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Thomas Cromwell (Mark Rylance), com arco e flecha, é o plebeu que conquista um lugar na nobreza. | Divulgação
Thomas Cromwell (Mark Rylance), com arco e flecha, é o plebeu que conquista um lugar na nobreza.| Foto: Divulgação

Imagine Francis Underwood com acesso à lista da guilhotina. “Wolf Hall”, assim como “House of Cards”, se baseia num personagem que cresce na política por meio de hábil manipulação.

Mas, nessa minissérie da BBC, a ambientação é o século 16, e um conhecimento prévio de história é ideal para seguir as evoluções da trama, quase toda baseada em diálogos sobre condes, duques e ladies que se multiplicam.

Uma boa dose de paciência e sossego interiores também são pré-requisitos para acompanhar as cenas de pouquíssima ação, mas algumas belas composições visuais.

O protagonista, Thomas Cromwell, é um filho de ferreiro que se forma advogado e acaba servindo primeiro um cardeal, depois o próprio rei Henrique 8.º. É, portanto, um plebeu em meio a nobres, e constantemente lembrado disso.

Sua ascensão se deve à capacidade de realizar acordos e convencer desafetos de seus amos, mas principalmente ao sangue-frio com que lida com os chiliques dos bem-nascidos, fazendo cara de paisagem que o ator Mark Rylance maneja muito bem.

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“Wolf Hall” tem apenas seis episódios por enquanto. Neles, estão condensados os dois primeiros volumes da trilogia que a escritora Hilary Mantel começou a publicar em 2009. O último livro deve sair neste ano.

Como é do conhecimento popular-histórico, Henrique 8.º foi o monarca que separou a Inglaterra da Igreja Católica para poder se divorciar e casar de novo – e de novo e de novo, até somar seis esposas e uma decapitação (da voluntariosa Ana Bolena).

A intrincada negociação para alcançar cada um desses intentos, tendo em mente a questão sucessória mas também as paixões do rei, contou com a habilidosa e discreta influência de Cromwell.

Na pena de Hilary Mantel, ele surge como um personagem ficcionalizado, o que causou a rejeição por parte de alguns historiadores: aparentemente, o Cromwell que efetivamente caminhou pelos gramados do palácio real em Greenwich era muito mais cruel, recorrendo à tortura quando desejava.

Já o romance e o seriado o apresentam como manipulador, mas com um alvo maior que era a defesa da causa protestante. E fidelidade sempre inquestionável a seus amos.

Wolf Hall

Todos os seis episódios da série estão disponíveis na Netflix.

A personalidade do rei, também um assunto de interesse histórico devido à fama de insegurança e imaturidade, é retratada com momentos de seriedade e outros de bufonaria.

Outro personagem bastante pitoresco que terá um fim trágico ao final desta primeira temporada é Thomas More, o autor também histórico da “Utopia”, que cai em desgraça por se opor ao divórcio e às novas bodas do rei – “the great matter of the king”, a “grande questão do rei”, como ficou conhecida. Seu prestígio decai à medida que o de Cromwell sobe.

Falando em pompa, os figurinos utilizados na produção são claramente inspirados em pinturas da época, com esmero nas mangas bufantes, decotes e tiaras usadas para a frente das orelhas. Na sonoplastia, a escolha é condizente com a lentidão com que os diálogos fazem a trama evoluir: o silêncio compõe boa parte das cenas, havendo música praticamente apenas quando há instrumentos sendo dedilhados em cena.

Os cenários inspiram a umidade do interior de palácios e vilas – Wolf Hall é o nome da residência de Cromwell. Quando os personagens saem ao ar livre, respiramos aliviados ao sol, felizes de encontrar um pouco de vida para além das maquinações sucessórias da monarquia.

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