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Filmes de Nathan Silver mostram a força e a espontaneidade de personagens profundos em histórias comuns, com o diretor compartilhando a própria vida com o público. | Divulgação
Filmes de Nathan Silver mostram a força e a espontaneidade de personagens profundos em histórias comuns, com o diretor compartilhando a própria vida com o público.| Foto: Divulgação

Pactos que envolvem realidade e ficção – seus limites e interseções – dão sempre pano pra manga. Na literatura, notas biográficas tornam-se ingredientes para potenciais bons romances – pense no premiado “O Filho Eterno”, de Cristovão Tezza, para ficar por aqui.

No cinema, o documentário, tradicional gênero para contar “histórias de verdade”, ganhou outras dimensões nas mãos de gente como Eduardo Coutinho (“Jogo de Cena” é um exercício híbrido entre o real e o possível), e em “mockumentários” – ficção com linguagem de documentário – que vão do humor descarado a releituras de episódios clássicos da história.

Nathan Silver, cineasta independente dos EUA, foi um dos homenageados na 4.ª edição do Festival Olhar de Cinema, que acabou na última quinta-feira (18) depois de exibir 91 filmes.

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Num panorama geral, seus filmes demonstraram, por um lado, a força e a espontaneidade de personagens profundos em histórias comuns; e, por outro, a intervenção da realidade em sua obra ficcional. É que Silver, em alguns filmes, atua e contracena com a mãe, a namorada, amigos e outros “não atores.” Assim, compartilha publicamente parte de sua vida.

Para além dessa condição, há algo que parece guiar sua cinematografia: relações domésticas desconjuntadas. “Stinking Heaven” (2015) é um filme compulsivo, de baixo orçamento (mais real, portanto), e recheado de improvisos. Retrata uma comunidade de reabilitação de viciados em Nova Jersey, nos anos 1990. São personagens conflituosos que fogem de certo desespero contínuo – mesmo as sessões musicais são carregadas de angústia. A mãe de Silver aparece no filme, mas não diz uma palavra. Muitos de seus parentes participaram de comunidades alternativas na década de 1960: influências diretas.

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“The Blind” (2009) é o retrato de um relacionamento bruto. Em seu filme mais dramático e “escuro”, Marcus, arquiteto fracassado e deprimido, ignora a passiva Kate (nome de sua mãe), sua namorada. O filme é frio e desesperançoso. E tem um final explosivo.

No curta-metragem em preto e branco “Anecdote” (2008), Nathan explora o fracasso e a humilhação. Kate (de novo!) é uma estudante de Direito que falha no exame de ordem.

Perdida, a garota trabalha como empregada doméstica em diversas residências. Até que uma delas oferece algo (alguém) novo, em uma situação-limite.

Nathan faz, de repente, um inusitado paralelo entre a advocacia (suas falhas) e a poeira de todo dia.

“É a mesma sujeira”, diz o narrador a certa altura do filme, que não se passa em um só lar, mas alterna imagens entre eles.

Mostra

Nathan Silver foi homenageado na 4ª edição do Festival Olhar de Cinema, que terminou na última quinta-feira (18), em Curitiba. O evento exibiu 91 filmes, seis deles realizados por Silver.

Em “Exit Elena” (2012), Silver contracena com a namorada à época (Kia Davis), a mãe e amigos. Tecnicamente amador, o filme é a história de uma filha de imigrantes sérvios. Ela trabalha como cuidadora de uma idosa que parece não fazer mais parte da família. Kia estabelece uma relação forte com Kate (a mãe de Nathan), e sugere um relacionamento da moça com o filho desajustado (o próprio diretor). “Kitsch” de propósito, como disse Nathan Silver em conversa após o filme, “Exit Elena” pode ser, basicamente, uma comédia dramática sobre relações familiares. Mas, ao colocar pitadas reais e biográficas em casos supostamente ficcionais, Nathan cria outro cinema, incômodo porque nos reflete sem filtros.

Talvez por isso ele seja reconhecido como um dos cineastas independentes mais interessantes de sua geração.

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