Jacques Tati ficou conhecido por criticar, em curtas e longas-metragens, a desordem provocada pela tecnologia em tempos de transição entre o antigo e o moderno com senso de humor. Em “PlayTime”, exibido no festival Olhar de Cinema, essa característica do cineasta se torna mais evidente. Em uma Paris marcada por novas tecnologias e arroubos arquitetônicos, o desajeitado Monsieur Hulot, interpretado pelo próprio Tati, passa por situações engraçadas, em um constante ir e vir, se perdendo pela cidade e esbarrando em pessoas nos mais diversos cenários e situações.
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O longa-metragem de 1967, considerado uma das principais obras do cineasta, levanta questionamentos sobre a modernidade exacerbada e sua característica impessoal. Os cenários e figurinos são, na maior parte do tempo, em monocromáticos tons cinzentos, com exceção de algumas nuances de cores fortes, que tornam a estética asséptica e fria do filme, forma como Tati enxerga a sociedade em constante mudança.
De uma forma só possível para Jacques Tati, “PlayTime” é um filme extremamente barulhento, mas com poucos diálogos entre os personagens. Durante toda a narrativa, o espectador é exposto a uma sequência de sons ambientes que foge dos padrões cinematográficos. Esse ruído na comunicação é proposital, parte da linguagem que o diretor delineou em todo o roteiro, por meio de personagens desconectados de uma realidade coletiva, em movimentos marcados, que lembram uma coreografia – característica marcante de Jacques Tati.
Para a realização do longa, Tati construiu uma inteira cidade do zero, que ficou conhecida posteriormente como “Tativille”, para poder representar os famosos pontos turísticos parisienses com detalhes que permitissem explorar a universalização provocada pela tecnologia. O cenário construído permite ao espectador conhecer a marcante estética que Jacques Tati busca em seus filmes, com uma exposição dos personagens como se cada cena fosse um olho mágico para dentro das vidas desconexas dos estereótipos representados na tela.
Serviço
“Au Delà de PlayTime”: 14/06 (dom), 18h30 – Itaú 1 (Shopping Crystal)
“Evening Classes”: 14/06 (dom), 18h30 – Itaú 1
“Forza Bastia”: 14/06 (dom), 18h30 – Itaú 1
“PlayTime”: 17/06 (qua), Cinesystem 5 (Shopping Curitiba)
Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia)
A homenagem prestada pelo Olhar de Cinema a Tati inclui a exibição de curtas. Na última quinta-feira (11), foram três. O primeiro deles foi o documentário “Forza Bastia”, em que Tati faz um registro do jogo da Copa da Uefa, que marcou a disputa entre o PSV Eindhoven, da Holanda, e o francês SC Bastia, em 1978 no Estádio Furiani. De um jeito muito característico, Tati mostra que os times podem ser muito diferentes entre si – uns melhores, outros nem tanto – mas que a figura do torcedor é igual em qualquer lugar do mundo.
Em “Evening Classes” é possível observar traços do humor comicamente desajeitado presente na maioria das obras de Tati. O curta ficcional mostra a rotina de um professor, interpretado pelo próprio cineasta, em uma turma do curso de Observação de Comportamentos. De forma única o diretor consegue expor os estereótipos que permeiam o ser humano e toda a graça que proporcionam quando analisados sob o ponto de vista social.
O curta que fechou a mostra na última quinta-feira foi o “Au Delà de PlayTime”, documentário que explora os bastidores do longa gravado por Jacques Tati. De forma descritiva, o registro permite uma reflexão da dificuldade que o diretor encontrou em produzir o longa. Por motivos financeiros e até mesmo por causa de alguns imprevistos climáticos, a produção durou pouco mais de três anos e a reação do público, na época, não agradou Tati. Para o diretor, as pessoas não foram capazes de entender a mensagem do filme. Quem quiser explorar o universo de Jacques Tati pode aproveitar as próximas exibições dos filmes, no domingo e na quarta-feira.
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