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“Manchester by the Sea”, com  Casey Affleck (foto),  recebeu uma oferta de US$ 10 milhões da Amazon no festival Sundance, em janeiro. | Claire Folger/Divulgação
“Manchester by the Sea”, com Casey Affleck (foto), recebeu uma oferta de US$ 10 milhões da Amazon no festival Sundance, em janeiro.| Foto: Claire Folger/Divulgação

O inverno berlinense arrefeceu a fúria da Amazon e da Netflix. Após os dois serviços de demanda terem amedrontado distribuidores tradicionais com a compra milionária de filmes no Festival Sundance (EUA), em janeiro, as duas empresas frearam seus impulsos na Alemanha.

Com o Festival de Berlim chegando ao fim neste domingo (21) ainda não foi divulgado quanto empresas tradicionais e serviços de streaming desembolsaram nesta edição, mas a previsão é que os primeiros sairão melhor na balança.

“O mercado estava com um pé atrás. Parecia que Netflix e Amazon repetiriam aqui a voracidade de Sundance, mas isso não aconteceu”, diz Matthijs Wouter Knol, holandês que dirige o European Film Market – feira de negócios que ocorre durante a mostra e que é uma das mais importantes do mundo.

“Os distribuidores tradicionais, ao que tudo indica, agiram mais rápido e os serviços de streaming não foram dominantes.”

Briga de gigantes

No ano passado, a Amazon não havia feito uma aquisição sequer em Sundance; a Netflix só uma, por um documentário pequeno.

Em 2016, contudo, os serviços arrebanharam 12 filmes para os seus catálogos: seis cada um. Foram compras milionárias, o que causou um rebuliço de proporções cinematográficas no meio: temeu-se que distribuidores tradicionais, que fazem o meio de campo entre produtores e a cadeia exibidora, pudessem ser solapadas pelos gigantes do streaming.

As compras em Sundance causaram rebuliço no meio: temeu-se que distribuidores tradicionais pudessem ser solapadas pelos gigantes do streaming.

Por “Manchester by the Sea”, por exemplo, filme que tem Casey Affleck no papel de um homem que adota o sobrinho adolescente após a morte do pai, a Amazon ofereceu US$ 10 milhões.

A Netflix contra-atacou fazendo uma proposta de US$ 20 milhões pelo histórico “The Birth of a Nation”, sobre uma revolta de escravos na Virginia, em 1831. Apesar de não ter levado o filme, forçou a Fox, distribuidora tradicional, a aumentar o seu lance para US$ 17 milhões – valor que em outros tempos nunca seria pago por uma produção independente.

Mercados

O Festival de Berlim, o próximo das grandes vitrines de lançamentos, serviria como termômetro para a indústria. O que fez os serviços de vídeo sob demanda recuarem?

Para Knol, tem a ver com a diferença dos festivais: em Sundance, as vendas são mais informais e os filmes negociados são americanos, o que interessa mais às empresas de streaming. “Aqui na Europa há vários agentes e o mercado é mais formalizado.”

Diversidade de agentes e formalização do mercado Europeu explicam o recuo das empresas.

Pode haver outro elemento na equação: o desempenho medíocre de “Beasts of No Nation” (não confundir com o já citado “Birth of a Nation”): a ficção sobre meninos-soldados africanos gerou algum estardalhaço no ano passado após colher críticas elogiosas após sua estreia no Festival de Veneza e à estratégia da Netflix de lançá-lo em poucas salas de cinema nos EUA para depois torná-lo disponível na internet para o mundo todo.

Se o intuito era conquistar algumas indicações no Oscar ao exibi-lo num circuito restrito de cinema, a tática da Netflix não deu certo: o filme foi ignorado pela Academia e pode ter acendido o alerta na indústria como um todo: nada como um bom e velho lançamento tradicional nos cinemas para atrair a atenção das premiações.

“Isso não significa que o cenário não vá mudar. Temos que estar atentos ao que acontecer no Festival de Cannes para comparar”, diz Knol.

Cinema brasileiro

O Brasil entrou com uma delegação recorde nesta edição da Berlinale. Levou mais de 20 produtoras reunidas sob o guarda-chuva do programa Cinema do Brasil, mantido pelo sindicato do audiovisual paulista e pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos.

A entidade promove a produção audiovisual nacional num estande em Berlim.

“Sei que a situação econômica no Brasil não está boa e que só nos próximos meses é que as coisas ficarão claras para saber que rumo ela tomará”, afirma Knol.

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