“The Founder” (‘Fome de Poder’) é um título curto. O filme, que estreia no dia 9 de março no Brasil, é sobre Ray Kroc, o homem que transformou uma loja de hambúrguer da Califórnia, originalmente chamada McDonald’s, em um império global — mesmo que o restaurante original nem tenha sido sua ideia.

CARREGANDO :)

Na verdade, Kroc coagiu os irmãos Dick e Mac McDonald, que tinham sonhado com o conceito de fast food e o tornado realidade. Em 1954, os McDonalds tinham uma loja popular de sanduíches em San Bernardino. Tudo estava dando certo, até que Kroc apareceu.

Publicidade

Ainda que tenha um clima suave, “Fome de Poder” é um filme para se sentir mal. O personagem principal é um homem com uma ética questionável que, mesmo assim, se dá bem fazendo coisas ruins para pessoas boas.

Dirigido por John Lee Hancock (“Um Sonho Possível” e “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”), a história baseada em fatos reais é montada habilmente. Michael Keaton interpreta Kroc, fazendo seu melhor para entregar carisma com um toque de maldade (repare nas sobrancelhas).

Milkshakes e autoajuda

A história começa quando Kroc, um vendedor de máquinas de milkshake, viaja por restaurantes de drive-in do centro-oeste americano apresentando seus produtos. Não é o primeiro esquema para ficar rico rápido que ele fez e, como outros, este também não está dando certo (outro desses esquemas envolvia a venda de uma mesa/banco dobrável). Ele está constantemente na estrada, visitando ocasionalmente sua esposa (Laura Dern) e se entretendo com áudios de autoajuda.

Com poucas vendas, ele fica chocado quando sua secretária conta que um restaurante fez um pedido de seis máquinas. Isso não poderia estar certo, ele imagina. Mas a realidade fica ainda mais improvável: quando liga para o lugar (McDonald’s), um homem responde que é melhor trazer oito máquinas. Kroc viaja imediatamente por metade do país para ver o que está acontecendo.

Mac McDonald (John Carrol Lynch) se mostra um tipo gregário e de grande coração, que apresenta para Kroc sua lanchonete animada e dá para ele um esquema de como os irmãos surgiram com a ideia de servir os clientes tão rápido quanto eles pedirem. Seu irmão Dick (um Nick Offerman sem barba), o mais esperto e desconfiado dos dois, era o gênio por trás da invenção.

Publicidade

Nenhum dos dois irmãos morde a isca quando Kroc retorna, pedindo que eles façam uma franquia. Os cuidadosos empreendedores se preocupavam com o controle de qualidade dos produtos. Mas quando o vendedor de fala rápida diz para eles “fazerem isso pelo país”, eles cedem — e encarregam Kroc de controlar a expansão.

Mac McDonald (o ator John Carroll Lynch), um dos fundadores da rede de restaurantes.
Michael Keaton no papel de Ray Kroc, o homem que transformou o McDonald’s em uma marca global.
Joan Smith (Linda Cardellini), a segunda esposa de Ray.
O diretor John Lee Hancock, ao centro, com os atores Michael Keaton e Mike Pniewski

Carrasco

Ainda que “The Founder” esteja repleto de reuniões de negócios e assinaturas de contratos, o roteiro (assinado por Robert D. Siegel, de ‘O Lutador’) deixa as coisas interessantes e empolgantes na maior parte do tempo. Conforme o filme se desenrola, porém, e o comportamento de Kroc se torna mais repreensível, o drama começa a se arrastar.

O filme também é um pouco indeciso, apresentando um retrato do Kroc que é ao mesmo tempo crítico e fraco. Quando o estresse de lidar com as táticas agressivas de negócio de Kroc manda Mac para o hospital, nosso herói — se é que podemos chamá-lo assim — aparece no quarto com flores e um cheque em branco. A desajeitada interpretação de Keaton é mais amorosa que inadequada.

Espectadores já se acostumaram com personagens desagradáveis. O anti-herói se torna interessante especialmente quando vemos o que faz dele tão carrasco. Mas ‘Fome de Poder’ não é tanto sobre um personagem quando é sobre o processo capitalista. O que devemos tirar de tudo isso? Deveríamos boicotar o McDonald’s? Isso parece estranho, dado que Kroc morreu em 1984, deixando a empresa na mão de outros (Mac McDonald morreu em 1971 e Dick em 1998).

No fim, ‘Fome de Poder’ é um lembrete, como se precisássemos de mais um, de que o vencedor leva tudo e de que integridade nem sempre é a chave do sucesso.

Publicidade