cineasta grego Yorgos Lanthimos, você tenha alguma reação imprecisa.

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Este é o seu sétimo filme com Téchiné. Sente-se mais segura trabalhando com alguém que lhe é tão familiar?

Eu me sinto mais segura com ele, Téchiné, mas não com qualquer outro, em geral. Porque sei que, mesmo se formos numa direção errada, podemos tentar de novo, ele não me abandonará, não desistirá de mim. Sei que posso confiar nele, de verdade. Essa confiança entre nós é muito prazerosa. Há cenas em que não se precisa dizer nada um para o outro, porque já passamos por isso antes.

Téchiné a definiu com uma esfinge, porque a senhora guarda segredos para si. O que acha desse comentário?

Não sei o que dizer.. (risos). Eu o conheço muito bem, somos amigos há muito tempo, é um dos diretores mais próximos. Acho que ele se refere àquela parte de qualquer um que consegue permanecer fora de cena, atrás das cortinas. Isso é comum a qualquer pessoa, mesmo aquelas de que gostamos e de quem somos próximos.

Como se sente quando as pessoas se referem à senhora como “a grande dama do cinema francês”, “a rainha da sofisticação”?

São apenas apelidos. Não dou muita importância a esses títulos. Mas nenhum deles tem alguma relação com o modo como atuo. Talvez por eu estar no ramo há muito tempo. Essa história de sofisticação deve estar relacionada ao tempo em que usava vestidos do Yves Saint Laurent nas premières, muito tempo atrás, numa época em que não era comum atrizes usarem alta costura em eventos. Hoje em dia, muitas delas representam grifes profissionalmente. Mas, naquela época, eu vestia as roupas do Yves e fazia fotos com as criações dele porque ele era um amigo próximo, tinha um relacionamento com ele que ia além do profissional.

A senhora, inclusive, é citada no filme Saint Laurent (2014), de Bertrand Bonello...

Ah, é um filme fabuloso. Conta coisas sobre Yves que desconhecia, e outras que conhecia bem. Mas aquela sensação de revisitar um velho amigo está lá. O trabalho do (ator) Gaspard Ulliel é incrível. E o filme mostra bem como ele perdeu o controle da carreira nos anos 1970, apesar de ter Pierre Bergé, seu companheiro, como administrador de seus negócios.

A senhora lembra de algum momento decisivo na trajetória?

Quando fiz O Último Metrô [1980[, com François Truffaut [1932-1984]. Por causa da minha idade, na época: estava chegando aos 40 anos, que é um momento decisivo na vida de qualquer mulher, ainda mais na de uma atriz. Difícil construir aquele momento, não sabemos como dar continuidade à carreira, porque você não já cabe em determinados personagens e não sabe o que precisar mudar para conseguir um bom papel, e no momento certo.

Ano passado a França organizou vários eventos para lembrar os 30 anos da morte de Truffaut, e a senhora participou de alguns...

Já havia feito um filme com François antes, A Sereia do Mississippi (1969), que também foi importante dentro da minha trajetória. Mas ele escreveu o personagem em O Último Metrô especialmente para mim. Ele dizia que queria me dar “um papel com responsabilidades”, seja lá o que ele quis dizer com isso (risos). Ele foi muito importante para mim, porque amava cinema, conversávamos sobre filmes mesmo quando não estávamos trabalhando. Assistíamos a filmes juntos... O cinema francês sente a falta dele.

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